Opinião

Nova Vale Tudo na Globo dá as costas ao público e foge do objetivo

Houve forte reação crítica após Manuela Dias revelar planos de alterar perfis icônicos na nova versão de Vale Tudo

Em nova versão, Odete Roitman será interpretada por Debora Bloch - Foto: Montagem/NaTelinha
Por Sandro Nascimento

Publicado em 20/10/2024 às 08:30:00

Após Manuela Dias revelar em uma entrevista à Folha, na última segunda-feira (14), que pretende alterar diversos perfis dos personagens icônicos na nova versão de Vale Tudo, que estreia em março de 2025 na Globo, houve uma forte reação crítica sobre a condução da autora deste clássico da dramaturgia brasileira. A decisão ousada de entregar novas tramas e mexer com Odete Roitman e Heleninha foge do objetivo principal quando se decidiu produzir o remake, e isso parece ter se perdido no projeto da emissora.

Pelas críticas, percebe-se que o público não deseja mudanças; quer assistir à antiga Vale Tudo, mas com atores atuais. Então, por que não entregar ao telespectador o que ele de fato quer? Mesmo que pareça um sentimento mais conservador diante da proposta de Manuela Dias, no fim, é para esses telespectadores que o produto é feito.

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Qualquer genialidade que se possa criar em Vale Tudo, e acredito ser impossível, tendo como base os textos de Gilberto Braga (1945 – 2021), Aguinaldo Silva e Leonor Bassères (1926-2004), não se justifica, pois não é o que a audiência deseja. A reação do público nas redes sociais é um bom termômetro para isso. Para que brigar com o interesse do dono do controle remoto?

Qual seria o objetivo da nova versão de Vale Tudo? A principal intenção ao produzir o remake da novela é despertar a memória afetiva do telespectador e atrair uma audiência que deixou de assistir à Globo no horário nobre, trazendo-a de volta para frente da TV. Por outro lado, a intenção também é flertar com uma nova audiência que tem curiosidade sobre a história. Esse é o objetivo no ano em que a emissora completa 60 anos.

Entretanto, tudo tomou um rumo diferente. O público de Vale Tudo assistirá a uma nova história, que deixou de ser um remake e agora se tornou uma releitura. Por isso, é possível que o público mais velho não se identifique com a trama que será exibida e a rejeite, abandonando-a logo após a estreia.

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Acredito que um dos maiores erros nesta nova versão de Vale Tudo foi afastar Aguinaldo Silva da produção. Seria uma decisão mais acertada tê-lo envolvido. Além de ser um novelista experiente e com um histórico de sucessos na TV, ele é um dos autores da história original.

O mundo mudou desde a estreia do folhetim em 1988, e essa é a justificativa para modificar grande parte da trama. Porém, uma solução interessante seria ambientar Vale Tudo nos anos 80. Afinal, séries com temática dessa década têm alcançado grande repercussão entre a nova geração na Netflix, como Stranger Things e Glow. A Globo está perdendo uma excelente oportunidade.

O público pode ser conservador em relação à história de Vale Tudo, mas seu interesse deve ser soberano na hora de decidir o que vai ser transmitido. Depois, não adianta Manuela Dias declarar que o público não entendeu sua proposta, pois, na verdade, foi ela quem não entendeu o que o telespectador realmente deseja assistir.

Parece que a Globo não aprendeu com Elas por Elas, a menor audiência na faixa das 18h. Um projeto como Vale Tudo não tem espaço para egos. Quando se abre para isso, nunca dá certo.

Assista à abertura de Vale Tudo:



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