Publicado em 07/03/2017 às 08:00:41
Quando a televisão começou a se popularizar, lá por meados dos anos 60, foi proclamada a morte do cinema. Muita gente jurou que a TV aberta estava acabada com a chegada da TV paga. Hoje todas elas, televisão e cinema, se debatem em torno da pergunta: a internet as deixou comendo poeira?
Pelo o que se viu na nova temporada do “Pânico na Band”, que completou um mês neste domingo (05), a televisão e a web estão tentando se encaixar, ainda que da forma mais bipolar possível, sob a direção de Marcelo Nascimento.
Surgido no rádio, o “Pânico” migrou para a telinha com facilidade, traduzindo em imagens, pela primeira vez na RedeTV! em 2003, a anarquia que acontecia nos estúdios da Jovem Pan. De lá pra cá, o programa mudou de emissora, viu a audiência cair, o seu público amadurecer e a concorrência crescer. O “Encrenca”, da RedeTV!, com menos recursos e mais dependente de material da internet, bate há meses a turma de Emílio Surita no Ibope.
Aparentemente, a estratégia adotada pelo “Pânico na Band” em seu retorno foi a de juntar-se ao inimigo. O que se viu, entre os já tradicionais quadros a base do “um microfone na mão e muita zoeira na cabeça”, foi a persistência de ideias e de matéria-prima vindas da internet com resultados irregulares.
Mesmo que os youtubers contratados em 2016 não façam mais parte da atração (como Julio Coccielo do “Canal Canalha” e Lucas Salles do “Parafernalha”), o problema não é a fusão entre TV e internet, uma tendência crescente e necessária, e sim, a falta de propósito nela, como se os próprios integrantes do “Pânico na Band” tivessem formado um time reserva, mas sem saber, de fato, aproveitá-lo. Aspecto já observado no ano passado e que ainda deixa vestígios na nova temporada.
O giro pelas transmissões ao vivo no Instagram das celebridades, que mais parece um quadro perdido do “Video Show”, não disse a que veio. O “Tá no Lar”, que tenta satirizar o humorístico “Tá no Ar” da Globo, apenas mostra, de modo preguiçoso, youtubers e membros fixos da atração no sofá comentando gafes da concorrência. O promissor quadro “Webbullying”, no qual Maurício Meirelles, comediante nascido da web, “invade” perfis nas redes sociais de famosos, não é criação do “Pânico”, e sim, esquete de uma comédia stand-up de Meirelles.
Os melhores momentos estão por conta das matérias com maior contato humano, no qual o programa resgata as suas raízes, como o “Pânico na Minha Casa”. Fazer uma atração própria no YouTube enquanto o programa, digamos, original, está passando na telinha também é exemplo de que a produção consegue dialogar com o material que tem em mãos.
Os comentários do seu público e os números de audiência dão o recado: a internet no “Pânico na Band” é bem-vinda, desde que não seja um “recorta e cola” às cegas. Ao migrar do rádio para a TV, o programa foi feliz ao dar cara para as suas loucuras, mas no caso de 2017, Surita e companhia ainda não conseguiram dar nova linguagem ou utilidade às novas ferramentas já dominadas pelos seus jovens telespectadores.
Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há oito anos.
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