Publicado em 12/02/2021 às 04:00:53,
atualizado em 12/02/2021 às 09:18:56
Quando a pandemia do novo coronavírus começou no Brasil, em março do ano passado, uma das primeiras medidas tomadas pelas emissoras de televisão foi suspender as plateias físicas em programas de auditório. Passado um ano, a situação continua grave, mas duas atrações já voltaram a ter público em estúdio: o Programa do Ratinho, do SBT; e o A Noite é Nossa, da Record. O NaTelinha conversou com infectologistas para saber se é pertinente essa retomada e a opinião é a mesma: não.
O primeiro foi o Programa do Ratinho, em outubro de 2020. A capacidade da plateia é de, aproximadamente, 30 pessoas. Elas ficam dispostas de forma distanciada, todas de máscara. Segundo o SBT, todas as pessoas são testadas previamente para poder ficar no estúdio.
O outro programa é o A Noite É Nossa, que estreou em janeiro. Neste, chama a atenção que as pessoas na plateia, embora estejam distanciadas, ficam com máscaras transparentes, criticadas por médicos por sua baixa eficácia contra a Covid-19. Ainda, por diversas vezes, há aglomerações no palco.
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“Acho que ainda não é a hora de ter isso nos programas porque estamos vivendo uma piora da pandemia no país”, analisa o infectologista Bruno Ishigami, mestrando em Saúde Pública pela Fiocruz. O ponto mais crítico, para ele, é a circulação das novas variantes do vírus. “Isso coloca ainda mais em risco, porque possivelmente são variáveis que transmitem muito mais fácil, pelo que os estudos estão mostrando. No momento, acho que é hora de continuar nessa pegada, sem plateia, sem aglomerações”, pontua.
Bruno aponta para a questão da máscara transparente, utilizada no programa da Record. “Não é bem uma máscara. É como se fosse uma proteção de plástico que fica na frente da boca e do nariz. E isso não protege contra o coronavírus, né”, explica. Os médicos recomendam o uso de máscaras cirúrgicas, N95 ou PFF2.
O infectologista Hélio Bacha, mestre e doutor em infectologia pela USP e consultor técnico da Sociedade Brasileira de Infectologia, é mais contundente em sua crítica, pelo simbolismo que a retomada da plateia presencial traz. “Eu vejo como uma fórmula traiçoeira colocar que todos os protocolos de segurança estão sendo seguidos. Isso é o mais grave, porque as pessoas se sentem incentivadas a se exporem. Esse tipo de atitude sinaliza às pessoas que estamos vivendo um bom momento. E não estamos”, discorre.
Ele diz que é precoce pensar na volta da plateia - algo não essencial em sua visão -. Mesmo com protocolos, existe o risco. “Tudo é uma questão do conjunto de atitudes. Nenhuma atitude isolada funciona, nem mesmo a vacina. O que funciona é o conjunto delas. A orientação é não aglomerar, usar máscara e lavar as mãos. Se vai aglomerar, já não está seguindo o protocolo sanitário”, opina.
A reportagem procurou as emissoras para comentarem o assunto. Em nota, o SBT reitera que “segue todas as orientações da OMS quanto a distanciamento, uso de máscaras e triagem médica (com testagem) e também os protocolos da ABERT quanto a tudo que envolve as gravações”. Já a Record não se pronunciou.
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