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"Babilônia" perde identidade e termina irreconhecível

A coluna "Enfoque NT" analisa mudança da novela das nove e erros na construção de personagens


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Trio de autores não teve a capacidade de virar o jogo - Divulgação

Nos primeiros teasers de “Babilônia”, e logo quando a sinopse e história foram chegando ao conhecimento do público, o que se esperava era um engajamento dos autores em fazer alguma coisa diferente. Em contar uma história pouco convencional e ter como premissa uma narrativa que poucos ousaram em utilizar.

A história de amor, como é tradicionalmente repetida pelos folhetins, deixaria espaço para o ódio entre as protagonistas Beatriz (Glória Pires) e Inês (Adriana Esteves). Densa, rodeada de personagens com caráter duvidoso. O ponto de partida seria esse, como de fato foi.

Mas, como é sabido, a rejeição foi imediata pelos elementos adicionados como troca de afeto em “exagero” do casal lésbico vivido por Nathalia Timberg e Fernanda Montenegro, e as vilanias em demasia por quase todos que fazem parte da trama. A dose de realismo surpreendeu o público e mudou os rumos de toda a história.

Estávamos para ver grandes atores como Marcos Pasquim e Herson Capri darem uma reviravolta em suas carreiras com papéis jamais vividos em nenhuma outra novela. O primeiro, de garanhão a um homossexual, e o segundo, de executivo rico a um perigoso traficante do Rio de Janeiro... Tudo isso não passou de frustração para quem torcia por papeis diferentes, o que certamente deve ter frustrado os próprios atores.

Pasquim retomou o seu clássico personagem sedutor e Capri, como sempre, anda engravatado e sem uma relevância dentro da história como previsto.

O excesso de autores (Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga) e colaboradores contribuiu para que a trama inicial fosse espremida a tal ponto de “Babilônia” chegar a ser outra novela completamente diferente daquela que estreou em março.

A amargura dos vilões deu vez ao açúcar batido a alguns personagens como o de Sophie Charlotte, que se transformou em mais do mesmo: mocinha ingênua e sofrida, quando os planos para ela eram completamente outros.

Pressionados, os novelistas recuaram e não acreditaram naquela história que poderiam ter contado, e da maneira como imaginavam. É como se o trio (Gilberto, Ricardo e João Ximenes) tivesse deixado de escrever “Babilônia” e jogado a toalha.

A rejeição existiu, e a audiência é importante. A falta dela faz cabeças rolarem, mas o desespero e a ausência de criatividade dos autores fizeram “Babilônia” se transformar numa bizarrice digna de pena. Texto pueril, situações mirabolantes e reviravoltas de fazer inveja a programas como o “Zorra”, tamanha forçação de barra, como Beatriz ter se transformado numa desmilinguida apaixonada frente a um rapaz mais jovem.

Alguns quesitos realmente precisavam de ajustes, como o logotipo e a fotografia, mas daí a transformar o que tinham em mãos num absoluto “samba do afrodescendente insano”, francamente, beira o patético. Alguns roteiristas tem a audácia e a capacidade de virar a novela do avesso de maneira convincente, mas este não foi o caso.

A construção de alguns personagens tem uma séria crise conceitual e o público simplesmente não consegue se identificar. Rejeita.

Da novela que estreou em março para aquela que termina daqui algumas semanas, restou apenas o título. E que venha "A Regra do Jogo", de João Emanuel Carneiro.


Thiago Forato é jornalista, escreve sobre televisão há dez anos e assina a coluna Enfoque NT há quatro, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele: thiagoforato@natelinha.com.br  |  Twitter e Instagram: @tforatto

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