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A máquina do tempo em pane com Xuxa e Gugu na Record

Estação NT


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Divulgação

Circula pela internet uma brincadeira que traz um saudosismo meio amargo para a geração que hoje tem entre 25 e 30 anos, chamada “Razões para acreditar que voltamos aos anos 90”.

A lista traz uma série de acontecimentos atuais na política e na cultura pop que são parecidos ou idênticos aos eventos originais do passado, incluindo os pedidos de impeachment à presidente Dilma Rousseff e a reprise da novela “O Rei do Gado” no “Vale a Pena Ver de Novo”.

Apesar de a memória afetiva se divertir com tantos retornos, o amargo vem da sensação de que muitos deles estão deslocados, como que sugados por uma máquina do tempo defeituosa. Se o telespectador estiver diante do novo programa de Gugu na Record ou do pomposo anúncio de contratação de Xuxa pela mesma emissora, feito na semana passada, a nostalgia azeda.

“Em que ano estamos?”, se perguntam os mais desatentos ao verem saltar da tela caracteres anunciando atrações como “qual será a surpresa de Neymar para o Gugu”? Ou “Ave fará exame de DNA para saber se é macho ou fêmea”. Um repórter-comediante invade quartos de hotéis para acordar subcelebridades, e o “Táxi do Gugu” renasce das cinzas entre um quadro e outro. Até a entrevista-polêmica-chafariz na estreia ganhou espaço, com Gugu, sempre sorridente, tentando arrancar confidências de Suzane Richthofen e a namorada na prisão. Os anos 90 voltaram, com toda a força e naftalina.

Na semana seguinte, Xuxa é recebida na sede da Record, com direito a tapete vermelho, para assinar contrato após décadas de Globo. Durante a entrevista coletiva, poucas pistas sobre o futuro programa e muita euforia às referências vagas de “atração semanal ou diária” e “liberdade para fazer o que quiser”. Cena quase idêntica à chegada de Gugu na casa em 2009, ou seja, muitos holofotes em torno do passe de ícones da TV do passado, quando atravessam períodos de queda de audiência e de faturamento em suas emissoras originais, mas sem discutir aquilo que podem trazer de novo em uma mídia em crise.

Entre a pseudo reformulação de Gugu e a estreia de Xuxa que parece já nascer antiquada, fica o sentimento de que o passado voltou não para se repensar ou rir de si mesmo, mas sim para se repetir.
 

Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há sete anos.

 

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