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Acelerada, a estreia de "Babilônia" mostra o Brasil que ferve

Estação NT


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Divulgação/TV Globo

Na ressaca dos protestos no último domingo (15), em que parte da população foi às ruas mostrar o descontentamento com o governo, a estreia de “Babilônia”, a nova novela das 21h da Globo, não poderia ser mais simbólica.

Gilberto Braga, o seu autor principal, junto com João Ximenes Braga e Ricardo Linhares, estaria mais do que habituado a entrar em cena quando o país se encontra em ebulição. “Vale Tudo” e “O Dono do Mundo”, exibidas respectivamente em 1989 e 1991, mostravam o Brasil confuso pós ditadura militar, enquanto a morna “Insensato Coração” de 2011, deu a deixa: o seu autor funciona no (quase) caos.

O título “Babilônia” parece brincar com esse caos sugerido, já que no imaginário popular, a cidade bíblica de mesmo nome representa algo entre exótico e corrupto, universo que Braga, Ximenes e Linhares gostam de mostrar de forma crua em suas tramas, usando sempre o Rio de Janeiro como metáfora.

A vilã falida (Glória Pires) que usa o sexo para manter o status, se dividindo entre o casamento por interesse com um ricaço (Cássio Gabus Mendes) e o adultério com o motorista (Val Perré), se vê chantageada por uma colega classe média (Adriana Esteves), obcecada em acompanhar a sua vida pelas colunas sociais. Na outra ponta, a mocinha batalhadora do subúrbio (Camila Pitanga), cuja vida vai se cruzar com as das demais protagonistas lá na frente, fecha a ciranda de ascensão e queda à brasileira.

A maior surpresa, no entanto, é a linguagem acelerada que o diretor Dennis Carvalho imprimiu às cenas, mal dando tempo de o telespectador respirar. Edição seca, passagem no tempo sugerida só por detalhes, diálogos objetivos, a câmera na cola dos personagens, colocando a ação no centro. As panorâmicas poéticas do Rio e de Paris (onde parte da trama aconteceu) ficaram nos anos 90, pois as cidades agora são molduras dos eventos, traços que lembram os seriados americanos sobre os bastidores do poder, como “House of Cards” e “Scandal”. As interpretações firmes de Pires e Pitanga se chocam com os gestos nervosos de Esteves, quase repetindo os cacoetes de sua Carminha em “Avenida Brasil”.

Assassinato, beijo gay, sexo, inveja, discussão racial e social, todos estes temas ferveram na estreia de “Babilônia”, em um caldeirão digno das antigas histórias religiosas, e coincidência ou não, do Brasil atual. O único risco é a mistura esfriar ou o pé no acelerador deixar a narrativa tão confusa quanto as imagens das passeatas de domingo.


Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há sete anos.

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