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Maurício Torres foi pioneiro da tendência de narradores versáteis

Confira mais um artigo do "Território da TV"


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Fotos: Reprodução

O falecimento de qualquer pessoa aos 43 anos enquanto a expectativa de vida no país passa dos 70 já é chocante por si só. Torna-se ainda mais quando é por motivo de saúde. E repentino.

Maurício Torres passou mal dentro de um avião enquanto fazia sua habitual ponte aérea. Morador do Rio, ele ancorava o “Esporte Fantástico” aos sábados em São Paulo. Enfrentou semanas de internação antes da surpreendente partida neste último sábado (31).

Amigos contam que ele já marcava data para sair do hospital e a sua colega de apresentação no “EF”, Mylena Ciribelli, constou até ao vivo há algum tempo que ele estava “quase pronto” para voltar ao ar. Infelizmente, prognóstico errado.

Tão jovem, Maurício sai de cena, mas deixa uma carreira repleta de grandes trunfos. Começou no rádio, ganhou a TV fechada enquanto ela ainda tinha público limitado e depois foi para Globo, onde apresentou o bloco de esportes do “Bom Dia Brasil”, sendo sucedido por Tadeu Schmidt, além de fazer eventualmente o “Globo Esporte” substituindo a própria Mylena e, claro, narrar as mais diversas modalidades.

Exceção na época, prenúncio da tendência atual. Só ver Nivaldo Prieto cobrindo folgas no “Jogo Aberto”, Galvão Bueno, Luis Roberto e Cléber Machado se revezando no “Bem, Amigos!” e até Alex Escobar dividindo suas atenções entre o “GE” Rio e narrações de jogos.

Esse lado múltiplo o fez sair do lugar comum de narradores que se destacam pelo futebol. Sem um bordão característico, o encaixe em diversos esportes era a sua maior marca. Porém suas transmissões mais históricas certamente envolveram o voleibol.

Ainda na Globo, acompanhou a final da Liga Mundial de 2003 e narrou o tricampeonato do Brasil. Em 2005, após migrar para Record, foi alçado ao posto de principal narrador do canal. Comandou jogos épicos na Olimpíada de Londres, como a batalha Brasil x Rússia nas quartas de final e o ouro da nossa equipe no vôlei feminino, assim como igualmente viu Sarah Menezes subir ao lugar mais alto do pódio no judô e acompanhou também as cerimônias de abertura e encerramento, que marcou a passagem do ciclo olímpico para o Rio de Janeiro.

Desde os jogos de Atlanta em 1996, Maurício só não narrou Pequim 2008, já que a Record não possuía os direitos de transmissão. Mais recentemente, cobriu até os Jogos de Inverno. E fez as transmissões iniciais do curling em TV aberta, lançando um estilo que depois se tornou hit junto com a modalidade.

A surpreendente notícia veio por volta das 20h do sábado e pegou boa parte do público de surpresa, assim como colegas jornalistas, muitos deles na Granja Comary.

A Record seguiu o “JR” como se nada tivesse acontecido até 20h27, quando entrou um resumido VT. Eduardo Ribeiro e Janine Borba encerraram a edição sem “boa noite” e não houve trilha sonora ao fundo. Quase que simultaneamente ao “SBT Brasil”, que informou sobre o óbito em sua última notícia, como disse a jornalista Neila Medeiros.

Instantes depois da sucinta homenagem do “Jornal da Record”, o canal de notícias do grupo informou sobre no “Hora News”, incluindo a participação de Mylena Ciribelli ao vivo por telefone. Mas a lista de contatos foi insuficiente e em menos de 10 minutos já seguiam com matérias de gaveta típicas dos finais de semana.

Mas nada que se compare com o “Jornal Nacional”, que simplesmente passou batido pelo tema. Nenhuma citação mesmo terminando por volta das 21h25. E não foi por falta de colegas deixados na emissora. Ana Paula Araújo, que estava na bancada do telejornal no sábado, compareceu ontem aos funerais, assim como Tadeu Schmidt, apresentador do “Fantástico”, outro programa que ignorou a trajetória de Maurício.

As citações de despedida na antiga casa do narrador surgiram de forma aparentemente espontânea por Cléber Machado no UFC, foram aprofundadas no “Esporte Espetacular” e depois retomadas somente no minuto de silêncio ordenado pela CBF em todos os jogos da rodada e que acabaram homenageando também Marinho Chagas, craque brasileiro eleito melhor lateral-esquerdo na Copa de 1974 e que faleceu na madrugada de domingo.

O “Domingo Show”, porém, caprichou mais. Um VT sensivelmente bem editado fez uma justa homenagem sem cair na armadilha fácil do sensacionalismo tão explorado pela atração. Com depoimentos de Cláudia Reis na reportagem e de Roberto Thomé ao vivo da concentração da Seleção, a trajetória de Maurício foi exaltada.

Maurício Torres deixa viúva a também jornalista Susana Naspolini, profissional da Globo Rio, com quem teve uma filha de 8 anos, e que já estava afastada de suas funções há cerca de 1 mês para acompanhar o que se esperava que fosse sua recuperação.

 

No NaTelinha, o colunista Lucas Félix irá mostrar um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira.

Ele também edita o https://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)

 

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