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Rainer Cadete fala sobre reviver Visky 6 anos depois: "Cenário caótico com esse desgoverno"

O ator interpreta o mesmo personagem na continuação de Verdades Secretas 2

Rainer Cadete com o visual de Visky - Fábio Rocha/TV Globo
Por Jéssica Alexandrino

Publicado em 24/10/2022 às 04:30:00

No ar pela Globo desde o último dia 4, Verdades Secretas 2 trouxe o elenco da primeira temporada da novela para reviver os mesmos personagens seis anos após o início da história. Intérprete de Visky, Rainer Cadete diz que essa experiência é algo totalmente novo: "Não foram seis anos quaisquer. Foram os últimos seis anos, tudo mudou. O mundo mudou completamente por causa dessa pandemia. O país está num cenário caótico por causa desse desgoverno que foi eleito. A representatividade, a compreensão, o acesso a conteúdos LGBTQIA+ são bem maiores do que há seis anos", pontua, em entrevista ao NaTelinha.

"Há seis anos, eu dediquei meu personagem às mulheres, ao universo feminino. Agora eu não consigo me dedicar somente às mulheres. Eu me dedico a todos os que não se sentiram no padrão e que ficaram fora do patriarcado de uma certa maneira. A todos os queers – em algum momento eu também me descobri queer, diferente, nesses modos não encaixantes nos padrões da sociedade. Todas essas compreensões me ajudaram a compor esse Visky de seis anos depois. Hoje eu o dedico aos LGBTQIA+, a toda a galera que lutou tanto, aos movimentos feministas, às feministas pretas, às trans pretas. Como provocação eu gostaria inclusive de colocar o T na frente: TLGBQIA+, porque neste cenário, as trans estão infelizmente num cenário de maior vulnerabilidade ainda", defende.

Além de afirmar que todo o conhecimento que os últimos seis anos lhe trouxeram o ajudaram a compor o Visky da segunda leva de episódios da trama de Walcyr Carrasco, o artista lembra que quase não acreditou quando soube que voltaria a viver o booker. "Até hoje tem momentos em que eu me belisco para saber se é verdade, porque é muito curioso voltar para a mesma novela, interpretar o mesmo personagem, por mais que não sejam os mesmos. Foi uma sensação de sonho. Quando eu descobri que seria gravada uma segunda temporada, eu já comecei a fazer aulas de dança", admite ele.

"A minha quarentena inteira foi permeada por aulas de dança, mais especificamente de Vogue, que é uma dança que tem bastante representatividade e tem tudo a ver com o Visky. É uma dança muito bonita, especial, forte. Eu comecei a fazer aulas online três vezes por semana, além de colocar todos os episódios da RuPaul e de várias outras séries em dia, como Pose. Assisti ao documentário Paris Is Burning e vários filmes com a temática LGBTQIA+."

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Ainda falando sobre a preparação para Verdades Secretas 2, Cadete revela que comprou novos saltos, fez mais um furo na orelha e começou a se reaproximar do "amigo". "A sensação que eu tenho é de que o Visky é como se fosse um amigo mesmo. Sabe aquele amigo que você reencontra e parece que o tempo não passou? E você não tem muito esforço para desenvolver o assunto e ficar em silêncio também não é um grande constrangimento... É muito legal estar perto do Visky e me ajudou bastante, nessa quarentena, estudar ele, visitar ele, visitar o universo da moda e essa masculinidade como performance. E entender como é essa performance da masculinidade no nosso país, que em outros países é tão diferente", emenda.

"Pensar a partir desse patriarcado que tem um homem branco, cis, heterossexual e que tudo que tem de diferente disso não serve. Esse patriarcado em que a gente cresceu e aprendeu e agora nós precisamos ter consciência de que ele existe para desaprender. Foi algo muito profundo, fiz as pazes com esse meu lado feminino. E, mais do que isso, entender a potência da consciência de estar resolvido consigo mesmo e com o seu corpo, com o seu jeito diferente de ser. A preparação foi assim e eu também contei com a ajuda de vários profissionais. Também vieram o figurino, a caracterização, esse cabelo azul, essa cor para o meu corpo, todos os cuidados que ela requer e toda a atenção que ela chama por onde quer que eu vá. Lidar com tudo isso foi uma grande preparação", acrescenta ele, que maratonou a primeira temporada inteira.

