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Mesmo trash, RedeTV! entendeu como ninguém o espírito do Carnaval


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Divulgação/RedeTV!

Em algum lugar entre a transmissão dos desfiles das escolas de samba e a cobertura dos trios elétricos no circuito Salvador-Recife, a RedeTV! se destaca, em todos os carnavais, como uma dimensão paralela ao glamour da festa.

Sem poder mostrar a apoteose na Sapucaí ou a folia nas ruas, terrenos exclusivos das concorrentes, a emissora de Osasco se dedica a uma espécie de “lado B” da festa, assumido já no título da sua cobertura, “Os Bastidores do Carnaval”, e que há anos vem conquistando os telespectadores insones ao mostrar o melhor e o pior do espetáculo.

No estúdio, com um chroma key precário e duas mulatas cobertas de tinta, os apresentadores Nelson Rubens e Flávia Noronha debatiam com os convidados subfamosos (incluindo Ângela Bismarchi, Geisy Arruda e o ex-“BBB” Serginho Orgastic) temas surreais, como a quantidade ideal de silicone para uma rainha de bateria.

Nos links, os repórteres entrevistavam musas desconhecidas em meio a closes ginecológicos. As frases “dá uma viradinha” e “quanto custou a sua fantasia?” atravessaram a madrugada, assim como as perseguições às atrizes esbaforidas no Sambódromo.

Nelson Rubens não se cansou de fazer piadas de duplo sentido com os entrevistados, pedindo, por exemplo, para um ator fantasiado de pirata “mostrar o papagaio”. Há alguns anos, Monique Evans cobria o Gala Gay para o canal, apalpando sem pudor os transexuais, enquanto o cirurgião plástico Dr. Rey analisava as nádegas das passistas.

O telespectador se diverte, ainda que não saiba se tudo é feito de propósito, segundo a cartilha apelativa da RedeTV! ou só reflexo da pouca verba e das opções limitadas de cobertura da emissora.

Mesmo que “Os Bastidores do Carnaval” seja, no fim, uma equação entre a precariedade e o sensacionalismo, o seu trunfo parece estar no fato de a emissora mostrar o quanto o Carnaval brasileiro é um evento intrigante, que abriga, ao mesmo tempo, desfiles milionários e passistas se fantasiando atrás do carro alegórico, celebridades espremidas em camarotes e anônimos loucos pela atenção das câmeras.

A RedeTV! parece ter entendido toda essa contradição, e se posicionou bem no limite entre o luxo e o trash. Mais carnavalesco, impossível.
 

Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há sete anos.

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