Memória da TV

Confisco da poupança: Como Plano Collor quase destruiu a TV

Ex-presidente pediu desculpas pela intervenção econômica


O ex-presidente Fernando Collor
O ex-presidente Fernando Collor de Mello

Após 30 anos, o ex-presidente Fernando Collor pediu desculpas pelo bloqueio da poupança, principal medida para tentar recuperar a economia do Brasil. O Plano Collor, instituído em março de 1990, limitou saques a 50 mil cruzeiros (valor equivalente a R$ 18 mil hoje) e piorou a condição financeira de famílias e empresas. Com as emissoras de TV, não foi diferente.

A Globo precisou rever as comemorações de seus 25 anos e projetou uma "programação de contingência” em caso de recessão econômica. Para pagar os salários dos funcionários, que correspondiam a 75% dos custos, a emissora precisou recorrer a um pool de bancos.

O Plano Collor também interferiu na Globo artisticamente. A novela Rainha da Sucata tinha 30 capítulos escritos e 18 gravados, mas Silvio de Abreu refez os trabalhos para incluir o confisco da poupança na trama contemporânea. "Achei que seria uma Idiotice não falar da principal mudança no país", disse o novelista ao Jornal do Brasil, em 2 de abril daquele ano.

Confisco da poupança: Como Plano Collor quase destruiu a TV

O SBT, que estava no vermelho desde sua inauguração, em 1981, suspendeu estreias e paralisou todas as produções próprias da programação infantil, que na época representava mais da metade da grade da emissora, com Bozo, Mara Maravilha, Sergio Mallandro, Mariane e Simony. Silvio Santos também cancelou a realização do Miss Brasil.

Em entrevista publicada pelo jornal Folha de S.Paulo em 23 de março de 1990, Guilherme Stoliar, sobrinho de Silvio e então vice-presidente do SBT, afirmou que a contenção de gastos atingiu até o programa do patrão e visava preservar o setor de jornalismo e evitar dispensas —o que não ocorreu, pois 238 funcionários foram demitidos.

"Nós temos um volume de programas muito grande e ficamos sem cruzeiros para pagar as despesas mínimas deles. Por isso vamos ter de sacrificar um pouquinho a qualidade”, afirmou Stoliar. O governador de São Paulo, Orestes Quércia, socorreu o SBT autorizando banco estadual a adiantar dinheiro para Silvio.

A Band, também prejudicada pelo confisco da poupança, demitiu 108 funcionários e cancelou o humorístico Bronco, de Ronald Golias, que logo depois migrou para o elenco de A Praça É Nossa, do SBT. O tradicional Clube do Bolinha foi exibido até junho, saiu do ar por causa da Copa do Mundo e só voltou com produção terceirizada.

Na Manchete, o Plano Collor atrapalhou a venda de patrocínios da novela Pantanal, que estreou com duas das quatro cotas vendidas, e cancelou o programa Dançando Conforme a Música depois de exibir apenas uma edição. Um dos apresentadores, Luiz Carlos Miéle, se queixou em entrevista ao jornal O Dia de 22 de abril de 1990.

"Eu fiquei protelando a assinatura do contrato com a Manchete por mais seis meses porque havia recebido uma proposta do SBT e estava em dúvida. Mas veio o Plano Collor e a Manchete, para reduzir custos, desistiu do contrato. A TVS idem. E eu fiquei com as calças na mão”, reclamou Miéle, que no ano seguinte apresentaria o Cocktail na rede de Silvio Santos.

Principal cobertura televisiva daquele ano, a Copa do Mundo salvou o faturamento das emissoras, que reduziram custos ao máximo. A Globo cortou 50% do orçamento e um terço da equipe. O SBT só enviou um narrador para a Itália e a Manchete cancelou a excursão ao lado da seleção brasileira pela Europa.

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