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O individualismo e as mudanças de paradigmas na TV

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Divulgação/TV Record

A mudança de Xuxa da Globo para a Record representou uma grande quebra de paradigma para a ex-Rainha dos Baixinhos. A começar pelo seu público, agora não mais formado pelos “baixinhos”, aos quais se acostumou.

O jeito infantilóide que Xuxa cultivou por 30 anos na emissora carioca é posto à prova em um programa que assumidamente é uma versão brasileira do consagrado "Ellen DeGeneres Show", atração norte-americana homônima de sua apresentadora.

Ellen é do tipo “sacudido”, pula no palco, dá cambalhotas, coloca convidados em saias-justas e interage com a plateia, nem sempre da forma politicamente correta. Talvez por isso Xuxa tenha postado fotos suas dando cambalhotas na praia. Testar a aceitação do público brasileiro ao estilo DeGeneres era fundamental para o que se propunha trazer de novidade.

O estilo “coroa descolada” de Ellen também seria uma transição menos traumática para a apresentadora brasileira, que sofre para conseguir sair dos seus “inhos” de mais de 30 anos.

E Xuxa estreou na Record sem trazer nada de novo por enquanto e, pior, nada relevante. Com um arrastado quadro em que a plateia deveria indicar se a fotografia que aparecia no telão era de Xuxa ou Ellen, deu mostras que, se não mudar, dificilmente manterá os 10 pontos da estreia.

Sonoplastia sofrível, muitas vezes, o silêncio constrangedor dominou a brincadeira, com Xuxa tentando cobrir o claro buraco. A razia de ideias também deixou um gosto amargo para quem esperava uma Xuxa que “chegasse chegando”, como prometido, apesar de sua boa condução e tiradas.

Mas a estreia de Xuxa fica em segundo plano quando se percebe o quanto a Rede Globo pode ser cruel e ingrata com pessoas que não fazem o que ela deseja.

A emissora proibiu seus artistas e funcionários de se pronunciarem acerca da estreia de Xuxa na concorrente. A mesma Xuxa que estava encostada há meses e que não tinha nenhum projeto aprovado na casa.

A loira cometeu o sacrilégio de deixar a emissora que a queria apenas para evitar que outras a tivessem. A Globo parece ser avessa à concorrência. Tem uma grande queda ao monopólio, não medindo esforços para inviabilizar o sucesso da concorrente.

O maior grupo de mídia do Brasil perde muito público com atitudes desse porte. Tanto que a Record, após ameaçar ir pelo mesmo caminho, acabou percebendo o erro estratégico e recuando.

Na comunicação do século XXI, ninguém é protagonista e todos são protagonistas ao mesmo tempo. Ignorar a concorrência é o ápice de uma arrogância que não combina com os tempos modernos, onde empresas concorrentes coexistem a ponto de lançar estratégias de marketing e empresas juntas.

O público do século XXI possui mais acesso a outras mídias, possui celular, computador, vê vídeos no YouTube e lê comentários no Facebook. Curte suas marcas favoritas e interage com elas de forma sadia nas redes sociais.

Marcas, mesmo de segmentos diferentes, se unem em prol de uma boa campanha de marketing, de um bom assunto. De uma boa parcela de público.

A Globo parece não perceber que não falar da concorrência não fará com que seus números subam, nem que a concorrência deixe de existir. Parece não perceber que, ao sabotar um evento por não ter os direitos, ameaçar um artista por este se apresentar em outra emissora e etc não fazem com que programas como “Tomara que Caia” se tornem bons.

Nos tempos de Boni, a Globo podia se dar ao luxo de ter uma cartilha conservadora e ignorar por completo a concorrência. Os tempos eram outros, não havia tanta mídia e a rede carioca reinava soberana, especialmente no período que antecedeu o surgimento do SBT.

Os tempos mudaram, até o Boni mudou, basta ver a postura de sua emissora no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, para perceber que ele, como excelente comunicador, compreendeu perfeitamente os novos rumos da comunicação moderna.

A Globo vem em rota decrescente de audiência, diminuiu em muito sua influência e conseguiu diversos desafetos apenas por conta de sua postura. E, convenhamos, qualidade por qualidade, já vimos que SBT e Record já não estão tão atrás quanto outrora.
 

Apaixonado por televisão, Helder Vendramini pesquisa e estuda esse meio há vários anos e é formado no curso de Rádio e TV. Aqui no site, busca fazer análises aprofundadas dos mais variados temas que envolvem a nossa telinha.

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