O que vai acontecer com o Telecine após a compra pela Globo?
Globo adquire 100% do Telecine e gera dúvidas sobre futuro dos canais
Publicado em 14/11/2024 às 10:30,
atualizado em 14/11/2024 às 10:40
A aquisição total da rede Telecine pela Globo gerou dúvidas sobre o futuro dos canais no mercado de TV por assinatura. Com a saída dos estúdios MGM, Universal e Paramount da sociedade, a questão é como a Globo manterá o portfólio dos seis canais premium, além do Megapix, que faz parte do pacote básico. Por outro lado, essa mudança no Telecine ocorre em um momento em que há uma tendência crescente de assistir filmes por streaming, em detrimento da programação linear da TV paga.
O modelo de negócio atual do Telecine deixou de ser atraente uma vez que cada um dos grandes estúdios americanos passou a ter a sua própria plataforma. Assinar cada um desses serviços custa cerca de R$ 25, valor muito superior ao que a MGM, Universal e Paramount recebiam da TV por assinatura na joint venture da rede de canais, que existia desde 1991.
Isso ocorre porque, na divisão, os três estúdios recebiam 15,625% de cada assinatura, enquanto a Globo, como sócia majoritária, ficava com 53,125% do total recebido das operadoras de TV paga. Obter lucro sem divisão com as próprias plataformas se mostrou mais vantajoso.
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Além disso, há a questão da queda de clientes nas operadoras. De acordo com dados da Anatel, o país terminou setembro com 8,6 milhões de assinaturas de TV paga. Há 10 anos, o total era de cerca de 19 milhões na televisão paga. Em resumo, o faturamento vem caindo ano após ano.
A estratégia comercial dos Telecines começou a mudar a partir de 2011, com a chegada da Netflix ao Brasil e a popularização da internet banda larga. A Netflix parecia uma evolução das videolocadoras, oferecendo um valor fixo por mês para acesso ilimitado a filmes, séries, documentários e shows.
Netflix mudou os rumos do Telecine
Foi um divisor de águas. O consumidor passou a ter a opção de assistir a filmes na hora que quisesse, em casa, sem precisar mais esperar sua exibição na programação linear. Iniciou uma mudança no hábito de consumir filmes na TV.
O sucesso da Netflix provocou uma mudança de comportamento entre os maiores estúdios de cinema de Hollywood: Universal, Walt Disney, Warner Bros. Pictures, MGM, Fox (adquirida pela Disney em 2019), Paramount e Sony Pictures. Todos esses estúdios passaram a lançar suas próprias plataformas digitais, com exceção da Sony.
Neste cenário, no Brasil, a Rede Telecine tornou-se menos atraente para seus sócios do ponto vista financeiro, que começaram a direcionar os principais lançamentos do cinema para suas próprias plataformas de streaming, deixando o TC cada vez mais de lado.
Em 2021, a Paramount+ já estava presente no mercado brasileiro. No final de 2023, o estúdio Universal lançou sua plataforma de streaming e, em abril deste ano, foi a vez do MGM+. A Walt Disney Pictures, que fazia parte do Telecine, deixou a sociedade em 2022 para investir no Disney+.
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Conforme antecipado pelo NaTelinha, no segundo semestre deste ano aumentaram os rumores entre produtores sobre a saída da MGM, Universal e Paramount do negócio. No entanto, quando procurada pela reportagem há cerca de dois meses, a Globo negou a informação.
Com menos blockbuster em seu portfólio e para segurar aos assinantes, o Telecine passou a comprar mais filmes fora do mercado americano, como europeus, e baixou seus preços.
Os seis canais Telecines - Premium, Action, Touch, Fun, Pipoca e Cult - chegaram a ser negociados por R$ 39,90 e hoje é possível comprar por até R$ 9,90 em algumas operadoras.
Ainda não foram divulgados os valores da aquisição do Telecine pela Globo, nem qual será seu impacto no atual modelo de operação. Olhando para o futuro, o modelo atual do negócio do TC com sua programação linear de filmes parece datado.
A pista do seu futuro pode está no parecer do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) que aprovou a compra do Telecine pelo Grupo Globo sem ressalvas no início de novembro: “Como justificativa para a realização da Operação, as Requerentes explicam que ela permitirá à Globo a complementação dos seus serviços de VoD, razão pela qual o Grupo Globo tem interesse em manter o negócio do Telecine como única sócia”.
A leitura deste trecho pressupõe que o Telecine irá reforçar o catálogo do Globoplay. Como isso será realizado e o impacto dessa mudança na programação linear dos seis canais Telecine tornaram-se as grandes dúvidas no mercado.
Como única proprietária do Telecine, a Globo terá que adquirir os filmes blockbuster desses estúdios. Os contratos são em dólar, e o custo para manter a programação premium provavelmente aumentará. Atualmente, os grandes lançamentos do Telecine são filmes nacionais com o selo Telecine Productions, criado em 2008. Também pode ser um caminho.
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AcesseInício do Telecine na TV paga
No início da TV por assinatura no país, o Telecine foi criado em 1991 como uma aposta da Globosat, atualmente Grupo Globo, para competir com a entrada da HBO no Brasil, que havia fechado um acordo de exclusividade com o Grupo Abril, responsável pelo lançamento da TVA e que planejava a chegada da DirecTV.
Por 17 anos, o Telecine foi exclusivo dos assinantes da NET (atual Claro TV) e Sky, enquanto a HBO Brasil era oferecida pela TVA e DirecTV. Esse cenário mudou após uma avaliação do Cade, que concluiu que essa estratégia prejudicava a livre concorrência. Além disso, a Globo vendeu sua participação na NET e Sky e focou apenas na produção, deixando o negócio de distribuição de conteúdo. Estratégia que foi retomada com a criação do Globoplay em 2015.
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Posição da Globo sobre a compra do Telecine
A comunicação da Globo soltou um comunicado sobre a compra da rede Telecine. Confira:
“A Globo vai passar a ser a única controladora do Telecine, joint venture formada há mais de 30 anos que unia a empresa brasileira à MGM, NBCU, Fox e Paramount na configuração original. Criado em novembro de 1991 com apenas um canal de TV por assinatura, hoje o Telecine conta com seis canais de TV por assinatura, além do Megapix, e um serviço de streaming, reunindo um catálogo focado em cinema com mais de 2 mil títulos.
‘Com a aquisição total do Telecine, uma referência em curadoria de cinema, a Globo reforça seu papel como produtor e exibidor de conteúdo premium e mantém sua posição de vanguarda em filmes no mercado brasileiro, oferecendo uma experiência cada vez mais digital’, afirma Manuel Belmar, diretor de Finanças, Infraestrutura e Produtos Digitais da Globo.
A operação está em fase final de apreciação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), onde já foi aprovada e passa pela etapa de recursos."