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Especial mostra como a Globo e os fatos dos últimos 50 anos se misturam

Território da TV


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Divulgação/TV Globo

Era a intenção. E os especiais do cinquentenário da Globo, de fato, conseguiram despertar a memória afetiva dos telespectadores e envolvidos em os organizarem. Não foram recordados somente programas, mas trajetórias de vida de quem os fez ou os assistiu.

A festa, convenhamos, foi mais acanhada do que poderia. Afinal, os 40 anos tiveram programas específicos para diversos ramos da emissora e os 450 anos do Rio, há poucos meses, renderam séries em praticamente todos os telejornais de rede.

Dessa vez, a comemoração foi menor do que poderia, mas toda descarregada em faixa nobre. E põe nobre disso. 20 minutos diários por 5 dias no “Jornal Nacional”, uma edição do “Globo Repórter” e um espaço de 90 minutos sem intervalos após a novela das 21h.

A reunião de 16 grandes jornalistas no “JN” abrangeu todas as áreas. De especialistas em internacional como Ilze Scamparini aos destacados por conhecerem o Brasil como Francisco José, passando pelo cinegrafista Orlando Moreira, por Tino Marcos e Galvão Bueno representando o esporte e até Fátima Bernardes e Pedro Bial, que não tem o jornalismo em suas rotinas há algum tempo.

É claro que ao se falar de uma seleção tão restrita, nomes de peso ficaram de fora, mas foram devidamente lembrados ao longo dos VTs, assim como aqueles que já faleceram ou deixaram a emissora. Celso Freitas, Marcos Hummel, Ana Paula Padrão e Carlos Nascimento foram alguns dos que não passaram em branco na série.

Sem precisar fazer malabarismos para apagar pontos incômodos, o especial fez até ao contrário. Muitas vezes dedicou praticamente todo o tempo reservado para certos temas em prol de esclarecimentos internos, como sobre os assumidamente equívocos na cobertura das Diretas Já, no apoio editorial do golpe militar de 1964 e a edição do debate de 1992 entre Lula e Collor.

Todos esses erros, diga-se, já eram assumidos há alguns anos por figuras importantes da história global e pela própria “pessoa jurídica” através do seu site. Ecoaram mais agora por serem “redimidos” em simultâneo para uma plateia de milhões e na voz de William Bonner.

Aliás, falando em voz, é impossível não constar a excelente sacada que foi trazer Sérgio Chapelin e Cid Moreira para a bancada do “JN” na última sexta-feira (24). A dupla que é sinônimo do noticiário conduziu a apresentação por mais da metade da edição, assumindo os lugares de Bonner e Renata Vasconcellos.

Foi a deixa para um turbilhão de memórias de quem passou até décadas ouvindo o “boa noite” de Cid e teve a chance de o presenciar novamente no mesmo posto. Mas muitos que nem mesmo o tinham visto na bancada também conseguiram sacar a historicidade do momento.

Uma rara demonstração de respeito aos profissionais históricos nesses tempos em que eles, mais caros, são facilmente descartados das emissoras. Aliás, apesar de Cid não narrar mais as aberturas do “Fantástico”, vale lembrar que Chapelin segue com seu “Globo Repórter”, Léo Batista e sua “voz marcante” narram os gols em todas as rodadas e Sandra Passarinho está na ativa como se a Revolução dos Cravos tivesse sido ontem.

Ou seja, pelo menos no jornalismo, a experiência segue pesando bem para a construção de um time de peso como o que a Globo tem. E que consegue se interligar aos fatos de uma maneira como se um jamais ocorresse sem o apoio do outro.

Afinal, o quarto título mundial de futebol teria o mesmo gostinho sem ser o “tetraaaaa” de Galvão Bueno? Como veríamos o cotidiano do Vaticano senão pelo olhar de Ilze Scamparini?

Aliás, foi dela que veio uma das melhores histórias de bastidores, dentre as poucas permitidas pelo tom mais impessoal do especial. No enterro do papa João Paulo II, a jornalista teve de narrar os fatos ao vivo da Praça São Pedro. Ou seja, precisava olhar para a câmera. Mas ligada também emocionalmente ao pontífice após tantos anos “na cola” dele, não queria perder a cerimônia. A solução? O hoje diretor-geral da Central Globo de Jornalismo Ali Kamel, um dos poucos credenciados com as mãos livres naquele espaço disputado por TVs de todo o mundo, segurou um espelho para que Ilze não perdesse nenhum momento do que ocorria por trás dela.

Outro “causo” mais conhecido é o de que Tino Marcos foi “usado” como assistente de câmera na final da Copa do Mundo de 1994. É assim que ele conseguiu entrevistar os campeões ainda em campo, após ter rapidamente se desfeito do equipamento que o disfarçava e conseguido driblar a segurança.

Em 1998, ele foi escalado para repetir o papel, mas dessa vez como câmera. Até que focalizou o técnico Zagallo por toda a partida, mas o final do jogo não permitiu ali a repetição do feito de quatro anos atrás.

Mas falando em esporte, o foco já é no futuro, especialmente na cobertura da Olimpíada, que terá várias novidades. Entre elas, uma anunciada no “Globo Repórter”, a mesa tática para outros esportes, que já estreou ontem com o vôlei na final da Superliga.

Afinal, o futuro já começou. E podemos imaginar que se vamos seguir associando os fatos dele com uma marca no Brasil, essa será a da Globo.
 

o NaTelinha, o colunista Lucas Félix mostra um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira.

Ele também edita o https://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)

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