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Com bom Ibope, debate da Globo funciona e candidatos priorizam indecisos

Território da TV


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Divulgação

Quebrando a sequência de argumentos de “não vote no adversário” disparada pelos dois lados que polarizam essa e todas as mais recentes eleições no Brasil durante toda a campanha, o debate da Globo, exibido nesta sexta (24), foi um respiro na disputa acirrada, repetindo a tendência de Dilma e Aécio em versões “paz e amor” já apresentada na Record.

Antes desses confrontos, os candidatos tinham se atacado fortemente nos confrontos da Band e do SBT. Curiosamente, foi no SBT, emissora com perfil familiar e que exibiu o debate às seis da tarde, que a situação se mostrou mais tensa.     

Os candidatos se diversificaram em três grandes pontos na ocasião: qual é o mais incompetente, qual tem aliados mais corruptos e qual tem mais parentes empregados de forma suspeita no funcionalismo público.

Ou seja, atingiram o auge possível da baixaria cedo demais e se viram obrigados a recuar diante da rejeição que poderia elevar consideravelmente os votos brancos e nulos.

Dessa vez, apenas a corrupção foi recorrente, com trocas de farpas sobre os mensalões e os escândalos na Petrobras.

Mesmo assim, não chegou a ser um duelo morno nem de longe. Os candidatos mostraram firmeza e levantaram vaias e aplausos da plateia em diversos momentos, obrigando a intervenção do mediador William Bonner.

Bonner, aliás, foi o responsável por um momento embaraçoso ainda no primeiro bloco. Ele chamou o intervalo comercial antes que Aécio pudesse fazer uma tréplica. Mas o âncora logo se corrigiu sobre sua confusão nas anotações, pediu desculpas e permitiu a fala do candidato tucano.

Outro momento em que o apresentador do “Jornal Nacional” se sobressaiu foi ao relatar seu critério para interromper ou não a fala assim que o tempo exatamente estoura. Simples. São concedidos segundos a mais para conclusão de um raciocínio, não para o início de um novo.

E foram várias as intervenções avisando sobre o descumprimento do cronômetro feitas para ambos durante os dois blocos de perguntas com os indecisos. Como os candidatos focavam em quem os perguntava, não tinham visão direta do relógio.

Mero detalhe em meio ao mais bem sacado momento do debate. Os indecisos trouxeram temas para os quais o media training não costuma focar, como saneamento e aluguel. Assuntos reais que serão problemas prioritários para o eleito.

Foram questionamentos mais eficazes e até desconcertantes do que os óbvios feitos pelos jornalistas que tiveram oportunidade nos confrontos de Band, SBT e Record ainda no primeiro turno.

O modo automático foi desligado e os candidatos até se confundiram fora da zona de conforto. Dilma, por exemplo, chamou um dos indecisos de “candidato”, mas se saiu bem da gafe ao dizer que ele pode tentar uma candidatura futuramente.  

Em movimento, a postura corporal dos candidatos também pode ser vista durante a fala do adversário. Chamou atenção a fuga dos dois de contato visual direto com o oponente.

Entretanto, o público não fugiu. Pelo contrário. Com a eleição acirrada e as pesquisas conflitantes, pela primeira vez em anos chega-se na véspera da disputa com uma dúvida real sobre quem será eleito, não somente sobre qual a porcentagem do vencedor.

E se boa parte da campanha teve nível de torcida organizada de futebol, a audiência de tucanos e petistas se mostrou mais fiel que a da dita “Fiel”: Aécio e Dilma renderam 30 pontos para Globo (dados prévios) em plena sexta-feira, geralmente o dia mais difícil para a grade noturna. Em 2010, Dilma e José Serra marcaram 25 pontos.

Record, SBT e Band somadas deram 16 no mesmo horário, praticamente a metade. Aliás, a soma dos debates dessas 3 fica em nível similar aos 30 pontos da Globo, número registrado ontem pela Globo também no Rio de Janeiro.

Para se ter uma ideia do feito, o futebol de clubes da quarta-feira em São Paulo não passou de 23 pontos na Globo nesse ano com a eliminação do Corinthians para o Atlético-MG na Copa do Brasil.

No Rio, o recorde é de 28 pontos para Globo em 2014 na mesma faixa com Flamengo x Emelec pela Taça Libertadores da América. Ou seja, a discussão política superou até o interesse pelo mais popular clube do país na mais relevante competição do continente.

O mistério agora para a Globo e todos os demais canais que tiveram bons números nos debates é se a “ressaca” do lado derrotado vai permitir que a cobertura da apuração e das primeiras falas do presidente eleito também seja um sucesso. Para elas, bem diferente do que vale para os candidatos, o Ibope fala mais alto que o TSE. 

 

No NaTelinha, o colunista Lucas Félix mostra um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira.

Ele também edita o https://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)

 

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