Publicado em 19/03/2016 às 08:14:06
É evidente e notório que as tardes na TV brasileira carecem de conteúdos já de algum tempo. Como o público nesta faixa parece ser uma incógnita, tudo já foi testado e a grande maioria reprovada.
O que parece dar certo realmente são reprises de novelas. A Globo já tem há um bom tempo a sessão "Vale a Pena Ver de Novo" e o SBT, entre idas e vindas, desde 2010 exibe tramas nacionais e mexicanas, entre inéditas e reprises na faixa vespertina.
Depois de penar muito tempo por falta de Ibope com o "Programa da Tarde", a Record achou o seu caminho. A fraca, porém carismática "Prova de Amor" tem marcado ótimos números, chegando não raramente em São Paulo e em outras cidades à liderança - nesta semana, por exemplo, atingiu pico de 18 pontos em Salvador com média de 13 pontos.
Mas a apoteose é a novela que vem após o melodrama defeituoso de Tiago Santiago: "Chamas da Vida", de Cristianne Fridman, produzida entre 2008 e 2009. Forte, intensa, com texto transitando entre o novelão clássico e linguagem de seriado de ação, "Chamas" marcou quem viu. Cenas fortes, temáticas atraentes e fotografia das mais perfeitas já atingidas por uma produção fora da Globo - seria ainda mais sensacional se fosse produzida em alta definição, mas em 2008, isso ainda não estava estabelecido de fato na TV aberta brasileira. Ao mesmo tempo que é ótimo rever uma trama da qualidade de "Chamas da Vida", isso é ruim.
O NaTelinha noticiou esta semana que o folhetim vem sofrendo com cortes. Por exemplo: a palavra "estupro" - na história, o pedófilo Lipe (André di Mauro) estupra a adolescente Vivi (Letícia Colin, em grande papel da sua carreira) - tem sido cortada. Já a menção ao HIV - o bombeiro Guilherme (Roger Gobeth) descobre ter o vírus - também não vem sendo exibido, o que é no mínimo esquisito. Em outros tempos, recentes até, "Malhação" sempre falou de HIV abertamente.
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"Chamas da Vida" chegou ao capítulo 100 de sua reprise nesta sexta-feira (17) justamente em sua melhor fase de Ibope - vem marcando médias de 6 pontos de audiência na Grande São Paulo, o triplo do que "Dona Xepa", sua antecessora, marcava na faixa.
Com o passar do tempo, "Chamas da Vida" tende a ficar cada vez mais forte. O último mês da exibição original dela é fortíssimo, certamente um dos melhores momentos da dramaturgia da Record até hoje. O ruim é que, como o horário não permite, com certeza haverá um festival de cortes. Se é para picotar, infelizmente, é melhor não reexibir, por melhor que a novela seja.
Gabriel Vaquer escreve sobre mídia e televisão há vários anos. No NaTelinha, é responsável por reportagens variadas e especiais. Na coluna "Antenado", fala sobre TV aberta quando a necessidade pedir. Já no "Eu Paguei Pra Ver", às segundas, conta histórias curiosas sobre a TV por assinatura no Brasil. Converse com ele. E-mail: gabriel@natelinha.com.br / Twitter: @bielvaquer