Publicado em 05/03/2020 às 04:25:00
Mesmo que não tenha o objetivo, a Globo vai acabar vendendo a imagem de casal perfeito para governar o país na dobradinha Luciano Huck e Angélica na grade de 2020. Ao se confirmar a candidatura do apresentador global à presidência em 2022 - algo cada vez mais real -, todos seus adversários nas eleições irão questionar a isenção ou equidistância da emissora na campanha.
Luciano já vem, intencionalmente ou não, preenchendo boa parte do seu programa semanal com conteúdo assistencialista. Sempre com personagens e pautas que lembram muito roteiros do horário eleitoral, bem embalados, numa atração de entretenimento na vitrine Globo.
No último sábado (28), justificando como uma homenagem a todos os atletas da Olimpíada de Tóquio, ele reformou a antiga Kombi de Darlan Romani, campeão brasileiro de arremesso de peso, no quadro Lata Velha. Durante uma hora e 20 minutos, entre choros, música dramática e histórias de dificuldades na trajetória do atleta, Luciano Huck solta: "Você tem noção do que eu vou torcer por você (na Olimpíada) agora, não? Você me criou um problema. Em Tóquio eu vou curtir, mas vou ter que assistir você". O público em casa pensa: "Que maravilha, o Luciano se preocupa com o esporte".
Pode parecer simples palavras de conforto num programa de auditório, mas para um pré-candidato à presidente da República, tudo ganha ares de propaganda política, mesmo que essa não seja a intenção real.
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Não bastando essa vitrine semanal para Huck, de acordo com a coluna de Patrícia Kogut no jornal O Globo, Angélica, esposa do apresentador, retorna à grade da emissora em abril nas tardes de sábado. Ela vai comandar um programa de entrevistas com anônimos que contarão histórias de superação. Um tema bem pertinente para uma futura candidata a primeira-dama. Na grade da Globo, um ficará coladinho com o outro.
E assim será 2020, longe da eleição de 2022, mas com uma propaganda bem definida na TV aberta, ou não? Se Huck for mesmo disputar as urnas, a Globo terá sua isenção jornalística debatida e colocada em xeque à exaustão. Pelo telespectador e os outros candidatos.
Não é ilegal deixar Luciano Huck e Angélica no ar enquanto definem seus próximos passos na carreira, mas a ética é discutida diante da força que tem a máquina global. Num passado não muito distante da Globo, existe uma fatídica abordagem no debate entre Lula e Collor que mudou o destino de uma nação.
Tudo pode ser evitado, por enquanto. Depois, na época da eleição, não adianta se pronunciar em longos editorias lido por William Bonner no Jornal Nacional. Se quiser mostrar isenção, a hora é agora.
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