Publicado em 12/06/2013 às 11:18:03
Em tempos onde a população briga por melhores condições de trabalho, melhores salários e repudia o aumento da inflação e das passagens de ônibus, nunca uma produção temporal foi tão atemporal.
De volta à nossa TV pelo Viva, como comemoração por mais um aniversário do canal, a minissérie "Anos Rebeldes" vem presenteando o telespectador todas as noites com sua rica história sobre a ditadura militar e seus efeitos.
Assinada por Gilberto Braga e lançada em 1992, a produção foi inspirada no livro “1968 – o ano que nunca terminou”, de Zuenir Ventura, e “Os carbonários”, de Alfredo Sirkis.
Como o próprio Gilberto explicou, após o sucesso de "Anos Dourados" (1986), que retratava a década de 50, sentiu-se a necessidade de mostrar os anos rebeldes de 1960. E quem conhece a trama vai concordar comigo que ele cumpriu a tarefa brilhantemente.
Por dentro da história
A primeira fase de "Anos Rebeldes" tem como pano de fundo as aulas no tradicional Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, onde um grupo de jovens se divide entre seus amores e a curtição. No entanto, esses mesmo jovens se apavoram com a aproximação do vestibular e a ditadura militar que comanda o país.
Em meio a revolução, um trio romântico se forma. Os amigos João Alfredo (Cássio Gabus Mendes) e Edgard (Marcelo Serrado) se apaixonam por Maria Lúcia (Malu Mader), a filha de Orlando Damasceno (Geraldo Del Rey), jornalista e membro do partido comunista.
A jovem possui ideais diferentes do pai, se preocupando mais com sua vida do que com a situação sócio-política do país. Por outro lado, ela corresponde aos sentimentos de João. Porém, o relacionamento dos dois sofre idas e vindas, já que ele se torna miliante, até ela dar um basta, optando por Edgard.
O tempo passa e a situação no país piora. Sem voz ativa, os universitários representam um desafio ao governo que, uma vez ameaçado, parte para a violência. Começa ali os primeiros passos para a “luta armada”, fase que se estende até a queda do governo militar, em 1985.
Curiosidades
- "Anos Rebeldes" é uma verdadeira aula de história, pois não apenas foca na ditadura militar, como também retrata fatos da nossa trajetória como moda, revolução feminina e sexual, além dos festivais de música brasileira;
- Algumas cenas foram gravadas em preto e branco e em 16 mm para se fundirem com o material de arquivo (fotos, recortes de jornais, e arquivos da própria TV Globo, Cinemateca Brasileira de São Paulo e Arquivo Nacional);
- A pedido de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni), a minissérie teve que ser reescrita do 11º ao 14º episódio pouco antes da sua estreia. O diretor alegou que o autor estava se aprofundando demais na política e se esquecendo do romance, o que para ele era o assunto principal;
- Durante sua exibição, jovens foram às ruas pedir pelo impeachment de Fernando Collor de Mello. O presidente foi deposto em 29 de setembro, um mês e meio após o término da minissérie. Todos associaram sua queda à exibição da trama, que teria incentivado os jovens a se rebelarem. De acordo com o jornal "Folha de S. Paulo", os manifestantes cantavam "Alegria Alegria" (Caetano Veloso), música de abertura, repetindo os mesmos slogans da época;
- A cena mais marcante da minissérie é a morte da jovem Heloísa (Claudia Abreu), militante refugiada, no ultimo capítulo, por policiais militares;
- Essa é a quarta vez que a minissérie é reprisada. A primeira foi em 1995, em comemoração aos 30 anos da TV Globo. A segunda em 2005, pelo Multishow, e a terceira em 2011, no próprio canal Viva.
Tatiana Bruzzi é colunista do NaTelinha e editora dos blogs: www.blogespetaculosas.blogspot.com e www.eueumesmaemeusfilmes.blogspot.com
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