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Isabela Scalabrini lembra como superou preconceito e explica saída da bancada na Globo

Pioneira na cobertura esportiva, jornalista foi âncora da Globo Minas por 20 anos: "Era hora de mudar"


Isabela Scalabrini
Em 2019, Isabela Scalabrini deixou bancada de jornal para se dedicar exclusivamente às reportagens nas ruas - Fotos: Reprodução/Globo
Por Walter Felix

Publicado em 15/09/2022 às 04:00,
atualizado em 15/09/2022 às 15:47

Isabela Scalabrini comandou por 20 anos o MG1 (antigo MGTV - 1ª Edição) na Globo Minas. A presença constante fez desta carioca uma figura íntima para os mineiros – e muitos se surpreendem ao descobrir que a jornalista nasceu no Rio de Janeiro. Em 2019, após duas décadas de bancada, ela voltou a ser exclusivamente repórter. “Era hora de mudar”, diz, em entrevista exclusiva ao NaTelinha.

“A vida de um jornalista é feita de mudanças. Nunca um dia é igual ao outro. Imagine uma carreira de quatro décadas”, comenta Isabela Scalabrini. “Nunca deixei de fazer reportagens na rua. Sou curiosa, inquieta, falante. Adoro o dia a dia agitado de um repórter. Pessoas e histórias mudaram a minha vida intensamente. Trabalho com muita paixão.”

Em 40 anos de profissão, Isabela entrevistou nomes como Ayrton Senna (1960-1994), Garrincha (1933-1983) e Kurt Cobain (1967-1994). O início foi na cobertura esportiva. “O público estranhava a presença feminina, principalmente nas reportagens nos estádios. E a pergunta que eu mais ouvia era: ‘Você entende de futebol?’. Era claramente um preconceito”, recorda.

A ida da apresentação para a reportagem ocorreu dois anos após a morte do colega de bancada Artur Almeida (1960-2017), vítima de uma parada cardiorrespiratória aos 57 anos. Eles trabalhavam juntos desde que Isabela saiu do Rio de Janeiro e foi morar em Belo Horizonte após a transferência do marido Marcelo Matte, com quem teve três filhos e que por décadas foi diretor regional da Globo Minas.

O jornalismo, aliás, está no sangue da família. Além do marido, a filha Gabriela Scalabrini também trabalha na área, assim como o genro, Nilson Klava, e a sobrinha Daniela Scalabrini. “São talentos da nova geração. É emocionante vê-los na mesma empresa que me acolheu com tanto respeito”, define a veterana.

Leia a íntegra da entrevista com Isabela Scalabrini

Artur Almeida e Isabela Scalabrini
Artur Almeida e Isabela Scalabrini dividiram por décadas bancada de jornal na Globo Minas - Foto: Divulgação

NaTelinha: Após muitos anos como apresentadora, você retomou o trabalho como repórter. O que motivou essa mudança?

Isabela Scalabrini: Durante 20 anos, fui âncora do MG1 ao lado do jornalista Artur Almeida, meu grande amigo, que morreu em 2017. Foi um período muito produtivo e de muitas alegrias num telejornal local que era líder de audiência. Sem Artur, segui sozinha na bancada por mais dois anos. Era hora de mudar. A vida de um jornalista é feita de mudanças. Nunca um dia é igual ao outro. Imagine uma carreira de quatro décadas…

Entrei pra equipe da TV Globo, ainda no último ano de faculdade. Sou uma repórter de televisão. E nunca deixei de fazer reportagens na rua. Sou curiosa, inquieta, falante. Adoro o dia a dia agitado de um repórter. Pessoas e histórias mudaram a minha vida intensamente. Trabalho com muita paixão.

NT: Fale um pouco sobre sua trajetória.

Isabela Scalabrini: Nasci no Rio de Janeiro e fui repórter das editorias de Cidade e de Esportes por 18 anos. Viajei muito para a cobertura de competições internacionais como Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas. Fui apresentadora dos programas Esporte Espetacular e Globo Esporte. Deixei a cobertura esportiva em 1992 e fiquei até 1997 na editoria de cidade. Na bancada, fiz os plantões do Jornal Hoje, na década de 1990, também no Rio, e por dois anos, apresentei o Bom Dia Rio até me mudar para Belo Horizonte, em 1998.

Quando cheguei a BH os telejornais locais da hora do almoço ganharam um novo projeto, com mais meia hora. Foi quando assumi o MG1 ao lado do Artur Almeida. Então, em 2019, abri um novo ciclo, focada 100% na reportagem. E, na pandemia, vivi uma grande surpresa, até pra mim: gravei quase 300 entrevistas remotas em home office. Fiz 230 reportagens para os telejornais locais e de rede, como o Jornal Nacional, Bom Dia Brasil, Jornal Hoje. E fiz participações ao vivo de casa. Me adaptei aos desafios que a pandemia impôs a todos, em diferentes aspectos.

“Como pode ver, minha carreira sempre passou por muitas mudanças. Mas sempre na mesma empresa. Tenho muito orgulho de trabalhar na Globo, que considero minha segunda casa. Uma empresa que sempre me ofereceu todas as oportunidades e os melhores equipamentos para um trabalho bem feito.”

NT: Tem alguma preferência por ser repórter ou apresentadora?

