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Bela produção, minissérie "Amorteamo" coloca a vida inseparável da morte

Estação NT


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Tão antiga quanto a ficção, o laço estreito da paixão com a morte já é entregue no título de “Amorteamo”, minissérie de cinco episódios que estreou na Globo nesta sexta-feira (08), após o "Globo Repórter", deixando clara a mensagem: a véspera do fim de semana será reservada ao biscoito fino da programação. 
 
Pois é esse o adjetivo que se encaixa na nova produção, capitaneada por uma equipe ousada, a saber, Guel Arraes, Cláudio Paiva e Newton Moreno no roteiro e Flávia Lacerda, cria de Luiz Fernando Carvalho, na direção.
 
A referência ao diretor de “Meu Pedacinho de Chão” não é gratuita. “Amorteamo” se ancora no seu estilo que dialoga com múltiplas linguagens. Difícil não reconhecer as suas assinaturas visuais nos cenários artesanais, na câmera em ângulos inusitados, nos figurinos extravagantes (aqui feitos por Cao Hamburguer) e na mistura de épocas, aliando o arcaico ao moderno.
 
Baseada em um triângulo amoroso no limite entre a realidade e o sobrenatural, a minissérie acompanha o nascimento de Gabriel (Johnny Massaro), gerado, literalmente, no gozo e na morte. Seu pai (Daniel de Oliveira) é assassinado no momento em que é flagrado com a amante (Letícia Sabatella), esposa de um senhor de engenho (Jackson Antunes). A partir daí, se desenrolam as características típicas das tragédias. Gabriel se apaixona pela própria meia-irmã, Helena (Arianne Botelho), e entra no casamento arranjado com a mórbida Malvina (Marina Ruy Barbosa).
 
 
As referências explodem em cada canto de “Amorteamo”. O Romantismo gótico, o cinema alemão dos anos 30, a literatura de cordel, as narrativas regionalistas sombrias de José Luís do Rego, o teatro de Shakespeare e de Ariano Suassuna (o próprio Guel Arraes disse em entrevistas ter se baseado em lendas nordestinas para compor o roteiro).
 
A fotografia escura sugere que morrer pode ser um ato cotidiano, mais presente do que o próprio amor, e o enredo, extremamente ágil, e que exige atenção absoluta do espectador para entender as ligações entre os personagens, assim como as suas reviravoltas, exibe a união entre a vida e o seu fim através de cenas de suicídio, nascimento, sangue e sexo, perfeitamente encaixadas na história, mas com poesia e sugestão, sem agressividade.
 
O único porém seria o sotaque dos personagens, que de tão naturalista, compromete o entendimento dos diálogos em algumas cenas.
 
Ao levar ao ar um produto tão bem trabalhado em dia e horário ingratos, a Globo parece afirmar que o seu público não entende os temas tão universais explícitos no título “Amorteamo”.
 
 
Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há sete anos.
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