Colunas
"Alto Astral" cumpre sua missão, eleva horário e deixará saudades
A coluna "Enfoque NT" analisa a trajetória da novela
Por Thiago Forato
Publicado em 08/05/2015 às 21:37
Chegou ao fim nesta sexta-feira (8), a novela “Alto Astral”, que teve sinopse elaborada por Andrea Maltarolli, falecida em 2009 em decorrência de um câncer. A missão de desenvolver todo o folhetim ficaria a cargo de Maria Adelaide Amaral, mas acabou indo parar nas mãos do iniciante e competente Daniel Ortiz.
Com muito humor, leveza e romance, Ortiz conseguiu conduzir a história de maneira brilhante mesmo que com um período de barriga entre meados de dezembro e janeiro. Naquela altura, a novela andava em círculos com as maldades de Marcos (Thiago Lacerda) com Samantha (Cláudia Raia) – quando estava ainda era vilã-, contra Laura (Nathalia Dill) e Caíque (Sérgio Guizé).
A história central empacou e as paralelas começaram a ganhar força dentro da trama, que acabou por introduzir muito humor e reviravoltas surpreendentes. De janeiro pra cá, “Alto Astral” se reencontrou, elevou a audiência e desde o fim de “Império” se tornou o carro-chefe da programação noturna global, sendo não raras as vezes, seu produto de maior audiência diária.
O grande vilão
Esse foi o grande papel de Thiago Lacerda em sua carreira nos últimos anos, e talvez até, de fato, o seu trabalho mais notório na televisão, mesmo com outros sucessos no currículo. Sua faceta de vilania foi mostrada na pele de um médico sem escrúpulos altamente convincente.
Nesta semana, sua capacidade de atuação foi colocada a prova com a máscara de Marcos caindo diante de todos aqueles que ele tentava enganar numa cena de tirar o fôlego, em meio a sala da mãe Maria Inês (Christiane Torloni).
Depois de viver tantos mocinhos, Thiago não deixou qualquer dúvida de sua competência também como antagonista de uma história.
Sem invenções
“Alto Astral” foi antecedida por dois fracassos na dramaturgia da Globo. “Além do Horizonte” e “Geração Brasil” que pecaram por fugir do tradicional folhetim que o público gosta e quer ver. A audiência afundou, e coube à Daniel Ortiz tentar juntar os cacos de toda a audácia que os outros autores tiveram.
A novela apostou naquilo que qualquer telespectador de telenovelas não dispensa: uma história de amor. Simples assim. “Alto Astral” não só teve isso como tema central, mas também acrescentou outros ingredientes como o espiritismo para explicar o amor de outras vidas e convencer quem assiste de que a história protagonizada ali já fora vivida em outra encarnação. Um contexto mais amplo.
Espiritismo
Um tema bastante retratado em outras novelas da Globo, e que tiveram grande sucesso como “A Viagem”, “Alma Gêmea” e mais recentemente, “Escrito nas Estrelas”, dentre outras, foi também mostrado em “Alto Astral”, mas com outra perspectiva, puxando para o lado mais humorístico com o intuito de tornar a novela mais leve.
No entanto, demorou a engrenar. Caíque levou dois meses para aceitar sua mediunidade e essa história começar a ser contada. O que talvez o autor não esperava, é que esse fosse um núcleo com uma aceitação altíssima, o que levou a explorar este universo ainda mais.
A começar pelo espírito de Bella (Nathália Costa), filha de Caíque com Laura. Presente desde o primeiro capítulo, sua missão era juntar os pais para que ela pudesse nascer. Além deste, outro espírito bastante atuante em todo o folhetim foi o de Castilho (Marcelo Médici), amigo de Caíque em vidas passadas. Sua missão era a de ajudar pessoas com o seu o dom, o que conforme disse, demorou a acontecer.
Búu
Falando nisso, não é necessário fazer muito esforço para perceber porque a novela se chamaria “Búu”. A quantidade de fantasmas foi aumentando conforme as histórias se desenrolavam e mais personagens iam se descobrindo médiuns.
“Tô oca, sabe?”
Um dos pontos altos de “Alto Astral” foi, sem dúvida, a participação de Samantha Paranormal e seu assistente peruano Pepito (Conrado Caputo). De uma vilã que se aliou à Marcos no início, o autor rapidamente percebeu seu poder de descambar de vez para outro núcleo e fazer o público rir.
Foram cenas impagáveis e divertidíssimas da dupla, que os colocaram como num “mundo paralelo” dentro da própria novela. Uma história própria, só dos dois, como na passagem que vão à Maktub (país fictício do Oriente Médio) e aprontam todas por lá.
Os bordões e trejeitos de Samantha e Pepito foram uma válvula de escape importantíssima para “descarregar” as maldades insanas e desmedidas de Marcos.
Mais humor, por favor
A família Pereira foi outro grande acerto de “Alto Astral”. Manuel (Leopoldo Pacheco) e Tina (Elizabeth Savalla) com seus filhos de nomes nada convencionais, Israel (Kayky Brito), Afeganistão (Gabriel Godoy), Bélgica (Giovanna Lancelotti) e Itália (Sabrina Petraglia), adoçaram a novela com bastante leveza com suas próprias histórias paralelas, e não menos importantes.
Giovanna, aliás, é necessário dizer, amadureceu como atriz e foi bastante segura durante toda a trama.
Clichês
Muitos podem questionar a quantidade de clichês de “Alto Astral”, como a busca da protagonista pela mãe biológica ou da rivalidade entre irmãos brigando pelo coração de uma mesma mulher, mas a verdade é que a novela selecionou um elenco de uma qualidade inquestionável em papéis na medida.
“Alto Astral” apenas vendeu o que o público queria comprar. Público este que não encontrava um produto destes na prateleira das 19h há anos e recompensou todo o esforço desta produção com audiência.
Thiago Forato é jornalista, escreve sobre televisão há dez anos e assina a coluna Enfoque NT há quatro, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele: thiagoforato@natelinha.com.br | Twitter e Instagram: @tforatto
MAIS LIDAS
NOTÍCIA EM DESTAQUE
Mais Notícias
Disputa inédita na TV