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"JN" repete erro do "Fantástico", mas também tem chances de se adaptar

Território da TV


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Fotos: Reprodução

O “Jornal Nacional” estreou um novo cenário na última segunda-feira (27) sem repetir a pompa com que lançou a novidade anterior, em 2009.

Na ocasião, o espaço foi apresentado em detalhes pelos apresentadores antes da escalada. Agora em 2015, a novidade entrou no ar repentinamente e foi sendo descoberta apenas conforme seu uso.

De repetição, somente a do afobamento que marcou a estreia do cenário do “Fantástico” há exatamente um ano. Naquele dia, assim como o “JN”, o formato da atração também sofreu mudanças com a chegada do novo espaço.

O problema de ambos é que as inovações foram incluídas de forma repentina e conjunta. Ou seja, de cara, mais assustam do que atraem o público.

No “show da vida”, diversos detalhes foram sendo atenuados com o passar do tempo, como a presença de “fanticons” na tela e a exibição de detalhes das reuniões de pauta. Hoje, o programa passa por uma fase mais estável justamente por focar no que lhe consagrou: as grandes reportagens.

No “JN”, isso equivaleria a se prender menos em conversas e links quando dispensáveis e se prezar a seguir como o grande painel que resume as notícias do dia no Brasil e no mundo. É uma questão em que a alteração da linguagem pesa mais que a do conteúdo.

É excelente que William Bonner e Renata Vasconcellos possam conversar, por exemplo, com Carol Barcellos e Clayton Conservani, presentes no Nepal após o terremoto, de forma mais informal, podendo colher detalhes que passariam batidos numa entrada mais padronizada.

Mas é desnecessário dedicar a estrutura e o tempo de um link para mostrar como o Japão (que não foi afetado pelo terremoto do último final de semana) se protege de tremores, por exemplo.

A informalidade pode ser diluída em detalhes e comentários quando pertinentes. O principal é que seja, de fato, natural. Teatralizar espontaneidade é função para “Malhação”.

Bonner, Renata e a equipe têm todo o talento para irem se ajustando ao novo e inédito modelo. Afinal, nunca antes se havia caminhado durante o “JN”. Assim, é até natural que demonstrem uma certa afobação, por mais experientes que sejam.

Mas assim também fica claro que a dose de novidades injetada foi maior que a de “remédio” que o noticiário precisava para ter um ar de renovação. O movimento de câmera, por exemplo, atrai a atenção do telespectador no âncora. Mas repetido em todas as dezenas de “cabeças” ao longo da edição perde totalmente o seu impacto.

A parcimônia para o uso dos novos “brinquedos”, como os gigantescos telões em que são projetadas as imagens, é o principal desafio de adaptação do “JN” para os próximos dias.

Sorte (e azar)

Carol Barcellos e Clayton Conservani não são correspondentes internacionais e nem mesmo foram enviados ao Nepal para a cobertura de uma tragédia, mas o destino os colocou diante de uma situação que pode ser vista sob as mais diversas óticas.

Eles foram a primeira equipe internacional a entrar ao vivo da capital da Katmandu e ainda tiveram o privilégio de conferir pontos que o mundo hoje vê apenas como destroços.

Porém, claro, um terremoto de grandes proporções certamente não estava previsto no roteiro, por mais radical que pudesse ser a aventura planejada. Assim, é louvável o trabalho que vem desenvolvendo.

Nota especial para Carol, criticada por uns por demonstrar seu susto com um dos abalos secundários, tal qual Cecília Malan foi em janeiro quando ficou no meio de um ataque terrorista na França.

A atitude absolutamente humana de ambas em retratar as emoções sem esquecer de servir como olhar brasileiro em locais de destaque mundial é digna de aplausos, isso sim. Apenas retrataram o que, de fato, viveram. E assim deram uma real noção da situação que enfrentavam.

Nacional?

Na segunda-feira, quando o “JN” entrou no ar, pelo menos 11 mortes já estavam confirmadas no temporal em Salvador, ocorrido na manhã daquele dia. Ou seja, tempo suficiente para um amplo conteúdo ser gerado para a edição.

Já nos Estados Unidos, os protestos na cidade de Baltimore não deixaram vítimas fatais e ocorreram apenas no final da tarde. Entretanto, consumiram quase 4 minutos da edição, enquanto o drama soteropolitano foi alvo de apenas 1 minuto e 20 segundos.

Você nunca tinha ouvido falar de Baltimore nesta semana? Não é desinformação. A cidade, que fica na região de Washington, tem cerca de apenas 600 mil habitantes. Ou seja, pelo menos quatro vezes menos pessoas moram lá do que na capital da Bahia.

Em resumo, Baltimore passa longe de ser um grande centro estadunidense. Além de que manifestações pela questão racial já ocorrem há meses e ainda devem prosseguir na terra de Obama, enquanto desastres climáticos em território brasileiro na casa da dezena de mortes são bem raros.

O próprio tornado em Xanxerê, interior de Santa Catarina, e que ganhou destaque na mídia há pouco mais de um semana, deixou “apenas” duas vítimas fatais.

 
No NaTelinha, o colunista Lucas Félix mostra um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira.

Ele também edita o https://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)

 

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