Publicado em 19/07/2021 às 05:30:10
Há quatro anos, quando nomes como Gloria Groove e Pabllo Vittar ainda não tinham tanta visibilidade na TV, Pega Pega ousou ao criar um núcleo de drag queens na faixa das 19h, na Globo. Na trama de Claudia Souto, que volta ao ar nesta segunda-feira (19), Guilherme Weber interpreta Douglas, um gerente de hotel que, à noite, é a performática Brigitta.
Ao dar vida ao personagem, não houve qualquer receio de afastar os telespectadores mais conservadores, que já faziam barulho naquele 2017. “As drags da novela são muito solares, lúdicas, extremamente humanistas e altruístas. Fadas sensatas o tempo todo. Só incomodariam um doente”, avalia Guilherme Weber, em entrevista exclusiva ao NaTelinha.
O maior desafio no trabalho em Pega Pega foi o desenrolar do personagem. Em meados da história, o funcionário do Copacabana Palace descobre que tem um filho pequeno, Gabriel (Antônio Guilherme Cabral). O entrecho “demandou um mergulho emocional na partitura um tanto quanto farsesca dele”, segundo o ator.
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Weber também está no ar com a reprise de Da Cor do Pecado (2004), no Viva. O vilão Tony foi seu primeiro papel de destaque em novelas. Deste início na TV, o ator revela que aprendeu tudo contracenando com o veterano Lima Duarte. “Observava de que maneira ele modulava a voz nos tons baixos, de veludo, como deixava minimalista as reações”, detalha.
Uma das sequências mais marcantes da história foi exibida na semana passada: o bandido joga a noiva Bárbara (Giovanna Antonelli), vestida a caráter, em um lixão. “Essa cena se tornou mítica. Revendo, percebi como ela é curta, mas a intensidade a transformou em uma cena longa na minha memória e acredito que na dos telespectadores.”
O ator fala ainda dos trabalhos inéditos: tem uma participação especial, já gravada, em Nos Tempos do Imperador, que estreia em agosto às 18h, e está confirmado no elenco de Cara e Coragem, próxima novela de Claudia Souto para as 19h. Na entrevista a seguir, ele define o trabalho em meio à pandemia como um privilégio, por poder proteger e continuar seu ofício.
Como foi dar vida ao Douglas, um gerente de hotel que era também a drag queen Brigitta? Foi um desafio? Com o perdão do clichê, todo personagem de novela é um desafio, especialmente porque você não sabe o que vai ser exigido dele. Sempre soube que ele teria esta espécie de “vida dupla”: gerente de comportamento conservador no trabalho, drag anárquica na boate. Ele era a personificação do espírito de Copacabana, bairro onde se passa a maior parte da novela. Bairro que se equilibra entre a transgressão marginal e a aristocracia com um quê decadente. O desafio foram as descobertas, que este personagem teria um filho, por exemplo, o que demandou um mergulho emocional na partitura um tanto quanto farsesca dele. Houve uma preparação especial para as cenas de performance? A preparação específica foi apenas das coreografias dos números da Brigitta. E o trabalho de caracterização que era um brilho da equipe de maquiagem e figurino. Você chegou a ter contato com drag queens, a conhecer esse universo? Tenho contato com o universo das drags desde muito jovem, quando comecei a sair na noite, lá pelos idos dos anos 1990. As drags hostess das casas noturnas de Curitiba e São Paulo, cidades em que morava, além das míticas Claudia Wonder, Márcia Pantera e Marcelona, entre outras... As figuras da noite sempre me interessaram muito, como boêmio e pesquisador. Estudo o universo camp com muito fascínio. Há quatro anos, a cultura drag ainda tinha pouco espaço na TV. Pabllo Vittar estava começando a fazer sucesso... Em algum momento houve um receio a respeito dessa abordagem e da reação de uma parcela conservadora do público? Não. As drags da novela são muito solares, lúdicas, extremamente humanistas e altruístas. Fadas sensatas o tempo todo. Só incomodariam um doente.
