"A Dona do Pedaço": Juliana Paes transforma Maria da Paz na boleira mais amada da TV
Atriz vem fazendo um grande trabalho à frente da mocinha
Publicado em 16/08/2019 às 05:11
Quem lê o título desta crítica pode torcer o nariz, mas a verdade é que Juliana Paes repete o grande trabalho que vem a marcando nesta década e, na pele de Maria da Paz na novela "A Dona do Pedaço", conseguiu se tornar a boleira mais amada do Brasil.
Muito criticada no início da segunda fase do folhetim que tem direção artística de Amora Mautner por conta de seus muitos sotaques oferecidos, Juliana acabou ficando estigmatizada por um problema que não é dela: a ingenuidade da personagem. Quem decide os rumos dentro da obra não é a atriz que cria um tipo, mas o autor (no caso, Walcyr Carrasco).
Juliana até pode ter tido um ou outro deslize logo que iniciou a fase de sua personagem já rica e poderosa no ramo dos bolos, mas isso já ficou para trás. Mesmo naquele momento, a atriz compôs uma Maria da Paz que enche a tela da TV em todas as cenas que aparece e demonstra uma interpretação com alma e não apenas munida de tecnicidades que o formato costuma impor.
Não é exagero dizer que Juliana Paes é a pessoa que melhor leu o texto de Walcyr Carrasco em toda a trajetória dele na Globo. E já vimos todos os tipos de interpretação em suas novelas. Seja na caricatura equivocada de Cássia Kiss em "Morde e Assopra", até no estereótipo de Elizabeth Savalla em várias tramas do autor ("Caras e Bocas" e "Chocolate com Pimenta" para citar duas). Ninguém consegue ler o texto como ela.
Maria da Paz é tão ou mais ingênua que o Candinho (Sérgio Guizé) em "Êta Mundo Bom". Mas Juliana é uma profissional com maior bagagem e com muito mais envergadura que o colega, com quem divide cena em "A Dona do Pedaço". Enquanto o personagem inspirado em Mazzaropi dava ares de ser um completo tapado e que não era possível comprar como verdadeiro, Maria da Paz é, acima de tudo, humana. Sua ingenuidade exagerada só é possível de ser comprada porque Juliana empresta vida à personagem.
Ao perceber o tom carregado do texto e o figurino caricato entregue a ela, a artista resolveu compôr uma protagonista que brinca de caricatura, mas que respeita a tênue linha entre o absurdo e o real. Se os diálogos de Walcyr Carrasco sempre tiveram como característica o absurdo e o didatismo infantilóide, na boca de Juliana Paes ele soa simplesmente humano.
Se viver uma empresária ingênua, exagerada e, acima de tudo, cheia de vida, já é difícil para qualquer atriz, principalmente dentro de um contexto de novela que brinca com o absurdo, para Juliana Paes o resultado é ainda mais assombroso. É que, há dois anos, ela dava vida a uma força da natureza chamada Bibi Perigosa ("A Força do Querer"). A anti-heroína parecia ser o auge da carreira da atriz, mas com "A Dona do Pedaço", Paes dá provas de que seu auge será sempre a próxima personagem.