Dublagem

Em crise, dubladores usam a voz para arrecadar dinheiro durante pandemia

Campanha "Alô, Quem Fala?" busca financiar setor afetado pelo coronavírus


Os dubladores Diego Lima, Angélica Santos e Gabriel Ebling
Os dubladores Diego Lima, Angélica Santos e Gabriel Ebling, participantes da campanha "Alô, Quem Fala?" (Foto: Montagem/Reprodução/Instagram)

Já pensou bater um papo por telefone com a Chiquinha e o Pumba ou fazer uma live com a Mônica e o Cebolinha? Falar com seu personagem favorito, sonho de muitas crianças (e adultos também), pode se tornar realidade em uma causa especial e necessária. Dubladores se uniram e estão usando a voz para arrecadar dinheiro ao setor, um dos mais afetados pela pandemia do novo coronavírus, no projeto “Alô, Quem Fala?”.

Lançada na última segunda-feira (29), Dia do Dublador, a campanha criou um financiamento coletivo para ajudar artistas e técnicos prejudicados pela crise provocada pela Covid-19, já que muitos profissionais tiveram o auxílio emergencial do governo negado ou ainda não receberam resposta.

Desde março, parte dos estúdios fechou em respeito às normas de segurança, e alguns profissionais estão trabalhando no esquema home office, porém muitos não podem comprar os equipamentos necessários para dublar em casa. O projeto “Alô, Quem Fala?” tem como missão arrecadar doações para formar um fundo de auxílio emergencial a artistas e técnicos que ficaram sem renda em função da pandemia.

O fã de dublagem pode contribuir a partir de R$ 10, sem pedir nada em troca, porém os donos das vozes mais famosas do cinema e da TV prepararam recompensas aos doadores, como salas de bate-papo, telefonemas e lives exclusivas.

O NaTelinha entrevistou Flora Paulita, uma das organizadoras da campanha. Com trabalhos para Disney e Netflix no currículo, a dubladora e diretora de dublagem atenta para a crise econômica enfrentada pela classe. O projeto de arrecadação é uma das alternativas criadas no Comitê de Gerenciamento de Soluções, formado pelos profissionais da área e que discute de questões técnicas a temas como representatividade e assédio na dublagem.

“O Gabriel Ebling, membro do Comitê, surgiu com a ideia do 'Alô, Quem Fala?’, e ainda ficamos alguns meses discutindo e estudando formas de fazer o projeto, até que de fato conseguíssemos soltá-lo na internet. O setor foi muito afetado e ainda temos pessoas passando muita dificuldade. Também não podemos esquecer que as produções lá fora ficaram todas paradas e, mesmo que agora a gente esteja com um bom volume de trabalho —por causa das produções que estavam atrasadas nos meses em que ficamos parados—, ainda vamos sentir o efeito de tudo isso”, alerta.

No total, 24 artistas participam da campanha, que preparou mais de 70 recompensas aos doadores. Entre os dubladores, estão: Mauro Ramos (Pumba e Shrek), Marli Bortoletto (Mônica), Angélica Santos (Cebolinha), Cecília Lemes (Chiquinha) e Fábio Lucindo (Ash, de Pokémon). Segundo Flora, é uma forma de retribuir o carinho dos fãs e reforçar ao público a importância da valorização da dublagem.

“Vamos lançar ainda essa semana uma nova modalidade, onde o fã poderá receber um áudio com o nome dele e uma mensagem do seu dublador favorito. Vira e mexe recebo mensagens de gente pedindo para se declarar a namorado ou namorada com a voz de alguma personagem ou pedir desculpas aos pais com a voz de alguém que eles assistem muito na televisão! Agradeço muito o carinho dos fãs de dublagem, mas queria que as pessoas em geral valorizassem mais o trabalho da classe artística! Porque, como qualquer outro, exige esforços, estudos, investimentos e muita ralação!”, afirma.

Em crise, dubladores usam a voz para arrecadar dinheiro durante pandemia

A dubladora e diretora de dublagem Flora Paulita (Foto: Reprodução/Instagram/florapaulita)

Na primeira semana, o projeto arrecadou 11% do valor calculado para salvar os profissionais do setor. A divulgação ganhou força com a ajuda de famosos como a cantora Gloria Groove, que, além de fazer sucesso na música, dubla Aladdin e outros personagens de sucesso na TV e no cinema (mas como Daniel Garcia, seu nome de batismo). A organização espera juntar R$ 96 mil até agosto.

“Vamos cuidar primeiro dos casos mais graves e depois os que ainda conseguem se segurar um pouco. Nossa primeira meta é emergencial mesmo! Para ajudar pessoas que estão sem nenhuma renda, nenhum auxílio, não podem pagar nenhuma conta nem ao menos comprar comida! Depois de atendermos esse grupo, vamos ajudar o pessoal do grupo de risco que não consegue se equipar para trabalhar de casa. Depois, vamos dar um auxílio financeiro para cerca de 20 famílias e ainda poderemos disponibilizar atendimentos de fonoaudiólogos, pscicólogos e até cursos de aprimoramento para todos do setor, tudo isso por quatro meses. Claro, se superarmos essa meta poderemos ampliar toda essa ajuda”, diz Flora.

Os dubladores ainda não sabem quando poderão retomar as atividades nos estúdios (embora alguns permaneçam abertos contrariando as recomendações da OMS). Flora Paulita explica por que voltar durante a quarentena e antes da produção de remédios e vacinas contra o coronavírus pode pôr em risco a saúde dos profissionais.

"Por ser uma doença que ainda não foi totalmente estudada e compreendida, não podemos garantir protocolos de segurança. A maioria dos estudos aponta que ambientes fechados e com ar-condicionado são perigosos, e isso é o suficiente para termos dúvidas quanto à segurança no trabalho presencial. Sem contar que a gente divide microfone e, consequentemente, perdigotos! Por outro lado, outras empresas têm emprestado equipamentos, dado auxílio técnico a todos os dubladores, além de garantir uma forma dos técnicos trabalharem de casa e, quando não é possível, arcam com os custos para que eles não precisem pegar transporte público para se locomover até o estúdio. Aproveitamos o momento de grande tensão e insegurança para todos os componentes do mercado e escolhemos depositar toda nossa energia e focar nesse projeto que tem muito potencial e que tem tido resultados incríveis”, projeta.

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