Publicado em 16/06/2015 às 18:09:08
Em sua polêmica entrevista ao jornal O Globo há algumas semanas, na qual falava sobre o fiasco de sua novela “Babilônia”, Gilberto Braga relembra que o seu caminho como autor teve mais momentos no divã do que os aplausos, plumas e paetês dignos de “Dancin’ Days”.
Citando a trama de “O Dono do Mundo”, exibida originalmente em 1991 e cuja reprise no canal pago Viva terminou na última sexta (12), Braga reafirmou a rejeição do público à novela na época, e que a escreveu em estado de depressão.
A frase não é exagero. “O Dono do Mundo” enfrentou a concorrência da novelinha infantil “Carrossel”, exibida pelo SBT, além das acusações de ser “pesada” e “imoral”, graças à sua história central que apresentava o cirurgião Felipe Barreto (Antônio Fagundes) seduzindo a ingênua e recém-casada Márcia (Malu Mader) apenas para ganhar uma aposta, sendo a vingança da mocinha o conflito que desenrola o restante do enredo, no qual orbitam cafetinas de luxo, socialites decadentes e suburbanos sangue bom. Nada muito diferente de “Babilônia”, no ar desde março deste ano.
Os problemas de ambas as tramas também não fogem à regra: mocinhos e pares românticos sofríveis - tanto Camila Pitanga na trama atual quanto Malu Mader em 1991 e seus respectivos pretendentes ficaram à deriva na história -, personagens que mudam ao sabor das preferências do espectador − Sophie Charlotte em “Babilônia” e Letícia Sabatella em “O Dono do Mundo” deixaram de ser garotas de programa – sem falar dos dedos na ferida que tiveram de ser suavizados, como o tabu da virgindade da protagonista nos anos 90 e o da homossexualidade das personagens de Fernanda Montenegro e de Nathalia Thimberg agora em 2015.
Na mesma entrevista, o autor citou os resultados da pesquisa de opinião sobre “Babilônia” realizada pela Globo e, sem surpresa, os adjetivos “pesado e imoral” se repetiram.
Por outro lado, as habilidades de Braga e de Dennis Carvalho (diretor em ambos os trabalhos), não passam despercebidos. Os diálogos afiados, a agilidade das cenas, a abordagem de assuntos sem maniqueísmo, incluindo o jogo de interesses que movem a sociedade brasileira.
Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há sete anos. Vilã não morreu Mulheres de Areia: Isaura tem reencontro emocionante com Raquel Estreou na TV aos 7 Lembra dele? Ex-ator mirim, Matheus Costa virou galã e bomba na web Análise Exclusivo Exclusivo Nenê Bonet Opinião Coluna do Sandro Análise Análise Opinião Análise Exclusivo Opinião Opinião Opinião Opinião Coluna do Sandro Exclusivo Crítica Exclusivo Análise
Na balança das diferenças e semelhanças, o fato que mais chama a atenção é o efeito do tempo sobre “O Dono do Mundo”. A sua reprise, segundo dados na imprensa, aumentou a audiência do Viva em sua faixa vespertina. A percepção do público mudou ou é mero saudosismo? Como “Babilônia”, que tanto tem em comum, nos erros e nos acertos com a trama de 24 anos atrás, não consegue ter a mesma identificação por parte da sua audiência?
No caldeirão que abraça “O Dono do Mundo” e rejeita “Babilônia”, há, por um lado, o aumento do acesso à televisão por assinatura, o revival dos anos 90 pela atual geração adulta, o gosto do público moldado pelas recentes séries americanas e a curiosidade destes mesmos espectadores pelos temas ditos liberais do passado (vilões que se dão bem e etc.). Por outro lado, existe a nova onda do conservadorismo religioso e a concorrência das novas mídias, ou seja, uma era dos extremos de dar inveja a qualquer sociólogo.
Pode ser que o último capítulo politicamente incorreto, no qual Felipe Barreto dá uma piscadela cúmplice para a câmera enquanto engana outra virgem, explica o avesso da moeda que sustenta esse novo espectador: para condenar o que vê em um canal, ele precisa se identificar com o aquilo que vê em outro. Sendo “imoral” ou não.