Publicado em 05/12/2016 às 10:45:43
A cobertura de grandes catástrofes é naturalmente confusa. Seja na tragédia da TAM em 2007, nas chuvas da Região Serrana do Rio em 2011 ou no incêndio na cidade de Santa Maria em 2013, ao mesmo tempo em que se conheciam as proporções do desastre de forma mais clara, os primeiros corpos já eram velados. A sucessão de acontecimentos impõe que o choque prevaleça sobre o luto. Foi assim na última terça-feira (29).
Mas a circunstância do acidente aéreo com a Chapecoense permitiu que durante o processo de identificação e transporte dos corpos fossem feitas duas grandiosas e belíssimas homenagens.
A primeira ainda na quarta (30) em Medellín. E a mídia brasileira subestimou o potencial do ato. Afinal, como calcular que mais de 40 mil pessoas tomariam um estádio para render aplausos ao time que até horas antes era um rival pouco conhecido? E assim infelizmente poucos acompanharam ao vivo o mais sublime momento que o esporte nos proporcionou em 2016, superando até mesmo os Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
No sábado (3), porém, quando o oficialismo do luto oficial já nem vigorava mais por seu regulamentar prazo de três dias, é que pode ser dizer que o país parou no mesmo instante no auge da sua dor.
Com plena consciência da dimensão dela, já alguma ideia das causas e conhecimento até sobre as histórias individuais que compõem o frio número das 71 vítimas fatais.
Como nunca antes nos anos 2000, o Brasil, nos últimos tempos tão dividido em tantas causas, se juntou. E o centro do país foi numa pequena cidade do seu Sul. As duas emissoras com jornalismo mais forte no país acompanharam a grandeza desse momento com coberturas dignas.
Os repórteres, nominados um a um pelo narrador ao final da transmissão em mais um ato de grandeza, muitas vezes não seguraram a emoção que transbordava. Foram os casos de Eric Faria, Ricardo Von Dorff e Alberto Gaspar.
Quem não acrescentou nada, porém, foi Kiria Meurer. Seu papel dentro do ônibus que levou os parentes até o aeroporto foi lamentável. Invasiva e sem somar nenhuma informação relevante, sua entrada no veículo com o celular em punho foi o asterisco numa cobertura que durante horas não teve deslizes.
Na cerimônia dentro do estádio, os nomes de todos os brasileiros mortos foram lidos. Com um destaque especial nesse nosso meio: o jornalista Giovane Klein, da RBS, foi alvo de aplausos numa intensidade fortíssima, comparável aos recebidos por jogadores como o goleiro Danilo.
Para transmitir esse e outros tocantes instantes, a Globo cancelou mesmo programas como o “GE” e o “Jornal Hoje”. O apresentador Cesar Tralli, do rodízio do “JH”, chegou a ir para a emissora, mas não entrou no ar.
Mas quem mais olhou pelos mortos foi a Colômbia, bastante homenageada pelo gigantismo dos seus atos após a tragédia. O embaixador do país foi a autoridade mais aplaudida e faixas de apoio ao Atlético Nacional foram espalhadas por toda a arquibancada.
Segundo relatos de reportagem do bom especial exibido pela RBS em Santa Catarina no lugar do “Zorra”, Medellín voltou a parar em nome da solidariedade. E reproduzindo os sinais dos canais brasileiros, foram várias as emissoras colombianas a mostrar cada instante dos ritos fúnebres.
Foi mesmo um dia de superlativos. O SporTV, por exemplo, ficou exatas oito horas no ar com uma edição especial do “Seleção”, em que se destacou a boa postura de Marcelo Barreto. Como vem sendo praxe desde as primeiras informações da tragédia, o canal esportivo se saiu melhor que sua “irmã” noticiosa, a Globo News.
A Record, inclusive, foi responsável por um dos gestos mais simbólicos. Durante todo o dia a emissora teve o seu logotipo em tons de verde, a cor da Chape.
Saio desta cobertura jornalística acreditando mais, acreditando mais nas pessoas, mais no… https://t.co/FLf3DaCxAt
Chama a atenção que mesmo com certo atraso, dessa vez a TV finalmente cancelou os fusos horários no meio da exibição, unindo o país inteiro ao vivo. A Globo fez isso durante todo o dia, como já havia sido nos instantes após o acidente.
Antes do começo da partida entre França e Coreia do Norte, foi respeitado um minuto de silêncio, assim como em todos os outros jogos do fim de semana ao redor do planeta, seguindo a recomendação da Fifa, que tinha seu presidente Gianni Infantino em Chapecó.
O canal exibiu ainda um especial com o questionável título “O Último Voo”, apresentado no fim da noite por José Luiz Datena. Praticamente uma segunda edição do “Brasil Urgente”.
Quando foi necessária uma intervenção na grade, o canal mostrou sua face de sempre, sem colocar nem mesmo boletins entre os desenhos animados.
Para a afiliada em Santa Catarina, não restou outra escolha que não impor uma cobertura local para dar o mínimo de respeito aos telespectadores do estado que mais chora o desastre.
Foi especialmente comovente o trecho “inédito”, que não havia sido mostrado em nenhuma transmissão ao vivo, dos discursos de colegas de trabalho dos jornalistas da emissora sobre suas trajetórias e os desafios da carreira.
Mas a derradeira transmissão do dia, de um absurdo simbolismo, após dezenas de jogos mostrados com momentos lindos de solidariedade mundial nas mais poderosas ligas, foi a partida de volta das quartas de final do Campeonato Colombiano, exclusiva do Band Sports, que chegou a ter problemas na transmissão do sinal por fibra.
