Datena por trás das câmeras da Band: Polêmico e eterno candidato
Jornalista tem uma vida movimentada e política fora do trabalho
Publicado em 05/07/2020 às 09:27
Quem acompanha o Brasil Urgente já tem Datena como uma espécie de primo distante tamanha a facilidade com que o apresentador se coloca como parte integrante da família de seus telespectadores. Os elogios são constantes e mantém o jornalista por quase duas décadas à frente de jornais que apostam no chamado mundo cão. Mas por trás das câmeras a maior estrela da Band mantém um estilo que não é tão diferente, com diversos ensaios à entrar na vida pública, além de ser ex-petista e não fugir de uma boa briga.
Datena já tentou se afastar do universo policial por mais de uma vez. Chegou a ter programas de entretenimento, o último aos domingos na Band, mas que nunca decolaram e ele teve de abortar os planos de se aposentar do jornalismo.
"Pensei que minha carreira na televisão tinha virado prisão perpétua. Que nunca mais ia sair desse programa. Achei que ia terminar falando da última bala. Não só eu, mas muita gente imagina que a última notícia seria o Datenão falando: 'Vixe, acabou'. Mas a família Saad resolveu me conceder alvará de soltura e quem vai ficar no meu lugar é meu filho", afirmou ele em 2018 ao anunciar seu programa dominical que durou pouco.
O jornalismo do mundo cão parece fazer parte do sangue de Datena. Já são 22 anos neste tipo de formato com diversos programas e emissoras em seu currículo, a tal ponto de um de seus filhos virar uma espécie de herdeiro da coroa policialesca, Joel Datena. Quando em 2012, o rapaz assumiu o comando do Brasil Urgente em Goiás, a Band entrevistou Matilde, a esposa do apresentador da Band e pai de Joel.
"Estou muito orgulhosa, até me emocionei no primeiro dia. Quando os dois dividiram a tela para conversar sobre uma das notícias, até pensei que Joel ia soltar um 'pai' no meio do comentário", afirmou brincando.
Datena: eterno candidato
Uma suposta candidatura a diversos cargos eletivos virou uma das grandes lendas urbanas da TV brasileira nesta década. Desde 2010, quando se cogitou pela primeira vez que ele poderia emergir para uma possível tentativa no cargo de Deputado Estadual, a cada dois anos ele é cogitado para alguma função, o que nunca se concretiza.
Embora ele tenha participado até de pesquisas eleitorais nas eleições de 2016 e aparecia na liderança para a prefeitura da cidade de São Paulo, antes de João Dória decolar, o apresentador da Band desistiu no meio do caminho e sempre justificando que não teria estômago para a vida pública.
Mas em 2018 ele foi além, se afastou do Brasil Urgente e apareceu até em cerimônia dos Democratas para ser anunciado como candidato ao Senado. Desistiu doze dias depois e retornou ao programa. "Conversamos muito e chegamos a um consenso de que eu posso ajudar o Brasil", havia dito ele em entrevista à Folha quando lançou a candiatura.
Na desistência a explicação foi menos sagaz. "Não estou preparado", justificou abrindo mão. Ao voltar ao Brasil Urgente, ele deu mais detalhes para seu público. Achei que não era a hora de participar dessa política do jeito que ela está aí. “A política é mais complexa e tem mais problemas do que a gente pensa. Muito mais”, encerrou o ex-líder das pesquisas.
Agora, em 2020 Datena viu novamente seu nome cogitado para ser candidato à prefeitura de São Paulo e, novamente chegou a aparecer nas primeiras colocações em pesquisas feitas. Na semana passada, ao participar do Brasil Urgente, ele anunciou a desistência:"Eu não quis. Convidado eu fui, mas eu não quis. Eu preferi ficar na minha. As manchetes [mais cedo] colocaram 'Datena desiste da prefeitura'. Não é que eu desisti da prefeitura, eu nem entrei. Nem fui candidato, só dá pra desistir de uma coisa que você começou".
Datena: o ex-petista
Quem vê Datena como um dos principais apoiadores do presidente Jair Bolsonaro durante a campanha, a ponto de ser um dos poucos jornalistas a conseguir entrevista com o candidato depois da tentativa de assassinato, não acredita que o apresentador da Band já foi petista de carteirinha. Literalmente.
