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Amistoso de Léo Moura com recorde mostra caminho para o futebol na TV

Território da TV


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Fotos: Reprodução

Não é somente a televisão que desperta idolatrias. O esporte, talvez até mais, também. Foi o que se viu na quarta-feira passada (4) no Maracanã e depois nos números de audiência.
 
Se a partida de despedida de Léo Moura do Flamengo colocou menos pessoas no estádio em 2015 somente na comparação com o clássico entre o próprio rubro-negro e o Botafogo, na TV o superou.

Foram 27 pontos de audiência contra 22 do clássico no domingo anterior. No mesmo dia, o jogo do Corinthians pela Libertadores da América em São Paulo não passou dos 21 pontos de média.

No Rio, o amistoso do Flamengo contra o Nacional do Uruguai, que enviou um misto de reservas e juniores, rendeu 48% de share. Ou seja, quase metade das TVs ligadas sintonizavam a partida. O duelo entre os campeões continentais de 2012 e 2014 ficou nos 36% em SP.

Esse interesse não é pela fase do time, já que seu recorde anterior no ano era de 25 pontos, no confronto com o Brasil de Pelotas. O maior trunfo foi a idolatria da torcida ao lateral-direito, que nem mesmo está se aposentando, mas sim migrando para o futebol dos EUA.

O expressivo número unicamente por causa de um jogo festivo ainda coloca a emissora diante de dos dilemas: o primeiro é que não dá para culpar somente a qualidade dos jogos pelos números.

Há público consumidor de futebol. E fixo, já que deduz-se que boa parte dos telespectadores dessa despedida a acompanharam por terem seguido os 10 anos de trajetória flamenguista do então capitão do time, que conta com 519 jogos, 8 títulos e 47 gols.  

O caminho pode ser o uso inteligente da transformação do esporte em espetáculo, seja para as arquibancadas ou para a TV. Por exemplo, você dificilmente soube quem venceu o Super Bowl, a final da liga de futebol americano. Mas deve ter visto menções sobre o show da cantora Katy Perry em seu intervalo.
 
Não se trata de deixar o esporte em segundo plano. E a experiência da Copa do Mundo prova isso. A valorização do torneio é tamanha que assistíamos até a um Irã x Nigéria de qualidade duvidosa sem nenhum problema.

E isso está longe de ocorrer a cada quatro anos. Ademais dos compactos com pinturas de Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar, a Liga dos Campeões da Europa também tem jogos com deficiências técnicas com prestígio em alta.  

A Globo, que começou exibindo o torneio somente a partir das semifinais e desde o ano passado já mostra as oitavas, dessa vez exibirá dois jogos da fase em que ainda restam 16 clubes na disputa pela "orelhuda".

Respectivamente nos dias 11 e 18 de março, os duelos Chelsea x PSG e Barcelona x Manchester City serão exibidos, tirando a "Sessão da Tarde" e "Malhação" do ar.

Ah! O Flamengo venceu o confronto por 2 a 0, sendo o primeiro tento com assistência do camisa 2, mas os gols pouco importaram quando a festa no gramado se expandiu para toda a arena e tratou de ser a grande imagem da noite.

O outro detalhe desse contraste de 6 pontos entre dois jogos internacionais com pesos bem diferentes é que São Paulo, seja pela cobertura maior da TV fechada ou por desinteresse dos torcedores, gera as piores audiências ao futebol.

Não dá para culpar o número de TVs ligadas. No mesmo dia de Flamengo x Nacional-URU e Corinthians x San Lorenzo, "Império" marcou praticamente o mesmo nas duas praças: 40 e 39 pontos, respectivamente. Diferença de apenas 1 ponto.

Ou seja, um eventual corte nas transmissões do meio de semana poderia ser apenas local, já que boa parte do Brasil segue os jogos cariocas e praças como Belo Horizonte e Porto Alegre também alcançam números superiores aos paulistanos.

Prova dessa fragilidade em SP é que neste domingo os três principais estados brasileiros contaram com clássicos regionais, mas somente o estado verá o duelo de rivais tradicionais.
Fluminense e Botafogo, e Atlético-MG e Cruzeiro duelaram somente diante dos olhares do pay-per-view, enquanto São Paulo teve o embate entre o tricolor homônimo e o Corinthians em rede aberta. O expediente também é comum no Brasileirão.

Mas simplesmente cortar não parece ser o caminho mais adequado quando se há muito a explorar no mercado da bola. O principal talvez seja a compreensão de que TV e times são parceiros e devem se ajudar, não se usar.

Já que a Globo possui convicções sobre divisão de cotas e menção aos naming rights polêmicas, é preciso lembrar que ela paga mais aos clubes que hoje reclamam do que quando o dinheiro era dividido de forma igualitariamente menor para todos. Mesmo que longe do padrão europeu, dinheiro não é o problema.

Outros pontos controversos como a fórmula de disputa dos torneios e a periodicidade de exibições por time também entram e saem de pauta conforme a necessidade de manchetes, mas todos defendem o seu lado e poucos pensam no coletivo.

Se o caminho está certo ou errado, só a possibilidade de que o mais popular esporte do país não sustente a exibição de jogos em TV aberta duas vezes por semana já diz muito sobre.


No NaTelinha, o colunista Lucas Félix mostra um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira.

Ele também edita o https://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)

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