Publicado em 30/09/2019 às 19:50:41
O primeiro capítulo de "Éramos Seis" foi ao ar há poucos minutos nesta segunda-feira (30) e fez uma aposta centrada na contemplação como método para contar uma história familiar. A tirar pela estreia, a novela não pretende subverter o gênero ou apresentar o que vem sendo visto nas últimas tramas atuais da emissora.
Analisar o potencial de uma história com base em apenas um capítulo nunca é tarefa fácil, quando se trata de uma obra inspirada em uma produção que teve tantas versões de sucesso, além de um livro aclamado, tudo se torna ainda mais complexo e o objetivo é sempre fugir das armadilhas de comparações, já que se trata de uma nova visão e roupagem inédita.
A novela de Ângela Chaves procura se afastar das produções anteriores e oferecer uma roupagem atual, principalmente em Lola (Glória Pires). A protagonista perde o ar de melancolia e submissão e ganha uma visão mais otimista e até, por que não, feminista. Este é, talvez, o ponto mais interessante do que se viu neste primeiro capítulo.
Em tempos de ação e movimento constante nas telenovelas brasileiras que tentam compilar o universo das séries, "Éramos Seis" caminha na contramão e aposta na contemplação. Embora com cenas curtas e muitos recortes para montar o eixo central da narrativa, o enredo não se preocupa em mostrar movimentação das histórias. É uma proposta contemplativa que lembra, por exemplo, "Downton Abbey", série inglesa que já foi vencedora do Emmy.
Se a contemplação não encontra paralelo nas obras brasileiras atuais, a aposta nos conflitos familiares em detrimento do tom folhetinesco com personagens maniqueístas, permite um paralelo entre a atual novela das seis e a reprise de "Por Amor", no ar na faixa do "Vale a Pena Ver de Novo".
Aqui, é importante citar um adendo. O elenco foi muito bem preparado para oferecer diversas nuances para o público. A intenção do roteiro e direção é apostar nas camadas e fugir da dicotomia do bom e mau. É aí que há o único senão, pelas mãos de Antônio Calloni. O experiente ator novamente explora cores fortes demais para o personagem que parece deslocado do restante do elenco, uma vez que tenta ser exageradamente bom ou excessivamente mau, a depender do que pede o roteiro. Um exagero que necessita de ajustes.
Se Calloni vai mal, Glória Pires vai bem. A atriz conhece todos os atalhos na arte da interpretação e construiu uma Lola iluminada e que foge da melancolia do livro ou mesmo das outras versões. Embora sua atuação esteja firme, se a decisão artística vai dar certo e combinar com a história que, a seguir o enredo original, é muito triste, não se sabe.
Difícil dizer se foi proposital ou não a escolha, mas ao antecipar "Éramos Seis", que iria ao ar apenas no primeiro semestre do ano que vem, a Globo parece oferecer uma opção para o público de "Por Amor", que está chegando ao fim no "Vale a Pena Ver de Novo".
A proposta é um risco, pois "Por Amor" exibia, mesmo em 1997, os novos formatos de família, "Éramos Seis" aparenta ter como única proposta discutir a força da família tradicional brasileira, com todos os seus defeitos e qualidades.
A tirar pelo primeiro episódio, "Éramos Seis" promete uma trama recheada de conflitos familiares, o que é bom. O risco é apresentar conflitos mofados que ninguém mais se interessa. Só o tempo vai dizer se o roteiro saberá fugir dessa armadilha que parece clara.
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