"Queimada" no BBB21, Karol Conká terá dificuldades para reconstruir imagem e carreira
Especialista em gestão estratégica de imagem analisa situação da cantora
Publicado em 09/02/2021 às 05:43,
atualizado em 09/02/2021 às 11:06
Karol Conká é a participante mais odiada do Big Brother Brasil 21, segundo enquete do UOL lançada na tarde da última sexta-feira (5), para apurar os índices de rejeição de cada membro da edição atual perante o público. Se o desprezo alheio é terrível na vida de qualquer pessoa, imagina na trajetória de quem, assim como a artista, vive profissionalmente da imagem. Devido a atitudes e posturas que vem tomando no programa, perante os demais participantes, Conká está causando revolta em milhões de espectadores.
A cantora, compositora e rapper vem sendo acusada de xenofobia, arrogância e intolerância. São “rótulos” graves para alguém que, como ela, depende da aprovação do público. Quando se predispõe a participar de um reality show, uma figura pública como Conká quase sempre almeja impulsionar a carreira. As metas, no geral, são: mostrar-se a novos públicos (acenando também para os antigos), promover a imagem, divulgar projetos profissionais, e, assim, conquistar mais fãs, patrocinadores e rendimentos.
Nem todo famoso, porém, conseguem capitalizar de modo eficaz a alta exposição dentro de um programa do gênero. Alguns, inclusive, saem “queimados” da experiência. É o caso de Karol Conká no BBB21. A cada dia que passa na casa, a rapper está arruinando a imagem, a carreira e a notoriedade. Segundo pesquisa realizada pela agência Brunch a pedido da Forbes Brasil, ela poderá perder até R$ 5 milhões com o cancelamento de contratos para shows, publicidade e programas de TV.
Uma das figuras públicas mais conhecidas da atual edição do programa, Karol Conká entrou para o Big Brother com uma prévia estratégia transmídia claramente inspirada em Manu Gavassi, que “fez escola” na edição 20. Com conteúdos pré-criados, a sua equipe passou a publicar nas mídias sociais postagens em que Karol interpretava personagens, narrando uma história que vinha sendo contada em tempo real, dentro e fora da casa, a partir do que ela fazia no programa.
O objetivo seria aumentar a base de seguidores para, assim, valorizar o passe, atrair potenciais patrocinadores e ampliar as receitas (Manu Gavassi, por exemplo, entrou no BBB passado com 4,4 milhões de seguidores e saiu, no dia 27 de abril de 2020, com 13,2 milhões). Certamente, a tática teria surtido efeito com Karol Conká não fossem as atitudes da artista dentro do reality.
A rapper também conseguiu arruinar a própria estratégia. E prejudicou a sua equipe que, surpreendida pelas atitudes da cliente dentro do programa, descontinuou o planejamento de postagens nas mídias sociais. Um dos últimos conteúdos publicados foi um comunicado no qual o staff reconheceu ser “compreensível toda a revolta por suas falas, ações e pelo modo como tem se posicionado”. Porém, a equipe considerou “desproporcional” o ódio que a artista vem recebendo do público.
Compreendo a posição da assessoria, mas ressalto que a cobrança da opinião pública, de forma por vezes agressiva, é bem verdade, está relacionada à coerência com o posicionamento que a artista sempre pregou. Karol Conká pautou a sua carreira e imagem pública a partir de referenciais libertários. A sua mensagem-central é a igualdade entre as pessoas. A partir do momento em que, dentro do reality, passa a ser acusada de xenofobia e intolerância para com outros participantes, Conká “tomba” na contradição e destrói as narrativas que ela mesma criou. O público odeia incoerência.
Os últimos episódios no BBB21 são golpes certeiros no conceito de artista revolucionária e defensora da diversidade, da representatividade e do respeito. Karol Conká precisa mesmo fazer uma revolução, mas agora na própria imagem. A rapper está em processo acelerado de desconstrução da sua persona pública. Está perdendo fãs, prestígio, contratos e dinheiro. Precisará fazer um “rebranding” assim que deixar a casa, sob risco do desmoronamento definitivo do seu mais importante ativo: a própria reputação.
As perdas de Karol Conká no BBB21
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Sem poder orientar a cliente, confinada no reality show, resta muito pouco à assessoria de Karol Conká. Apenas tentar “apagar o incêndio”. A crise de imagem está minando não apenas a credibilidade da artista, mas colocando em xeque a sustentabilidade da marca “Karol Conká”, já que abalos na reputação costumam afetar diretamente a parte financeira. Passadas duas semanas desde a entrada no BBB21, as perdas de Karol Conká, até o momento, são significativas:
#1 - queda vertiginosa no número de seguidores: quando foi anunciada para o reality, Conká tinha 1,5 milhão de seguidores; chegou a 1,8 milhão durante os primeiros dias de confinamento, mas caiu para 1,3 milhão;
#2 - “Cancelamento” de outros famosos: personalidades famosas como Ludmilla, Marília Mendonça e Jojo Todynho têm demonstrado publicamente indignação e reprovação com o comportamento da artista. Karol Conká, provavelmente, terá obstáculos para estabelecer futuras parcerias profissionais (“feats”), já que celebridades não costumam associar suas imagens a quem está “queimado”;
#3 - Suspensão da exibição de programa de TV: o GNT afirmou que, por enquanto, não vai mais exibir na TV, em fevereiro, o programa Prazer, Feminino, apresentado por Karol e Marcela McGowan e já transmitido no YouTube. De acordo com o canal, a atração “terá sua data de exibição na TV revista”;
#4 - Cancelamento da participação em festivais de música: os festivais Rock The Mountain e Rec-Beat suspenderam as apresentações de Karol Conká dos seus respectivos line-ups. A organização do Rock the Mountain, marcado para novembro em Itaipava, no Rio de Janeiro, anunciou o cancelamento no último domingo (7), em decorrência das atitudes da rapper no BBB21. A apresentação no Rec-Beat, por sua vez, havia sido gravada na Pinacoteca, em São Paulo, antes da entrada da cantora no reality da Globo. A exibição estava prevista para 14 de fevereiro.
Em se tratando de crises de imagem, equilíbrio e pragmatismo fazem toda a diferença. Recomendo ambos à assessoria e aos managers de Karol Conká. E também a criação de um comitê de crise, para coordenar o fluxo de informações e, principalmente, se posicionar diante dos fatos. O silêncio nunca é uma boa opção, pois não evita que o assunto ganhe ainda mais repercussão. Tenham cautela em relação ao que será dito e comuniquem apenas o que caberá ser falado no momento.
À artista, quando deixar o confinamento, sugiro que seja rápida em reconhecer os erros, transparente ao lidar com eles e ágil em se (re)posicionar. Os próximos passos dependerão da capacidade de assumir as próprias responsabilidades. Mas, não há garantias. Os danos, alerto, poderão ser irreversíveis.
* Higor Gonçalves é jornalista, professor e especialista em gestão estratégica de imagem de pessoas.