Publicado em 29/06/2022 às 06:51:00,
atualizado em 29/06/2022 às 08:29:07
A novela das sete da Globo historicamente é uma trama leve e divertida, mas isso não tem nada a ver com artificialidade ou ser descartável. Aparentemente, Claudia Souto, autora de Cara e Coragem, não sabe distinguir uma coisa de outra e leva ao ar uma produção que não serve para absolutamente nada e mostra o motivo real dos artistas estarem se afastando cada vez mais do formato.
Na novela protagonizada por Paolla Oliveira, Marcelo Serrado e Taís Araújo, tudo é muito coloquial, bobo e descartável. Não se trata de uma produção ruim ou que seja digna de nota por equívocos muito grandes, ao contrário. Tudo funciona direitinho e bonitinho: elenco convence, direção acerta e o texto sabe para onde ir. O problema está na história e na narrativa, pois ali nada é relevante. A autora parece a vizinha contando um causo enquanto varre o quintal numa cidadezinha do interior. A gente até ouve, mas quando volta para nossa casa, nem lembra mais do assunto.
E isso é uma característica de Claudia Souto, que já tinha feito semelhante em Pega Pega (2017). Nos dois casos, a novelista parte de um pressuposto que, a primeiro momento e aos mais desentendidos parecem surpreendentes e que fogem do senso comum. Mas nos dois casos, ela comete um erro crasso para quem quer investir no formato: não há uma história de novela para contar.
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Esquecendo Pega Pega e focando apenas na atual, pode parecer sensacional o conceito de uma executiva que morre misteriosamente após contratar dois herois para encontrarem documentos que salvam a humanidade. Fica instigante acompanhar uma sósia que pode ou não ser a finada. Mas acaba aí, não há caminho dramatúrgico para seguir. A única história da novela é essa: Anita e Clarice são a mesma pessoa? Interessante tanto quanto jogar uma partidinha de bilhar enquanto se toma uma cerveja. E só.
Cara e Coragem tem seus valores, como diálogos interessantes e atuações firmes em alguns momentos - embora nos dois casos com deslizes importantes, mas isso acontece em todo trabalho. A novela das sete também não é ruim e não se trata de uma obra que deveria ser massacrada. Ela é só descartável mesmo, a pior coisa que uma obra artística poderia ser. A função básica da arte é justamente mexer com as emoções do receptor, seja de amor ou de ódio, mas a trama das 19h não consegue nada. É como ver uma parede branca com uma formiga andando.
E é justamente por causa de produções assim que os artistas estão se afastando cada vez mais do formato. Quem iria querer ficar um ano num projeto em que as pessoas se esquecem dez minutos depois de assistir? Antes, havia a obrigatoriedade pelo dinheiro, agora qualquer ator ou atriz consegue ganhar o mesmo fazendo publicidade de um absorvente no Instagram. E talvez essa publicidade seja mais lembrada que Cara e Coragem.
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