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"A Regra do Jogo" promete tirar a teledramaturgia da caixinha

Estação NT


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João Emanuel Carneiro e Amora Mautner estão juntos novamente em "A Regra do Jogo" - Fotos: Divulgação/TV Globo

O final melancólico de “Babilônia”, seguido pela divulgação eufórica de “A Regra do Jogo”, não parece ser apenas uma fissura neste monumento chamado novela das 21h que a Globo criou para si.

A geleia geral que se tornou a trama mais recente de Gilberto Braga fez a emissora jogar os holofotes no novo trabalho de João Emanuel Carneiro, criador de “A Favorita” e “Avenida Brasil”, este o sucesso de 2012 que fez a emissora retomar a atenção do Ibope após várias tramas capengas e certa acomodação. Não por acaso os nomes do autor e da diretora Amora Mautner (a mesma de “Avenida”) eram repetidos à exaustão na divulgação.

Quem observar com mais cuidado para tal fissura verá não só a passagem do tempo. Ou seja, o veterano dando lugar, involuntariamente, ao calouro, mas o olhar diferente no qual o telespectador, ávido por uma ficção mais fragmentada e amoral, lança para o enredo à sua frente e este responde, como um espelho. Assim, a trama de “A Regra do Jogo”, que estreou nesta segunda-feira (31), é difícil de explicar em termos lineares.

Os personagens se movem em núcleos fluidos, se cruzando entre si sem revelarem imediatamente as teias que formam suas histórias. Tóia, a protagonista vivida por Vanessa Giácomo, confessa para a câmera o roubo do cofre da boate de sua patroa e mentora, Adisabeba (Susana Vieira), para ajudar a mãe adotiva Djanira (Cássia Kis Magro). A mesma boate na favela onde circula a golpista Atena (Giovanna Antonelli, candidata a vilã meme da temporada).

Alexandre Nero mal teve tempo de retirar a barba do seu Comendador em “Império” de Aguinaldo Silva e entrou, com bastante segurança, na pele de Romero Rômulo, advogado de ONG que recupera ex-presidiários com uma mão e alimenta a corrupção com a outra.

Carneiro tarimba aqui o seu estilo de mixar o melodrama com um recurso que lembra a literatura realista (da qual Gilberto Braga também era admirador): os personagens ambíguos e mesquinhos, a hipocrisia social, as instituições pouco confiáveis. O autor coloca a classe C ora depressiva ora exagerada, desmontando a estrutura encaixotada das novelas, geralmente dividida entre os ricos empresários e os suburbanos felizes.

Amora Mautner, por sua vez, colocou um freio nos diálogos atropelados que a consagraram em “Avenida Brasil”, optando pela câmera voyeur em torno das ações, aumentando a sensação de claustrofobia nos cenários.

O incômodo pode ser colocado na conta de Cauã Reymond, aparentemente interpretando o seu mocinho sombrio no piloto automático, de modo muito parecido com os seus trabalhos anteriores. As associações-clichês feitas através dos nomes literário-mitológicos dos personagens (Dante, Atena, etc.) também provocam certo cansaço no telespectador mais antenado.

Entretanto, “A Regra do Jogo” faz com competência a entrega de bastão no horário nobre, mesmo que se confundam estes limites entre a nova e a velha (?) forma de se fazer novela.

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Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há sete anos.

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