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Com crise na produção de bom humor nacional, "Chaves" se sobressai na TV

Coluna "Enfoque NT" analisa escassez de conteúdo humorístico no Brasil


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"Chaves", com mais de 40 anos da produção, ainda faz rir - Divulgação
O seriado “Chaves”, que completa 31 anos de exibição no Brasil em 2015, quem diria, segue sendo uma das válvulas de escape de telespectadores que buscam entretenimento sem nenhuma pretensão, aqueles que querem apenas sentar no sofá e dar risada.
 
Em pleno 2015, mesmo com a série tendo sido gravada há mais de 40 anos, ela ainda faz rir. Tem graça. Não precisa de nenhuma superprodução, apelação, piadas de duplo sentido nem nada do tipo. Dizem que os tempos mudaram e que uma produção assim não faria mais sucesso, mas o fato é que “Chaves”, ainda que esteja com uma imagem de qualidade questionável, consegue fazer aquilo que nenhum outro programa do gênero que tem estreado nos últimos tempos consegue: fazer rir. A premissa básica de um humorístico é essa.
 
 
É claro, elogiar “Chaves” por sua simplicidade, enumerar seus adjetivos e apontar todas as suas qualidades ficou comum. Todo mundo sabe que o seriado resistiu ao tempo e ainda é um produto de televisão competitivo no que tange a audiência, seja ele colocado em qual horário for, o dia que for. Sempre dará trabalho aos concorrentes. Que o diga Marcelo Rezende e seu “Cidade Alerta”, que vem enfrentando problemas com o Menino do Oito. Nesta segunda-feira (10), por exemplo, “Chaves” marcou 9 pontos de média contra 10 do policial. Encostado.
 
Aliás, nos últimos 15 anos, praticamente apenas “Chaves” deu certo naquele horário no SBT. E já foi tentado de tudo. Novelas, games, séries, desenhos e até Silvio Santos tentou alguma coisa com o extinto “Family Feud” em 2006, mas de nada adiantou, salvo exceções como folhetins como “A Feia Mais Bela” que registraram bons índices.
 
Escassez de conteúdo
 
“Chaves” ganha neste momento um destaque ainda maior por vivermos uma escassez de bons programas de humor, seja ele na Globo, Record, Bandeirantes e até no próprio SBT, que como produção própria, só tem “A Praça é Nossa”, o campeão de audiência da linha de shows da emissora, diga-se de passagem. Mas, a safra, no geral, para ser ruim, tem que melhorar.
 
Os produtos que a Globo vem estreando como “Tomara que Caia”  e a nova versão do “Zorra” são simplesmente deploráveis, que fazem chorar, mas não de rir. Um texto paupérrimo, e situações constrangedoras, embora o elenco não seja de todo mal, principalmente do “Tomara que Caia”. Mas, roteiro é tudo. E é tudo que a Globo não consegue fazer, um bom roteiro humorístico.
 
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A Band, por sua vez, está em decadência com o “CQC” e o “Pânico”, que há tempos apresentam um declínio notável de audiência e conteúdo. O segundo, aliás, a cada domingo que passa se cerca de apelações baratas, partindo para um exibicionismo desnecessário. Em nada lembra a sensação de 10 anos atrás que era tido como o melhor programa da televisão brasileira, não só humorístico.
 
Dinheiro não faz rir
 
Injetar milhões de reais numa produção não é garantia de sucesso. Dinheiro só faz rir, eventualmente, a quem o tem em demasia na sua própria conta bancária. Em televisão é outra coisa. O que falta são bons roteiristas. 
 
Entre a década de 1990 e início dos anos 2000, a Globo teve uma excelente safra de programas humorísticos como o “Sai de Baixo”, “A Diarista”, “Casseta & Planeta” (do tempo que aquilo era, de fato, um programa de humor), “Toma Lá Dá Cá”, dentre tantos outros que passaram pela grade do canal carioca. O que aconteceu com esse pessoal? Estão todos na rua? Morreram? A diferença é abismal. 
 
Enquanto isso, sem grande alarde, em meio a tentativas fracassadas das emissoras, não só abertas mas também por assinatura, em produzir conteúdo humorístico que só saíram pela culatra, “Chaves” segue sendo um dos melhores, ou porque não, o melhor do gênero na televisão aberta, ainda que com 40 anos nas costas.
 
 
Thiago Forato é jornalista, escreve sobre televisão há dez anos e assina a coluna Enfoque NT há quatro, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele: thiagoforato@natelinha.com.br  |  Twitter e Instagram: @tforatto
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