Mas mostrou o futebol que o levou a ser o atual campeão da Libertadores. Mais uma vez aos gritos de “vamos, vamos, Chape”, veio a vitória por 3 a 0 e a vaga na semifinal.
Essa história que começou escrita com sangue ainda há de reservar páginas que serão eternizadas para o futebol por motivos bem mais alegres. Como dito na quarta pelos torcedores colombianos, em meio ao caos, “nasceu uma família”.
O colunista Lucas Félix mostra um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira. Ele também edita o http://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)
Vilã não morreu Mulheres de Areia: Isaura tem reencontro emocionante com Raquel Estreou na TV aos 7 Lembra dele? Ex-ator mirim, Matheus Costa virou galã e bomba na web Análise Exclusivo Exclusivo Nenê Bonet Opinião Coluna do Sandro Análise Análise Opinião Análise Exclusivo Opinião Opinião Opinião Opinião Coluna do Sandro Exclusivo Crítica Exclusivo Análise
A Globo assustou o público ao iniciar seu especial, às 7h45, como uma edição normal do “É de Casa”. Ainda cabia a lembrança da edição do programa que narrou recentemente outro cortejo fúnebre, o do ator Domingos Montagner, e se mostrou confusa na ocasião.
Felizmente, após o pagamento da cota de patrocínio e de dois intervalos comerciais, Galvão Bueno assumiu a cobertura do cortejo e velório em Chapecó (SC) de forma definitiva. E assim ficou por horas ininterruptas numa cobertura que o consagrou ainda mais para a história do nosso jornalismo.
Do Rio, diante da sede histórica do Botafogo, Hélter Duarte também se comoveu ao narrar a chegada dos corpos dos colegas de Globo. Por alguns instantes, a tela foi dividida entre a sede do alvinegro e a Arena Condá.
O mesmo vale para o “Jornal Nacional”, que insistiu no erro e exibiu um VT da jornalista com os “bastidores” do evento, em tom absolutamente lamentável. Foram sete minutos entre horas de bom material, mas que mancham o saldo da cobertura.
Durante a manhã, as intervenções de gosto duvidoso foram ainda mais curtas, mescladas entre a exibição de outras mensagens da internet, entre usuários comuns e perfis institucionais, como os da própria Chapecoense e o do Barcelona.
Se o Brasil parou, o mundo nos observou. Especialmente os irmãos de América Latina. Na Argentina, sem nenhuma relação direta com a tragédia, canais de notícias mostraram longos trechos do cerimonial. Ao redor do mundo, outras redes também fizeram entradas ao vivo de Chapecó. No total, eram mais de mil jornalistas credenciados, vindos de todas as partes do planeta.
Entre os canais de notícias, os braços da Band e da Record também fizeram coberturas.
A cobertura do canal foi menos emocional que a global, mas comandada por dois craques do ao vivo, Adriana Araújo e Reinaldo Gottino, que interrompeu suas férias para colaborar na transmissão. Eles próprios resumiram bem os sentimentos do dia.
Na Band, os flashes foram pontuais ao longo da grade, com cortes constantes para programação local ou de competições, como a final do Mundial de futebol feminino sub-20.
Destacou-se a forte e justa observação do narrador Téo José sobre a homenagem, a considerando para “70 pessoas, pois uma não merece”. A menção é clara para quem vem acompanhando o desenrolar das investigações.
Quem também mesclou as competições comuns impostas na grade com o jornalismo foi a RedeTV!, que cortou a transmissão da Superliga em certo momento, após dois sets dividindo tela, para focar exclusivamente na cobertura do velório. Plenamente justificável.
E a outra grande rede comercial que ainda está sem menção? Pois é, você talvez nem tenha sentido falta, tamanha sua pequenez no jornalismo. O SBT foi digno de elogios nesse espaço em duas recentes ocasiões, mas este sábado (3) provou que apenas pela braveza da equipe do “SBT Notícias” utilizando coincidências horárias ao seu favor.
Se uns pecaram pela falta, outros foram pelo excesso, como a Globo com o já citado episódio lamentável por parte de Kiria Meurer. Mas descontando esse incidente, o “Jornal Nacional” contou com uma de suas mais belas edições.
Pelo quinto dia consecutivo, foram mais de 60 minutos de duração, quase todos dedicados ao acidente e suas consequências. A escalada foi aberta por Giuliana Morrone com a menção de que “o Brasil se despede aos herois da Chapecoense”. Toda a sequência foi sobre o mesmo tema, assim como já havia ocorrido na terça (29).
As reportagens por várias vezes usaram para ilustração os trechos narrados da sublime cobertura feita ao vivo por Galvão Bueno, sendo que a opção da edição na ordem das reportagens foi justamente sequenciar de acordo com a cronologia da manhã.
O “JN” mostrou também as imagens das despedidas aos profissionais da RBS e do Fox Sports, que ironicamente foi um dos canais menos engajados na cobertura das homenagens, que teve mais espaço na ESPN e no Esporte Interativo.
O jogo exibido foi daquele que agora é o terceiro time de todo brasileiro (já que a Chapecoense virou o segundo). No confronto entre Atlético Nacional e Millonarios, o time verde, hoje de preto pelo luto, entrava com a desvantagem de ter perdido o jogo anterior por 2 a 1.
Só que o grande desafio do time está mesmo é do outro lado do planeta, com a disputa do Mundial de Clubes, que antes nos era indiferente e agora passa a ter esse peso emocional. Imagina então na provável Recopa que ocorrerá caso a Conmebol confirme a conquista continental da Chape...