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Clichês e atuações fracas comprometem superprodução de "Os Dez Mandamentos"

Estação NT


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Reprodução

Os Dez Mandamentos”, o novo folhetim da Record ou como ela gosta de frisar, “a primeira novela bíblica do mundo”, é, de fato, cheia de superlativos.

Produção mais cara da emissora, com cenas gravadas em Israel e Egito, e cobrindo mais de cem anos de eventos do Antigo Testamento (adaptação feita pela roteirista Vivian de Oliveira, que já trabalhou em outros enredos bíblicos para o canal, como “Rei Davi”), a novela, que estreou na última segunda (23), resgata o projeto da Record em investir pesado na teledramaturgia.

Ao apostar em uma história já conhecida do cristianismo, a Record tenta se opor a suposta amoralidade das tramas da Globo, campanha que se tornou mais explícita após a estreia de “Babilônia”, com direito a pedidos nas redes sociais de boicote à novela global.

Nessa roleta-russa, a saga do profeta Moisés (interpretado aqui por Guilherme Winter) está na vantagem, com o seu Ibope incomodando a concorrente. Fato que pode ser motivado pela simplicidade na qual “Os Dez Mandamentos” se guia, apesar de algumas cenas caprichadas dirigidas por Alexandre Avancini.

Em termos visuais, a trama segue a cartilha de focar nos cenários para contextualizar o espectador sobre as ações e os personagens. O deserto, mostrado em ângulos grandiosos, é dos judeus, enquanto os palácios de mármore são dos egípcios. O enredo entrelaça bem os dois núcleos onde o protagonista futuramente vai viver, até peregrinar com os seus conterrâneos pelo deserto.

Os vários personagens da história são apresentados sem pressa, cumprindo as suas funções como tipos milenares. Joquebede (Samara Felippo), a mãe de Moisés, é a típica sofredora que protege as crias, o faraó (Zécarlos Machado) é autoritário e sábio, o profeta será um homem virtuoso e etc. Uma adaptação bem comportada e agradável aos olhos, entretanto, é nos detalhes que “Os Dez Mandamentos” sai dos eixos.

Talvez na pressa de tornar a trama palatável, o texto de Vivian de Oliveira usa em excesso expressões modernas, além de abusar dos clichês narrativos, como as tropas do faraó que não conseguem encontrar Joquebede em um esconderijo óbvio, além de, por descuido da produção, a realeza egípcia usar maquiagem do século 21, incluindo aí esmaltes azuis. Na mesma cena, interpretações seguras de veteranos como Angelina Muniz e Zécarlos Machado sofrem com a atuação mediana de Mel Lisboa, por exemplo.
 
O Ibope pode até responder positivamente a “Os Dez Mandamentos”, porém, o elenco irregular e a desatenção aos pequenos elementos construtores de um enredo provam que a ética “torta”, mas bem contada de “Babilônia”, ainda será mais atraente.

Artifício tão milenar nas narrativas quanto as próprias histórias bíblicas.


Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há sete anos.

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