Os casos de racismo e assédio que geraram demissões na Globo
Jornalistas e atores se envolveram em polêmicas
Publicado em 24/11/2020 às 04:26
Nos últimos dois anos, a Globo tem sido rígida no combate ao assédio sexual e racismo, promovendo demissões de profissionais que são envolvidos neste tipo de situação, como ocorreu com William Waack e Marcius Melhem. Entretanto, a jornalista Ellen Ferreira deixou a afiliada da emissora em Roraima, Rede Amazônica, após denunciar o ex-diretor de jornalismo do canal, Edison Castro por abuso, seguindo o caminho inverso.
Desde que a TV e o cinema dos Estados Unidos adotaram o Movimento Me Too, muitas mulheres ao redor do mundo passaram a denunciar executivos que praticam crimes sexuais, morais e atos de discriminação. A Globo, assim como outros canais brasileiros, passaram a adotar métodos de punição para profissionais que se envolveram em polêmicas.
Confira:
William Waack
William Waack foi jornalista da Globo entre 1996 e 2017. Em 2005, assumiu a bancada do Jornal da Globo e permaneceu à frente do programa até ser afastado, após vazar um vídeo em que ele teria dito uma frase racista. Após um período de afastamento, Waack e Globo optaram pelo término do vínculo.
Na cena, Waack está em frente à Casa Branca, em Washington, Estados Unidos, onde fazia uma edição especial do JG, quando um carro começou a buzinar na rua, irritando o apresentador. “Tá buzinando por que, seu merda do cacete? Não vou nem falar, porque eu sei quem é”, disparou ele, para depois cochichar ao comentarista que estava do seu lado: “É preto. É coisa de preto!”.
Dois anos após ser demitido, negociou com a CNN Brasil e retornou para a televisão. Atualmente, o apresentador é responsável por comandar o Jornal da CNN. Ele chegou a comentar sobre racismo após a morte de George Floyd e irritou alguns internautas.
José Mayer
Após o fim da novela A Lei do Amor (2016-2017), José Mayer foi acusado de assédio sexual por uma figurinista que trabalhava na Globo. Não houve comprovação frente à acusação, mas a ex-profissional da emissora recebeu o apoio de diversas atrizes e resultou no afastamento do ator.
"Não, eu não fui amante de José Mayer. Declaro que não fiz acordo com nenhuma parte envolvida e muito menos recebi algum dinheiro. Não fui demitida da Rede Globo. O meu contrato, como o previsto, se encerrou com o final da novela ('A Lei do Amor')", disse Su Tonani ao jornal Folha de São Paulo.
O ator escreveu uma carta e pediu desculpas. “Eu errei. Errei no que diz, no que falei, e no que pensava. A atitude correta é pedir desculpas. Mas só isso não não basta. É preciso um reconhecimento público que faço agora”, afirmou Mayer em um dos trechos. Ele deixou o canal no ano passado.
Marcius Melhem
O comediante Marcius Melhem, que foi contratado durante 20 anos da Globo e deixou a emissora em agosto, foi denunciado por assédio moral e sexual por um grupo de mulheres com quem trabalhava. Representante das vítimas, a advogada criminalista Mayra Cotta revelou supostos detalhes do caso, afirmando que houve violência e insistência por parte do ex-diretor de humor da Globo, usando o poder do cargo. Pelo Twitter, Melhem negou as acusações, mas disse estar disposto a reconhecer seus erros e pedir desculpas.
"As vítimas e as testemunhas que eu represento depuseram no processo de compliance (setor que apura indisciplina com o intuito de cumprir normas legais da Globo). O processo foi encerrado e elas estavam sem saber muito bem como se organizar para que essa história tivesse um desfecho que reconhecesse tudo o que elas passaram e toda a gravidade do comportamento que o Marcius Melhem teve enquanto ele foi chefe", afirmou Mayra Cotta no último fim de semana ao jornal Folha de S.Paulo.
A advogada criminalista detalhou como o comediante teria agido com suas vítimas, usando de sua posição de diretor de humor da emissora para obrigá-las a se relacionar com ele. Segundo ela, o humorista agia com violência com as vítimas. "Houve um comportamento recorrente, de trancar mulheres em espaços e as tentar agarrar, contra a vontade delas. De insistir e ficar mandando mensagem inclusive de teor sexual para mulheres que ele decidia se iam ser escaladas ou não para trabalhar, se ia ter cena (no programa humorístico) ou não para elas. De prejudicar as carreiras de mulheres que o rejeitaram. De ficar obcecado, perseguindo mesmo", explicou.
"Ele isolava as atrizes, tinha o poder de não as deixar ir para outros lugares, fazer outras coisas. E criava um ambiente de trabalho tóxico. As pessoas se sentiam presas, sem conseguir se livrar daquilo. Ele usava situações de trabalho para as tentar agarrar à força, inclusive usando violência. Isso é bastante violento", completou.
Pelo Twitter, Marcius Melhem se defendeu e negou as acusações. Disse que está disposto a reconhecer seus erros e pedir desculpas a quem tenha magoado, mas garantiu que as denúncias são mentirosas. Ele também reforçou que chegou a se afastar da Globo para se dedicar à saúde da filha, e não fugir do caso.
"Sei que num caso desses, ainda mais no momento que vivemos, de tanto ódio, serei culpado até provar o contrário. Então quero que tudo seja colocado às claras, expor a minha inocência e os meus erros. Quero poder pedir desculpas e cobrar responsabilidades. Vou em busca da verdade", bradou.
Ellen Ferreira
A jornalista Ellen Ferreira - conhecida por ter feito parte do rodízio do Jornal Nacional em 2019 - foi demitida pela Rede Amazônica, afiliada da Globo em Roraima, e ela afirmou que a decisão da emissora ocorreu após ela denunciar o ex-diretor de Jornalismo do canal, Edison Castro, de ter cometido assédio sexual.
"Edison Castro é um psicopata que já havia passado pelas redações de Goiás, Maranhão e Tocantins. Homofóbico, racista, gordofóbico. Praticava assédio moral e sexual, deixou toda a equipe doente. Uma moça da TV Anhanguera [Goiás] chegou a tentar se matar por causa dele. Debochava de um repórter que era gay. Chamou o cabelo de uma repórter negra de moita feia", declarou Ellen para o jornalista Leo Dias, do portal Metrópoles.
Ela garantiu que foi humilhada e que ficou com muito medo. A jornalista ainda explicou que não recebeu apoio de outros chefes da afiliada e enviou um e-mail para Ali Kamel, diretor de Jornalismo da Globo, contando sua versão dos fatos. A Globo e a afiliada não se posicionaram sobre o assunto.