Ele foi filiado ao Partido dos Trabalhadores entre os anos de 1992 e 2015. Ele entrou na sigla de Lula quando ainda morava em Ribeirão Preto e, portanto, esteve como membro do partido durante os dois mandatos de Lula e as duas eleições de Dilma, se afastando justamente no auge da crise política, que culminou com o impeachment da ex-presidenta.
Em 2010, o jornalista falou na Folha sobre o voto ao ex-presidente Lula e até elogiou o concorrente, José Serra, mas comparou o petista a um dos grandes símbolos do catolicismo no Brasil. "O Serra estaria mais preparado, mas a minha ligação com o Lula é um negócio muito legal. Acho que ele é um divisor de águas. Virou um Padre Cícero".
Em 2015, pediu a desfiliação do PT pelo telefone e a sigla reagiu com desdém. "Não fará falta, pois não tem o perfil do partido; ele tem outro pensamento, outra conduta, nunca frequentou as reuniões partidárias", declarou o presidente do PT em Ribeirão Preto. Rapidamente migrou para o Progressistas, onde cogitou ser candidato a prefeito de SP no ano seguinte.
Se Datena e PT viveram uma história de amor, que terminou em divórcio em 2015, a partir daí a vida partidária do jornalista foi conturbada. Ficou apenas dois anos no Progressistas e, em 2017 foi para o PRP, onde ficou por apenas um ano. Nas eleições de 2018 se juntou ao Democratas e atualmente está no MDB.
Datena: polêmico
Quem vê Datena apresentando o Brasil Urgente tem a sensação de que o homem de 63 anos vai ter uma síncope no ar a qualquer momento. Ele é assim mesmo e gosta de ter o sangue quente, a tal ponto de já ter afirmado categoricamente que não mais entrevistaria o presidente Jair Bolsonaro depois de uma frase dita na famigerada reunião ministerial e que dava a entender que a Band pedia dinheiro ao Governo.
As brigas são tão simbólicas que ele já teve atrito com um colega de emissora por duas vezes, Milton Neves. Em 2003, quando eram concorrentes, já que o jornalista esportivo havia assumido o comando do Cidade Alerta, os dois tiveram um problema tão grave que virou caso de polícia. Num evento, Datena cumprimentou todos os presentes, menos Neves e ainda o ameaçou. "Se você me chamar de novo de cachorro louco no ar, eu acabo com você, te arrebento, te destruo, te quebro", teria dito levando Milton a registrar um Boletim de Ocorrência.
Em 2014, depois de terem feito as pazes, invadiu o programa de rádio de Milton Neves aos gritos. Mas a briga mais emblemática aconteceu com Gilberto Barros em plena churrascaria. O apresentador do Brasil Urgente e que é pai de cinco filhos estava com a esposa e um dos herdeiros quando foi abordado por Leão. Mas como havia recebido apenas nota 5 do colega num programa de TV, Datena não quis saber de papo e os dois começaram a desentender.
Datena na profissão
Datena iniciou a carreira numa Rádio de Ribeirão Preto e rapidamente migrou para a TV chegando a trabalhar na Globo local. Acabou demitido da emissora por ter subido em um palanque para apoiar Lula nas eleições de 1989. Migrou para a Band a convite de Luciano do Valle e nos anos 90 ficou na área esportiva do canal, como repórter e locutor.
Em 1996 foi convidado e topou o desafio de ingressar na equipe esportiva da Record, mas foi na emissora que mudou de time. Assumiu o comando do programa policial Cidade Alerta e permanece no formato policialesco até hoje. Esteve no jornal da Record até 2002, quando migrou para a RedeTV!, assumindo o Repórter Cidadão, a trajetória durou meses e voltou para o Cidade Alerta no mesmo ano.
Em 2003 voltou para a Band a fim de apresentar o Brasil Urgente, onde ficou diretamente até 2011, numa transferência surpreendente para a Record, onde assumiria novamente o Cidade Alerta. A experiência novamente durou pouco tempo e ele retornou à Band, onde permanece no programa policial até o presente.
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