Publicado em 30/09/2016 às 18:08:17
Tive um pouco de sorte na vida. Em 2004, numa época em que para ter TV por assinatura era preciso vender a mãe, o pai e ainda colocar a irmã à disposição com 50% de desconto para pagar a mensalidade, minha matriarca conseguiu colocar TV paga em casa.
Era uma operadora local, pequena, não tinha os canais Globosat e contava com mais emissoras inúteis que tudo. Mas foi nesse cenário estranho que conheci a ESPN pela primeira vez.
Única esportiva do extenso pacote, descobri naquela época o futebol internacional. Campeonato Inglês, Espanhol, Italiano, Champions League, o incrível futebol americano da NFL, quando tudo isso era transmitido da lendária equipe de Bristol, onde ficava a sede da ESPN americana. O engraçado é que naquele tempo eu era o único da redondeza com TV paga, e eu só queria falar disso. Não tinha com quem falar, obviamente.
A cobertura jornalística da ESPN Brasil, feita em São Paulo, era como se um mundo novo se abrisse. Qualificada, diferente, imparcial muitas vezes. Documentários, entrevistas... Era diferente. Os meus preferidos eram "Futebol no Mundo" - que ainda está no ar - e o fantástico "Histórias do Esporte". E eu aprendi a gostar de um sujeito mau humorado pra burro, mas engraçado e inteligente que aparecia toda segunda-feira, com um cabelo estranho. Este era José Trajano, que depois soube que era diretor de jornalismo do canal.
Muita gente conheceu a ESPN desta época. Márcio Guedes, Lúcio de Castro, Fernando Calazans e outros nomes que são monstros. É uma geração que merece todo o reconhecimento.
Mas Trajano era a alma do canal. A cara dele. Ligar Trajano à ESPN é a coisa mais automática que existe. Depois, com o passar do tempo, descobri a sua históriao. Um grande jornalista, reconhecido pelo trabalho no Rio e um cara comprometido com um uma coisa que acredito e fiz parte: a inclusão na sociedade através do esporte.
Foi estranho ler e noticiar a sua saída da ESPN após 22 anos. Justamente porque achava eu - e achavam vários, já que a surpresa foi geral, até dentro da emissora. Choque mesmo, já que ele era um sujeito intocável, justamente pelos serviços prestados, pelo que ele fez a ESPN ser.
Como disse Juca Kfouri em seu blog no UOL, Trajano não morreu. Está aí e muito vivo. E isso é ótimo. Porém, de fato, uma coisa morreu: a ESPN como todos nós conhecemos, anos e anos atrás.
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Não vou entrar no mérito se o atual diretor João Palomino faz bem ou não pro canal aqui, isso é outra conversa - e comigo, Palomino sempre foi um sujeito muito cortês e educado, sempre atendendo às minhas solicitações como repórter. Porém, a ESPN que está no ar é outra. Sem a emoção que Trajano ajudou a construir.
O último resquício era o "Linha de Passe" que participava. A edição da última segunda-feira (26), sua involuntária despedida, foi muito boa inclusive, com o jornalista inspirado. Foi uma boa despedida. Foi um bom fim para aquela ESPN que eu conheci lá atrás.
Que José Trajano tenha um futuro fantástico. Mestres merecem. E ele é isso apenas. Um mestre. Já a ESPN perde sua imagem e antiga semelhança. Quem é a nova semelhança? Não sabemos. Deixo pro tempo dizer.
Gabriel Vaquer escreve sobre mídia e televisão há vários anos. No NaTelinha, é responsável por reportagens variadas e especiais. Ainda assina as colunas "Antenado", sobre TV aberta, e "Eu Paguei pra Ver", sobre TV por assinatura. Converse com ele. E-mail: gabriel@natelinha.com.br / Twitter: @bielvaquer