Desabafo

Em dia de recorde de mortos por Covid, JN critica naturalização de números

"Negar a realidade e minimizar esse pesadelo não ajudam a resolver o problema", disparou Alan Severiano


Jornal Nacional
Alan Severiano foi responsável pelo desabafo no JN. Foto: Reprodução/TV Globo
Por Diogo Cavalcante

Publicado em 03/03/2021 às 21:30,
atualizado em 03/03/2021 às 21:42

Nesta quarta-feira (3), o Brasil bateu o recorde na quantidade de mortes por Covid-19 registradas em 24 horas desde que a pandemia começou, há um ano: 1.840. Durante o Jornal Nacional, o repórter Alan Severiano, responsável por trazer os dados atualizados, fez um desabafo sobre a naturalização com que vem sendo tratadas essas mortes. Em comparativo, relembrou o acidente com o avião da Air France, de 2009: "É como se o Brasil tivesse, num único dia, oito acidentes como esse de avião".

"A gente torce muito para as coisas melhorarem, mas a situação piora a cada dia. Infelizmente, começamos com esse número recorde", iniciou Alan, informando que é como se mais de uma pessoa morresse a cada minuto por Covid no Brasil. "Depois de um ano, tem muita gente cansada da pandemia, de tantos números negativos, mas negar a realidade e minimizar esse pesadelo não ajudam a resolver o problema", prosseguiu.

Foi aí que ele introduziu o assunto do avião. O acidente com o voo 447, da Air France, aconteceu em 1º de junho de 2009. Ele fazia a rota Rio de Janeiro-Paris. 228 pessoas morreram na queda. "Hoje, foram 1.840 mortes por Covid. É como se o Brasil tivesse, num único dia, oito acidentes como esse de avião, com todos os passageiros e tripulantes mortos. Queda de avião gera uma comoção enorme, né, pela violência, pelo impacto, pela morte instantânea de tanta gente. Na pandemia, o que temos, no Brasil, todos os dias, são mortes e enterros silenciosos, distantes de parentes e amigos", apontou.

"Isso talvez não sensibilize algumas pessoas, né, que já se acostumaram com a pandemia. Mas essas mortes, de 1.840 brasileiros por dia, são igualmente trágicas. Principalmente se a gente imaginar que muitas poderiam ser evitadas", acrescentou. Após a apresentação de todos os dados do dia, Bonner evitou fazer mais comentários: "Vamos em frente, Alan Severiano. Vamos em frente".

Nas redes sociais, internautas concordaram com a abordagem. "O jornal tendo que explicar que gente morrendo é ruim", apontou @alcandenis. "O jornal nacional tendo que associar e fazer comparação das mortes por covid com queda de avião, pra ver se dá um impacto diferente pq pra muitos não passa mais de números. Desesperador", lamentou @Wesleyccrf.

Bonner desabafou sobre fake news, distorções e ataques ao jornalismo na pandemia

Se dessa vez Bonner evitou comentar, em janeiro ele também desabafou sobre a falta de noção sobre a pandemia, criticando quem distorce notícias ou espalha fake news, além de quem ataca jornalistas por cumprirem seu ofício. “Se nós fazemos isso todo dia (noticiar a pandemia), é porque nós estamos cumprindo um dever profissional. Nós, aqui, e todos os jornalistas do planeta terra. Nesse momento, infelizmente, além de dar as notícias, de trazer as informações corretas, nós estamos esgrimando com loucos, com irresponsáveis, com gente que é capaz de entrar num WhatsApp da vida e sair espalhando mentira a bel prazer”, comentou, na edição de 14 de janeiro.

“Mas (espalham) as mentiras mais absurdas, crendices. Tem gente que faz isso vestido de cargo público. Tem gente que faz isso sistematicamente”, explanou, em pé, diante do telão, antes de dar espaço para as últimas informações da pandemia naquele dia. “Mas a gente, aqui, nós, jornalistas profissionais, nós não vamos desistir. Porque esse é o nosso dever profissional. A gente está defendendo, aqui, (não só) a nossa profissão, mas a gente está defendendo aqui a sociedade. A nossa, aqui, no Brasil, e cada colega nosso, jornalista, em cada país desse planeta”, concluiu.

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