Lucélia Santos revela identificação com heroína de Vereda Tropical
“Tenho a cultura operária introjetada em mim”, avalia a atriz, protagonista da novela de 1984 que chega na segunda-feira (13) ao Globoplay
"A personagem tinha esse traço semelhante à minha própria história familiar", comenta Lucélia Santos sobre a operária Silvana de Vereda Tropical - Fotos: Divulgação/TV Globo e Reprodução/Rafael Mollica/Instagram
Publicado em 12/09/2021 às 06:30:00, atualizado em 13/09/2021 às 23:54:42
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O ano era 1984. O movimento operário mostrava sua força, tornando-se parte fundamental para o declínio da ditadura militar no Brasil. Na TV, o segmento ganhou uma representante às sete da noite: a heroína Silvana, vivida por Lucélia Santos na novela Vereda Tropical, que chega ao Globoplay na segunda-feira (13). Apesar do contexto propício, não havia um teor político na trama, “leve e divertida”, como define a protagonista, 37 anos depois.
Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, Lucélia Santos fala da identificação com a personagem. Os pais da atriz foram operários em Santo André, no ABC Paulista, celeiro da luta sindical e onde a artista nasceu. “A Silvana tinha esse traço semelhante, de alguma forma, à minha própria história familiar. Não busquei inspiração necessariamente nisso, mas o fato é que eu tinha e tenho até hoje essa cultura operária introjetada em mim pois trata-se do lugar onde eu nasci e fui criada.”
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O foco principal da trama escrita por Carlos Lombardi era outro: a disputa da mocinha pela guarda do filho, Zeca (Jonas Torres), com o avô do menino, Oliva (Walmor Chagas) - o pai da criança morre no início da história, em um acidente de carro. “A Silvana era uma pessoa inicialmente tímida. Essa condição de líder sindical só veio a aparecer no final da novela, no momento em que ela se tornou mais forte, quando os conflitos já estavam se solucionando”, comenta Lucélia.
As recordações sobre os pais sindicalistas e os reflexos desse passado ao longo de sua vida são contadas no primeiro episódio de Seguir Esperneando - O Podcast da Lucélia Santos, uma parceria com a Revista Xapuri. “Da janela da casa do meu pai, eu via o sindicato dos metalúrgicos. Meu pai era um admirador do Lula e da peãozada de Santo André, São Bernardo do Campo e Diadema”, diz ela, no programa.
Lucélia Santos relembra parceria com Mário Gomes em Vereda Tropical: “Personalidades antagônicas”
A artista fala dos bastidores de Vereda Tropical, um dos maiores sucessos de audiência na faixa das 19h da Globo. “Lembro da correria que era gravar a novela como protagonista, com uma carga horária tremenda, e ter que me dividir com as atenções necessárias ao meu filho Pedro Henrique, que nessa altura tinha três anos de idade”, conta, referindo-se ao também ator Pedro Neschling.
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Na trama, Silvana vivia um romance conturbado com Luca, um jogador de futebol interpretado por Mário Gomes. “Havia um ótimo entrosamento entre nós. Apesar das nossas personalidades tão antagônicas, nós nos entendíamos muito bem. Eu sou totalmente CDF. Na questão de decorar textos, sou implacável. Gosto de chegar no estúdio com os textos firmes para que o trabalho possa ser divertido e criativo.”
“O Mário, o meu filho [o ator Jonas Torres, então aos 10 anos], que era uma criança e frequentava escola junto com as gravações da novela, e também a minha avozinha [Maria da Paz, vivida pela veterana Norma Geraldy] não tinham a mesma facilidade que eu para decorar, então disciplinadamente nós batíamos o texto antes das gravações. Isso era feito por uma iniciativa minha e funcionava muito bem. Éramos todos amigos e nos queríamos bem.”
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Lucélia Santos
Ela afirma que tem vontade de assistir a Vereda Tropical após quase 40 anos. “Foi uma novela muito boa e leve, que fez um grande sucesso na época. Eu realmente gostaria de rever. Não tenho muito tempo para ver as coisas que eu gosto ou desejo, mas nesse caso vou fazer um esforço para poder assistir”, diz.
Novela mais recente de Lucélia Santos foi em Portugal; na trama, repetiu a dobradinha com Edwin Luisi, seu par em Escrava Isaura
A atuação mais recente de Lucélia Santos em novelas brasileiras foi em Cidadão Brasileiro (2006), na Record. Em tramas da Globo, seu último papel fixo foi em Malhação (2001), além de participações pontuais em séries nos últimos 20 anos. Fato é que a atriz nunca perdeu o estrelato, muito por conta da Escrava Isaura (1976), que a faz ser reconhecida, até hoje, em vários países pelo mundo.
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Um de seus trabalhos mais recentes foi a novela portuguesa Na Corda Bamba (2019), da TVI, em que repetiu a parceria com o ator Edwin Luisi, seu par romântico na novela de sucesso nos anos 1970. No retorno ao Brasil, em março do ano passado, seus projetos foram interrompidos pela pandemia da Covid-19.
“Fiquei rigorosamente isolada e estou até hoje. Não acho isso um exagero, pois a pandemia ainda não acabou. Eu me vacinei e já saio um pouquinho às ruas, mas com toda a cautela por causa das novas variantes do vírus. Estou começando a retornar ao trabalho só agora.”
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Lucélia Santos
Além do podcast Seguir Esperneando, ela atuou recentemente, a convite de Cléo Pires, na série em áudio Febre de Kuru (disponível na plataforma Orelo), que reconstitui crimes reais a cada episódio. “Uma história dramática e arrebatadora”, define Lucélia. O teatro também está nos planos da atriz, seguindo sua linha de preocupação com o meio ambiente.
“Depois de meses de trabalho junto com a escritora e autora do texto Zezé Weiss, estou começando a trilhar um caminho para a montagem de um monólogo, que será o segundo na minha vida, sobre a floresta amazônica, os seringueiros do Acre, o movimento sindical deles e o Chico Mendes. Neste momento é o que eu estou conseguindo fazer. Na esperança de que as coisas melhorem para mim e para todos.”
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