Isabela Scalabrini: Muita gente me pergunta se eu tenho preferência por ser repórter ou apresentadora. Sou jornalista e não saberia escolher entre as duas atividades. Ter sido âncora do MG1 pra mim foi uma honra, porque atrás da bancada sempre está um profissional de credibilidade. Mas conhecer pessoas é uma das minhas alegrias. Adoro descobrir histórias de quem sonha e conquista, sofre e se recupera e ainda ajuda ao próximo. E que são exemplos pra mim.

“Faço minhas reportagens com a mesma empolgação de uma iniciante. Com o mesmo envolvimento com os entrevistados. Um repórter tem o privilégio e a responsabilidade de levar para as pessoas as informações sobre seus direitos e deveres.”

NT: Como foi seu início no jornalismo?

Isabela Scalabrini: Decidi ser jornalista porque gostava muito de escrever. Meu primeiro emprego foi como estagiária na Rádio Nacional, no Rio. Na própria faculdade, vi o anúncio de vagas para estágio na TV Globo. Me inscrevi e fui aprovada depois de muitas provas por escrito e conversas com profissionais da empresa. Foi como um vestibular. Depois de seis meses fui contratada como repórter da editoria de Esportes.

Garrincha e Isabela Scalabrini
Isabela Scalabrini aparece, no início da carreira, entrevistando Garrincha em vídeo postado recentemente - Foto: Reprodução/Instagram

NT: Sentia algum tipo de resistência ou preconceito por ser mulher nesta área? Isso mudou nas últimas décadas?

Isabela Scalabrini: Comecei como repórter nas competições de esporte amador. Vôlei, basquete, natação, atletismo. Acompanhei campeonatos mundiais, pan-americanos, sul-americanos e fui às Olimpíadas de Los Angeles (1984) e de Seul (1988). Mas, ao ser escalada para a Copa do México, em 1986, notei que havia pouquíssimas mulheres na cobertura do futebol. Até mesmo nas equipes de reportagem de outros países.

A TV Globo me colocou como pioneira na cobertura do futebol. Não havia nenhum preconceito por parte de jogadores, nem de treinadores. Pelo contrário. Eu era muito respeitada pelo meu trabalho. Mas o público estranhava a presença feminina, principalmente nas reportagens nos estádios. E a pergunta que eu mais ouvia era: 'Você entende de futebol?'.

“Era claramente um preconceito. Nunca deixei de fazer nenhuma reportagem por ser mulher. Talvez eu tenha aberto um caminho para as mulheres na reportagem esportiva.”

NT: Há tanto tempo em Minas Gerais, muitas pessoas devem se surpreender ao descobrir que você é carioca. Como ocorreu sua vinda para cá?

Isabela Scalabrini: Muita gente ainda se surpreende, sim. Minha mudança para Belo Horizonte, em 1998, foi motivada pela transferência do meu marido para a emissora em Minas. Não havia um período determinado. E lá se vão 24 anos. Ele já se aposentou e eu sigo na empresa onde comecei a trabalhar logo depois de me formar. Decidimos ficar aqui em Belo Horizonte.

Sou filha de mineiros. Minha mãe e meu pai nasceram na capital mineira. Os dois se mudaram para o Rio de Janeiro na década de 1950 e eu nasci em Copacabana. Minha mãe, Nancy, mora no Rio até hoje. Tem 95 anos e muitos fãs nas minhas redes sociais. Ela foi cantora da rádio Nacional, com a dupla Neyde e Nancy (minha tia faleceu no ano passado). E meu pai, Paulo Scalabrini, foi locutor de rádio durante muitos anos no Rio.

“Sou uma carioca que gosta de praia e uma mineira de coração que ama as montanhas. Tenho muitos parentes aqui em Minas.”

NT: Quais coberturas você destaca em sua carreira?

Isabela Scalabrini: Tive o privilégio de entrevistar pessoas comuns que foram minha inspiração na vida. E pessoas famosas que muita gente gostaria de ter conhecido. Eu entrevistei Diego Maradona, Ayrton Senna, Luciano Pavarotti, Tom Jobim, Kurt Cobain. Trabalhei por mais de 35 anos nos desfiles de carnaval no Sambódromo do Rio. Fui repórter no primeiro Rock in Rio, em 1985. Participei de coberturas importantes como Chacina da Candelária e Mensalão (fiz a primeira entrevista com Marcos Valério). Fiz também a mediação de debates políticos com muitos candidatos em Minas. E venci o desafio do trabalho de reportagem em home office.

Isabela Scalabrini e a Gabriela Scalabrini
Isabela Scalabrini ao lado da filha Gabriela Scalabrini, que também é jornalista - Foto: Reprodução/Instagram

NT: Hoje, você vê o jornalismo seguir a nova geração da sua família. Você troca dicas e experiências com a Gabriela?

Isabela Scalabrini: Tenho muito orgulho de ter uma filha jornalista. Eu e Gabriela trocamos muitas dicas e experiências. E ela me ajuda muito com sugestões de reportagens e conselhos pra vida! Minha filha é carioca, se formou em jornalismo em Belo Horizonte, trabalhou na Globo Rio e, atualmente, é editora de política na GloboNews, em Brasília, para onde se mudou depois de se casar com o jornalista Nilson Klava. E ainda tenho uma sobrinha jornalista também. Daniela Scalabrini, que é editora do site G1. São talentos da nova geração. É emocionante vê-los na mesma empresa que me acolheu com tanto respeito.

“Depois de 42 anos me sinto realizada! E este ano está intenso, tanto na vida profissional quanto na vida pessoal. Meus três filhos se casaram num intervalo de três meses. Uma benção de Deus. Mas haja coração!”

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