Verdades Secretas 2: Rainer Cadete diz que elenco estava com "sangue nos olhos"

Camila Queiroz e Rainer Cadete - Foto: Fábio Rocha/TV Globo

Além de reencontrar o próprio personagem, Rainer Cadete também se reuniu com os antigos colegas de elenco para gravar Verdades Secretas 2 e comprovou que eles não eram mais os mesmos. "Foi incrível. Camila Queiroz, Agatha Moreira, João Vítor Silva, Guilhermina Guinle, Adriano Toloza... Várias pessoas que eu reencontrei. A gente se olha e fala 'não acredito, como você está? Vamos lá contar essa história de novo'. Esse elenco raiz que ficou são pessoas pelas quais eu tenho muito carinho e admiração. É muito legal revê-los em cena depois de tanto tempo e chamá-los dos mesmos nomes depois de seis anos. Só que está todo mundo bem diferente e com sangue nos olhos", garante.

"Trabalhar nesse momento pandêmico é realmente um privilégio e poder contribuir para a sociedade com esse entretenimento que também traz bastante reflexão nesse momento do país é muito bom. Eu me sinto privilegiado de poder trabalhar, mesmo nas condições atuais, de ser testado de dois em dois dias, de ter que usar máscaras o tempo inteiro, de ter que fazer cenas com acrílico entre a gente, de ter uma preparação em que, muitas vezes, a gente não pôde se pegar, se abraçar. São vários desafios, mas tenho uma sensação profunda de estar contribuindo para o mundo com o meu dom, de estar podendo fazer isso. É muito bacana. A expectativa é de que as pessoas curtam tanto quanto nós estamos curtindo fazer. Que seja um divisor de águas no entretenimento brasileiro, como foi da outra vez", deseja ele.

Na segunda temporada da novela, Visky tem mais espaço, está mais enraizado no mercado de trabalho, mas continua atuando como booker da agência que foi de Fanny (Marieta Severo) e agora pertence a Blanche (Maria de Medeiros). Além de seguir às turras com Lourdeca (Dida Camero), ele passa a viver um caso com o modelo Joseph (Ícaro Silva). Para Rainer, o personagem é um carro potente, como uma Ferrari, que ele tem que dirigir com cuidado.

"Ele tem essa questão de ser um corpo político numa série que já ganhou um Emmy, uma série que já é um sucesso. Então, qual é o poder desse corpo político? O que ele representa? Quem pode se identificar com ele? Quais debates ele pode levantar em relação a nossa performance masculina contemporânea? Isso tudo me desafia muito e me instiga. Todas essas questões existenciais que me mobilizam, do fio de cabelo azul até a pontinha do dedo. E me fazem interpretá-lo com muita felicidade", celebra.

O ator ainda completa: "Existem também os desafios de cuidar do cabelo, que precisa ser descolorido, retocar a raiz, pintar de azul. Não pode mergulhar na piscina nem no mar, tem que fazer hidratação, usar os xampus corretos. Essa intensidade de trabalho, além dos cuidados novos com a pele e com o corpo. Ao todo, foram 15 quilos que eu perdi desde o dia 2 de janeiro. Esse era o projeto, conquistar o corpo para o Visky com alimentação, disciplina, muito exercício físico. Eu prefiro falar que a gente expande a nossa zona de conforto. Esse personagem expandiu muito minha zona de conforto e de cuidados comigo mesmo. Hoje, por causa do Visky, eu procuro dormir oito horas por noite, beber mais de três litros de água por dia. Além de estudar e trabalhar bastante, nos momentos que eu tenho para mim, eu tento meditar, repousar. É um personagem que veio com desafios muito produtivos para a minha vida pessoal mesmo", finaliza.





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