Da Cor do Pecado está em reprise no Viva. Esses dias, foi ao ar uma das cenas mais marcantes, em que o Tony joga a Bárbara (Giovanna Antonelli) vestida de noiva num lixão. Que lembranças você tem dessa gravação? Esta cena se tornou mítica. A imagem da Bárbara de noiva, destruída, era um símbolo imagético muito forte. Era um valor conservador e virginal desejado, mas impossível de ser alcançado por uma psicopata como ela. E foi necessário que outro psicopata revelasse isso para ela. Lembro que o Tony diz a ela: "Não mexe com louco" (risos). Revendo a cena no Viva percebi como ela é curta, mas a intensidade a transformou em uma cena longa na minha memória e acredito que na dos telespectadores. Lembro também que nesta gravação a Giovanna percebeu a presença de uma mulher [Cris Andrade] belíssima, alta, forte, trabalhando no lixão, e se tornou uma espécie de madrinha dela, que fez alguns trabalhos no mundo da moda e agora é dona de um bufê, se não me engano. É isso: uma presença atenta faz a diferença em seu entorno. O Tony foi seu primeiro papel de grande destaque em novelas, mas você já tinha uma carreira no teatro. Você já se sentia seguro para dar vida àquele vilão ou a TV era um terreno novo e você precisou se adaptar a ela? O teatro te instrumenta para todos os trabalhos. Ele te exige esforço físico, senso de humildade, responsabilidade afetiva, além das ferramentas mais específicas, noção de timing, construção de atmosfera, que é praticamente física quântica, escuta afiada e narrativa corporal consciente. Geralmente o ator que vem do teatro chega praticamente pronto. É só adaptar a linguagem. Tive a sorte de fazer esta adaptação observando o Lima Duarte. Contracenávamos muito e, desde o início, o observava com fascínio. Era um ator que eu cresci assistindo, em trabalhos antológicos. Observar de que maneira ele modulava a voz nos tons baixos, de veludo, como deixava minimalista as reações... Se eu aprendi alguma coisa de atuar na televisão, foi assistindo ao Lima Duarte. O que pode nos contar sobre seu papel em Nos Tempos do Imperador? Meu personagem é o embaixador inglês William Christie, que se envolveu, representando a Coroa Britânica, em um célebre embate com D. Pedro II [vivido na trama por Selton Mello]. O episódio ficou conhecido nos livros de história como a "Questão Christie" e levou as relações diplomáticas entre os países ao corte por dois anos. Alguns historiadores apontam esta questão como fundamental para os caminhos da abolição da escravatura no Brasil.
Você ainda está gravando? Como tem sido essa experiência de trabalho em meio à pandemia? Já terminei de gravar, foi uma participação especial de alguns capítulos. Trabalhar durante a pandemia é um privilégio absoluto, proteger e continuar o ofício, além da alegria de encontrar os colegas. Claro que o distanciamento necessário deixa tudo menos festivo, mas, mesmo assim, é uma alegria infinita e uma esperança inominável. A Rede Globo foi impecável na maneira como se conduziu durante toda a pandemia, com o grande trabalho que fez no seu jornalismo e com o cuidado que teve com todos os seus profissionais. Criou um método de gravação de profundo cuidado e carinho no set. Sua participação em Cara e Coragem, uma das próximas novelas das 19h, também está confirmada? Sim. Que delícia seguir trabalhando com um autor. Voltar a mergulhar no universo da Claudia Souto, saber que ela está escrevendo um personagem escutado a minha voz é uma daquelas conquistas marcantes da carreira. O personagem se chama Jonathan, que na variante inglesa do hebraico significa "dado por Deus", olha que bonito! É um cientista vivendo no meio de um caos ético. Louco para começar! Vilã não morreu Mulheres de Areia: Isaura tem reencontro emocionante com Raquel Estreou na TV aos 7 Lembra dele? Ex-ator mirim, Matheus Costa virou galã e bomba na web No fim E agora? Veneno, tiro e mais Mandante de surra? Bem feito Rica Vem aí Tristeza Bomba Grave Castigada Sem juízo Para 2025 Perigo Confira Pobre Final Vilã errou Refresco envenenado Desfecho da malvada