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"Babilônia" e "O Dono do Mundo" são o outro lado da mesma moeda; entenda

Estação NT


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Divulgação/TV Globo

Em sua polêmica entrevista ao jornal O Globo há algumas semanas, na qual falava sobre o fiasco de sua novela “Babilônia”, Gilberto Braga relembra que o seu caminho como autor teve mais momentos no divã do que os aplausos, plumas e paetês dignos de “Dancin’ Days”.

Citando a trama de “O Dono do Mundo”, exibida originalmente em 1991 e cuja reprise no canal pago Viva terminou na última sexta (12), Braga reafirmou a rejeição do público à novela na época, e que a escreveu em estado de depressão.

A frase não é exagero. “O Dono do Mundo” enfrentou a concorrência da novelinha infantil “Carrossel”, exibida pelo SBT, além das acusações de ser “pesada” e “imoral”, graças à sua história central que apresentava o cirurgião Felipe Barreto (Antônio Fagundes) seduzindo a ingênua e recém-casada Márcia (Malu Mader) apenas para ganhar uma aposta, sendo a vingança da mocinha o conflito que desenrola o restante do enredo, no qual orbitam cafetinas de luxo, socialites decadentes e suburbanos sangue bom. Nada muito diferente de “Babilônia”, no ar desde março deste ano.

Os problemas de ambas as tramas também não fogem à regra: mocinhos e pares românticos sofríveis - tanto Camila Pitanga na trama atual quanto Malu Mader em 1991 e seus respectivos pretendentes ficaram à deriva na história -, personagens que mudam ao sabor das preferências do espectador − Sophie Charlotte em “Babilônia” e Letícia Sabatella em “O Dono do Mundo” deixaram de ser garotas de programa – sem falar dos dedos na ferida que tiveram de ser suavizados, como o tabu da virgindade da protagonista nos anos 90 e o da homossexualidade das personagens de Fernanda Montenegro e de Nathalia Thimberg agora em 2015.

Na mesma entrevista, o autor citou os resultados da pesquisa de opinião sobre “Babilônia” realizada pela Globo e, sem surpresa, os adjetivos “pesado e imoral” se repetiram.

Por outro lado, as habilidades de Braga e de Dennis Carvalho (diretor em ambos os trabalhos), não passam despercebidos. Os diálogos afiados, a agilidade das cenas, a abordagem de assuntos sem maniqueísmo, incluindo o jogo de interesses que movem a sociedade brasileira.

Na balança das diferenças e semelhanças, o fato que mais chama a atenção é o efeito do tempo sobre “O Dono do Mundo”. A sua reprise, segundo dados na imprensa, aumentou a audiência do Viva em sua faixa vespertina. A percepção do público mudou ou é mero saudosismo? Como “Babilônia”, que tanto tem em comum, nos erros e nos acertos com a trama de 24 anos atrás, não consegue ter a mesma identificação por parte da sua audiência?

No caldeirão que abraça “O Dono do Mundo” e rejeita “Babilônia”, há, por um lado, o aumento do acesso à televisão por assinatura, o revival dos anos 90 pela atual geração adulta, o gosto do público moldado pelas recentes séries americanas e a curiosidade destes mesmos espectadores pelos temas ditos liberais do passado (vilões que se dão bem e etc.). Por outro lado, existe a nova onda do conservadorismo religioso e a concorrência das novas mídias, ou seja, uma era dos extremos de dar inveja a qualquer sociólogo.

Pode ser que o último capítulo politicamente incorreto, no qual Felipe Barreto dá uma piscadela cúmplice para a câmera enquanto engana outra virgem, explica o avesso da moeda que sustenta esse novo espectador: para condenar o que vê em um canal, ele precisa se identificar com o aquilo que vê em outro. Sendo “imoral” ou não.  
 

Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há sete anos.

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