A maior qualidade de Bridgerton é parecer uma novela de Gloria Perez
Série de Shonda Rhimes bebe muito da água de Gloria Perez
Publicado em 27/12/2020 às 12:29
A Netflix deu um presente de Natal inusitado para seus assinantes: a estreia da primeira temporada de Bridgerton, a primeira imersão de Shonda Rhimes na plataforma de streaming anos depois de ter assinado contrato com a empresa. E, aparentemente inspirada em autores brasileiros que escrevem uma novela a cada quatro anos, a criadora de Grey's Anatomy parece ter roubado o RG de Gloria Perez ao pôr a série de pé.
Bridgerton se passa na Inglaterra regencial do século XIX e, tirando o fato de que os personagens não falam a língua portuguesa, bem que poderia ser uma das novelas de Gloria Perez em que mostra um país e cultura diferente. Até as típicas dancinhas vistas em O Clone e Caminho das Índias se fazem presentes na história. Mas são as personagens que fazem a produção parecer a nova novela da autora tupiniquim.
Tal qual Jade, a protagonista da riquíssima produção da Netflix, Daphne, é ousada e muito a frente de seu tempo, inclusive armando situações para que sua vontade seja sempre feita. E exatamente como Maya ou Bibi Perigosa, a mocinha de Bridgerton pode ser considerada feminista por desafiar o poderio masculino de sua cultura, mas ela tem algo mais forte em comum com as heroínas de Gloria Perez, todas querem apenas uma coisa: viver um grande amor.
Se você espera mulheres colocando fogo em sutiã ou fazendo barricada pelo direito ao voto, Bridgerton não é uma série para você assim como nenhuma novela de Gloria Perez o é. O feminismo é muito mais emocional e a força da mocinha se dá no direito que elas buscam em sonhar pela felicidade. Shonda Rhimes busca pegar o público pela emoção e é aí que ela copia a autora brasileira com felicidade.
A série da Netflix é toda colorida e isso também a aproxima do inusitado universo de Gloria Perez. A felicidade e o sonho é tão palpável em ambos os universos que quem está fora dos eixos parece esquisito e deslocado. De Tarso a Mel, os grande dramas de personagens gloriosos são sempre vistos de forma rocambolesca e Shonda certamente deve ter assistido O Clone para compor alguns de seus personagens esquisitões.
E por falar em esquisito, outro ponto em que a criadora de Olivia Pope parece ter buscado após uma conversa de zap com Glorinha foi a criação dos personagens masculinos. Bahuan, Rubinho, Caio ou mesmo Lucas, todos os homens do universo de Gloria Perez tem algo em comum: são verdadeiros bananas. E em Bridgerton dá para fazer uma fila de homens que não servem para nada - e isso dá para incluir o mocinho que fica com mimimi por causa de trauma da infância.
A primeira temporada já está disponível na íntegra para os assinantes da Netflix e, neste fim de ano, a produção parece uma boa saída para quem está de folga e quer assistir uma novela que não seja na língua portuguesa. Bridgerton parece tanto uma novela de Gloria Perez (e isso é um elogio) que, a qualquer momento, a gente tem a sensação que uma personagem vai aparecer na tela gritando "a Morena tá viva".