Em tempos em que a Globo decidiu promover um remake de Pantanal, é sempre bom lembrar que, há 30 anos, quem teve a dura missão de substituir o fenômeno de Benedito Ruy Barbosa na tela da Manchete foi uma novela pra lá de ousada. A História de Ana Raio e Zé Trovão chegou ao fim em outubro de 1991, após apresentar uma narrativa bem diferente de tudo o que se viu até então e por ser a primeira a mostrar o ambiente de rodeios e do circo.
Escrita por Marcos Caruso - para quem não liga nome à pessoa, o Leleco de Avenida Brasil -, a novela foi aprovada para ser outro marco da TV Manchete. Se Pantanal havia conseguido o feito de vencer a Globo mostrando uma região quase sempre ignorada, a substituta queria chamar a atenção por outra razão: sem cenários fixos, a produção era itinerante e acompanhava a vida do circo, por isso contou com uma megaestrutura.
continua depois da publicidade
Com Ingra Liberato e Almir Sater nos papéis centrais, a produção era considerada grandiosa para a época e reuniu mais de 100 atores no elenco, com nomes consagrados como Nelson Xavier, como o temido vilão Canjerê, além de Roberto Bomtempo e Lu Grimaldi. A ideia de Caruso e sua parceira de roteiro, Rita Buzzar, era mostrar o Brasil que ninguém conseguia, com o mundo dos rodeios e dos sertanejos.
Marcos Caruso conta como a trama foi escolhida para ir ao ar e as dificuldades de produzi-la:
“Ela não era ruim. Não é porque eu que escrevi, não. Ela era mal programada. Eu soube que ia escrever Ana Raio três semanas antes de acabar Pantanal. Porque eles iam fazer Amazônia e o [diretor] Jayme [Monjardim] descobriu que na Amazônia, para ver os bichos, você tinha de estar a cem metros de altura, e não tinha horizonte, era tudo fechado, então ele desistiu. Aí ele foi à Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos para gravar uma cena de Pantanal e ficou deslumbrado com aquele mundo. Ele me chamou, pegou uma sela branca, chegou no meio da sala e jogou: ‘Ana Raio!’ Pegou uma sela preta, jogou no meio da sala e disse: ‘Zé Trovão!’ E ficou olhando para mim. Eu falei: ‘Prazer, Tarzan’. Ele disse que a história estava na cabeça e eu ia escrevê-la. E avisou: ‘Quero, a cada 20 capítulos de quatro blocos, mudar de cidade e percorrer o país inteiro’. O slogan da Manchete na época era ‘O Brasil que o Brasil não conhece’, aí eu fui e fiz. Eu ia escrevendo a novela em um aviãozinho bimotor, literalmente nas coxas. Uma empreitada inacreditável. Foi terrível e maravilhoso ao mesmo tempo".
continua depois da publicidade
Caruso em entrevista para a Playboy em 2012
A História de Ana Raia e Zé Trovão era cara
Mesmo para os padrões da Manchete, a novela era considera muito cara. Segundo levantamento feito à época, a emissora da família Boch gastou cerca de 8 milhões de dólares para colocar o folhetim no ar. O encarecimento se deu devido ao alto custo de elenco, afinal eram muitos nomes oriundos da Globo e realmente muita gente trabalhando na produção.
Mas o que pesou também foi o fato de que a narrativa não contava com cenários e, como se sabe, novelas gravadas em externas consomem mais financeiramente da produção do que se fosse em estúdio. Ou seja, o investimento para tentar manter a emissora no patamar alcançado por Pantanal foi grande, mesmo para uma novela feita às pressas e com ares de plano B.
continua depois da publicidade
O Ibope
Por mais que houvesse esforço estabelecido da Manchete para manter a audiência, A História de Ana Raio e Zé Trovão teve mais repercussão que propriamente audiência. Bastante falada pelo público à época, principalmente por conta da forte história de amor apresentada, a trama não segurou os números conquistados por Pantanal e houve queda.
Dados da Kantar Ibope mostram que, enquanto Pantanal chegou ao fim com média geral de 21,7 pontos, sua substituta terminou com 15,6, ou seja, derrubou seis pontos na audiência, mesmo conseguindo manter o canal na vice-liderança e até disputando a liderança com a Globo em alguns capítulos. Ao final, o recuo foi de 28%, o que significa dizer que, de 10 telespectadores de Pantanal, praticamente 3 abandonaram Ana Raio e Zé Trovão.
continua depois da publicidade
A história
A história acompanha a vida de Ana de Nazaré, uma adolescente que foi estuprada por Canjerê e acabou engravidando, mas teve a filha roubada pelo vilão da história. Ela decide, então, viajar pelo Brasil em busca da filha e se transforma em Ana Raio, uma peoa que percorre o país em rodeios, ao lado do apaixonado amigo que tenta ajudá-la a encontrar a filha.
E são nessas viagens que Ana Raio conhece seu maior rival dos rodeios, Zé Trovão, justamente o homem por quem se apaixona. Mas a vida deles será de rivalidade e de muita briga, principalmente armada por inimigos que parecem nunca aceitarem que o casal se ame e seja feliz. Tudo isso ao mesmo tempo em que Ana Raio segue em sua busca por encontrar Canjerê e a filha.
Utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.