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O Observador: Danilo Gentili e seu perigoso olfato


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Divulgação/Band

Demorei um pouco para escrever sobre o assunto por querer ser totalmente imparcial, o que nesse caso admito não ser fácil. Primeiro por ser natural da Bahia e segundo por ser fã do trabalho que Danilo Gentili fazia no “CQC” e, sobretudo, realiza hoje no “Agora é Tarde”.

No seu programa, enquanto entrevistava a banda mexicana Maná, os músicos disseram admirar no Brasil a banda Olodum, e Danilo rebateu com a afirmação: “Quando forem à Bahia, usem prendedor no nariz para não sentir cheiro de urina”. No Facebok, ele pediu desculpas irônicas, dizendo que se esforçará para não sentir cheiro de urina quando for a Salvador.

É claro que críticas acerca da situação de Salvador, que é absurda em relação à falta de educação da população se comparada a qualquer outra capital do país, são importantes e fundamentais para que as pessoas mudem. Afinal, é do sentimento de vergonha que nasce a vontade de mudança.

Mas piadas desse tipo, feitas nesse tom, não produzem nenhum outro efeito se não inflamar ainda mais o preconceito que sulistas possuem – as vezes até mesmo sem perceber – pela população do nordeste. Mais do que exatamente incentivar preconceito, esse tipo de piada pode gerar intolerância e até mesmo violência contra nordestinos e baianos já tão declaradamente maltratados pelos compatriotas do apresentador.

Dizer verdades não é tão fácil como pode parecer. Primeiro porque é prepotência se considerar “conhecedor da verdade”. Segundo porque uma verdade dita “na lata” pode ferir bastante. Boas maneiras são justamente artifícios para se dizer verdades e evitar que se cometa sincericídio pelo simples fato de ser honesto.

Danilo Gentili não fez a piada em tom crítico, com a finalidade de exigir mudança na situação que criticou. Fez a piada pra aparecer, pra darem risada e inflar seu ego com os aplausos de um público que, em muitos momentos, fede a urina – pra não perder a piada.

Não deixei de ser fã do Danilo, mas o pregador que ele sugeriu aos músicos colocar no nariz, sugiro a ele que o coloque na boca em algumas ocasiões.

Como disse Pedro Bial, “não é suficiente conhecer verdades ou fazer alarde” delas, pois “é preciso processá-las, interpretá-las, pesar e pensar para aí sim julgar se cabe usar essas informações e como usá-las. E também perceber, intuir e julgar se essas informações não estão desatualizadas, porque o tempo voa”.

Ser humorista não tira a responsabilidade de Danilo Gentili ou qualquer outro comediante.


Comente o texto no final da página. E converse com o colunista: brenocunha@natelinha.com.br / Twitter @cunhabreno
 

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