"Saramandaia": Um novo olhar para uma história não tão desatualizada assim

Publicado em 24/06/2013 às 16:00
Cresci com a frustração de nunca ter assisitido "Saramandaia". Escutava as pessoas falando do quanto a trama era bacana e as personagens à frente daquele tempo, já que seu lançamento foi em 1976.
Hoje, a criação de Dias Gomes volta ao ar na telinha da Globo em um remake repaginado pelo olhar de Ricardo Linhares. História e personagens continuam os mesmos, porém modernizados pelo tempo e recursos.
Se antes Dona Redonda era interpretada por uma atriz que realmente sofria os efeitos da obesidade, a saudosa Wilza Carla, e para explodi-la foi usado um balão por baixo da sua saia, agora Vera Holtz leva quatro horas para se equipar de próteses que a fazem ficar daquele tamanho.
E provavelmente na versão atual as formigas que saem pelo nariz de Zico Rosado (Jose Mayer) o fazem por computação gráfica, mesmo efeito utilizado quando João Gibão (Sérgio Guizé) colocar as “asas de fora” rumo à liberdade, revivendo a cena antológica de Juca de Oliveira embalada por “Pavão Misterioso”, do cantor Ednardo.
Ok! Todos já entenderam que transformar uma história clássica em moderna não é tarefa difícil levando em consideração o avanço das tecnologias. Entretanto, o curioso aqui é a trama de "Saramandaia" ser cada vez mais contemporânea.
O que esperar dessa nova versão
Na década de 70, Dias Gomes desejava driblar a censura e apresentar o realismo fantástico como uma nova linguagem para TV. O tempo passou e Ricardo Linhares ainda não sabe afirmar se o telespectador está preparado para essa linguagem.
No entanto, ele faz uso da comédia para tornar as críticas políticas mais leves e fáceis de serem abordadas. Seu remake trabalha o que ele mesmo chama de “ditadura da intolerância”. Para isso, o autor inseriu novas discussões à trama original.
Os poderosos de Bole-Bole continuam lutando em direções opostas, uma delas pela mudança do nome da cidade para Saramandaia. Porém, a versão atual conta com referências a fatos políticos mais recentes como o movimento americano Occupy Wall Street (2011), o atentado no Riocentro (1981) e até o mensalão (2005/2006).
Manifestações políticas, movimento caras-pintadas, reivindicações... Qualquer semelhança com os acontecimentos atuais pode não ser mera coincidência. Eu continuo com aquela vontade danada de conhecer um pouco mais dessa história. E você?
Especial "Saramandaia": Muito realismo fantástico na excêntrica Bole-Bole
Tatiana Bruzzi é colunista do NaTelinha e editora dos blogs: www.blogespetaculosas.blogspot.com e www.eueumesmaemeusfilmes.blogspot.com