Pisando em ovos

Genro de Silvio Santos tenta mudar relação de Bolsonaro com TVs, mas presidente atrapalha

Fábio Faria virou uma ponta entre governo e emissoras, mas Bolsonaro atrapalha


Fábio Faria com seu genro, Silvio Santos, e o presidente Jair Bolsonaro
Fábio Faria, genro de Silvio Santos, vem tentando melhorar relação do governo com TVs - Foto: Divulgação

A nomeação de Fábio Faria para o cargo de Ministro das Comunicações parece ter sido um tiro certo da gestão de Jair Bolsonaro. Ao menos esta é a avaliação de pessoas ligadas às principais emissoras de TV do país, que perceberam uma mudança de postura no tratamento que o governo federal vem dispensando aos veículos desde que o genro de Silvio Santos assumiu o cargo. A avaliação, no entanto, é que o ex-deputado federal precisa controlar o próprio presidente.

O NaTelinha apurou que o clima nos bastidores de quem cobre política na televisão mudou completamente desde que Fábio Faria se tornou ministro. Repórteres e setoristas garantem que o tom agressivo das entrevistas e também no momento de se apurar reportagens mudou muito. Informações que antes eram inacessíveis e reuniões quase impossíveis de serem agendadas agora voltaram à normalidade do que sempre ocorreu na relação entre imprensa e governo federal antes da atual gestão assumir.

Um repórter comentou que até os apoiadores de Bolsonaro, que costumam ficar nas proximidades do Planalto, adotam menos ataques do que se via anteriormente graças a diálogos abertos entre membros do Ministério de Fábio Faria e dos fãs do presidente. O clima somente fica mais quente quando o próprio Jair Bolsonaro toma decisões unilaterais, como a da última terça-feira (07), ao conceder entrevista para apenas três emissoras confirmando que está com coronavírus.

A discreta atuação do ministro também tem sido motivo de elogios de jornalistas, que concordam ter sido um acerto a nomeação do genro de Silvio Santos. Desde que assumiu a pasta, o marido de Patrícia Abravanel já se reuniu com diversas emissoras, inclusive funcionários da Globo, para tentar acalmar a animosidade entre a imprensa e o governo. 

Genro de Silvio Santos elogiado

Genro de Silvio Santos tenta mudar relação de Bolsonaro com TVs, mas presidente atrapalha

Neste primeiro momento, o que se vê é que o genro de Silvio Santos é alvo apenas de elogios por parte das emissoras de TV. Ele teria sido o responsável por costurar conversas com a Band, na ocasião do afastamento de Lacombe do Aqui na Band por causa do viés bolsonarista do programa, e conseguiu evitar que a alta cúpula do governo incentivasse perseguição contra o canal. A forma como o ministro administrou a crise com um canal considerado parceiro do presidente foi visto com bons olhos no Planalto, mas também entre os diretores de TV.

Fontes ouvidas pela reportagem afirmaram que Fábio Faria vem tentando salvar a relação entre o governo e a Globo. Nos bastidores fala-se que o ministro já sabe que não existe ponte entre Bolsonaro e a emissora por conta de tudo que já foi dito, mas ele espera que o canal dos Marinho possa manter um tratamento saudável com a Instituição da Administração, que é diferente da pessoa. É isso que ele vem tentando mostrar para a cúpula global e já houve sinalização positiva. 

Genro de Silvio Santos e a Secom

Genro de Silvio Santos tenta mudar relação de Bolsonaro com TVs, mas presidente atrapalha

Ainda de acordo com fontes, um dos principais problemas na relação entre o Ministro das Comunicações e as emissoras é a Secom. O chefe da Secretaria de Comunicação, Fábio Wajngarten, é muito mal avaliado pela direção de jornalismo de todas as emissoras de TV do país. Para repórteres e profissionais que atuam em política, o secretário não vinha abrindo canais de diálogos e lançava mão de ataques.

A política de Fábio Faria foi deixar Wajngarten desgastado e como parte do grupo ideológico de Bolsonaro, que até utiliza as redes sociais, mas que não mantém relação diária com o poder. O ministro assumiu para si a construção de uma ponte entre o governo e todos os canais de televisão ao perceber que o chefe da Secom não tinha aprovação nem de diretores de TV e muito menos de repórteres, que convivem todos os dias com o Planalto.

A avaliação interna, tanto de canais de TV e dos técnicos que lidam com a imprensa todos os dias, é que Fábio Faria tem muito mais tato e que pode conter incêndios desnecessários contra Bolsonaro na relação governamental com veículos de comunicação. 

Genro de Silvio Santos e Bolsonaro

Toda a estratégia traçada pela equipe de Fábio Faria na tentativa de esfriar os ânimos entre imprensa e Bolsonaro passa pelo comportamento do presidente. Ao menos é o que garantem diretores de canais em conversas reservadas com seus funcionários. Para eles, de nada adianta o comportamento do ministro se a sinalização do governante é pelo caminho oposto.

E o comportamento de Bolsonaro em dar exclusividade para a CNN Brasil, Record e TV Brasil a respeito do resultado positivo de seu exame de coronavírus não pegou bem nos bastidores. A sensação transmitida foi de que o presidente segue provocando canais vistos como inimigos e isso gerou desconforto, inclusive no Ministério comandado por Fábio Faria.

Nesta quarta-feira (08), após a publicação da reportagem, o ministro concedeu uma entrevista À Rádio Bandeirantes sobre o comportamento do presidente e garantiu que Bolsonaro está tranquilo. "Qualquer coisa que o presidente fala, sempre vão procurar algo para criticar. O presidente está calmo, estará sereno, está na dele, está em um momento de pacificação", explicou.

Procurado, o Ministério das Comunicações não se manifestou.

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