Problemas de direitos autorais e mania nacional: A incrível história do Show do Milhão
Show do Milhão estreou em novembro de 1999 e assombrou a Globo
Publicado em 09/11/2019 às 08:44
Nesta semana, fez 20 anos que o Show do Milhão foi ao ar pela primeira vez no SBT, com o título de Jogo do Milhão e que colocou Silvio Santos no ar diariamente em uma distribuição de prêmios que teve polêmicas em seus direitos autorais, virou mania nacional e assustou a Globo.
As chamadas do então Jogo do Milhão começaram a pipocar no SBT poucas semanas antes do programa estrear. E eram bastante enigmáticas. Elas se limitavam a dizer que "os 22 dias estão chegando", em cenas que mais se assemelhavam a um filme ou série de terror, com direito a uma criatura fantasmagórica e bomba nuclear. Tudo para causar.
O game que mexeu com o país estreou dia 7 de novembro de 1999 com a proposta de ser exibido por 22 dias. A ideia inicial era ter quatro temporadas por ano de 22 dias, sendo exibido diariamente, o que daria uma vida útil ao programa de cinco anos, no mínimo, segundo estimado pelo então diretor artístico da emissora na época, Eduardo Lafon.
Revista do SBT
Na época que foi ao ar, Terra Nostra era um fenômeno na Globo. E Silvio Santos sabia que bater de frente com a novela era suicídio.
Como fez em outras oportunidades ao longo da história, fez o que se esperava: colocou seu Show do Milhão assim que terminava a novela da Globo, por volta das 22h, diariamente.
Para participar do show, o telespectador tinha que comprar a Revista do SBT por R$ 3, preencher e enviar ao SBT. Se fosse sorteada, era lhe dada a oportunidade de responder às perguntas feitas por Silvio Santos e se tornar um milionário.
Plágio ou inspiração?
Não é segredo pra ninguém que o programa apresentado pelo dono do SBT foi inspirado no americano Who Whants to Be a Millionaire, que hoje, aliás, é um dos quadros do Caldeirão do Huck.
A atração foi o game-show número 1 dos Estados Unidos por muitos anos, e o empresário Jacques Glaz reivindicou a coautoria do Show do Milhão.
Ele processou o SBT alegando que criou o Show do Milhão em uma adaptação, segundo ele, que foi a pedido do próprio Silvio, que disse ser amigo há mais de 20 anos, de acordo com a revista Época.
Glaz afirmou à publicação que combinou com Silvio Santos de receber 10% do faturamento do programa. Esse percentual incluiria as cotas de patrocínio e o valor da venda de produtos vinculados ao programa, como a Revista SBT e o provedor de internet Sol.
A estimativa é que o SBT tenha faturado cerca de R$ 6 milhões com os 22 programas exibidos em novembro de 1999, sem contar com o lucro gerado pelos anunciantes. Na época, a emissora cobrava R$ 118 mil por inserções comerciais de 30 segundos. A primeira temporada do programa distribuiu R$ 2 milhões.
O processo de Jacques Glaz (iniciado em 2000) contra o SBT se arrastou a tal ponto que foi arquivado provisoriamente em janeiro de 2018, sendo que o empresário faleceu no ano de 2015.
Segundo Glaz, ainda numa entrevista à Época em 2000, ele teria gastado US$ 60 mil na adaptação e se declarou também o criador das formas de inscrição para o game, do software usado no Show do Milhão e até do CD-ROM de perguntas e respostas que fizeram tanto sucesso.
Promessa aos anunciantes
Silvio Santos sabia exatamente a arma que tinha em mãos. Não por acaso, prometeu aos anunciantes um mínimo de 20 pontos no Ibope, o que era equivalente a 1,6 milhão de espectadores na Grande São Paulo na época.
Caso não atingisse a marca, Silvio devolveria o dinheiro, de acordo com a diferença entre a audiência prevista e o alcançado.
A primeira temporada, há 20 anos, teve uma média geral de 22 pontos e picos superiores a 30, tendo causado fortes enxaquecas à programas como o Casseta & Planeta, Globo Repórter e até a imbatível Tela Quente.
Por que o nome mudou?
Inicialmente intitulado Jogo do Milhão, o nome mudou para Show do Milhão no ano 2000. O motivo? A marca pertencia a um empresário argentino.
O novo nome, aliás, foi bem recebido pelo público e ficou eternizado na memória do telespectador, e é considerado como um dos melhores programas que Silvio Santos já comandou.
Desgaste da fórmula
O Show do Milhão estreou sua segunda temporada em 12 de março de 2000, com a missão de levar ao ar 22 programas esporadicamente durante o ano, com um intervalo de tempo razoável. A intenção era não desgastar o formato e não cansar o público. A história, no entanto, foi diferente.
Após outros 22 programas exibidos em março de 2000, retornou à grade em 28 de maio do mesmo ano. Foi a última vez que o Show do Milhão seguiu o planejado.
Em setembro de 2000, o Show do Milhão se tornou um programa fixo na grade e visava combater o futebol da Globo às quartas-feiras. Às terças e sextas, a Globo perdia todas as semanas para o SBT que exibia filmes inéditas da Disney e Warner. Silvio queria minar a linha de shows do canal carioca.
Nessa estreia fixa na grade de programação do SBT, o Show do Milhão, além de ser transmitido às quartas-feiras, também ia ao ar às quintas e aos domingos. Durante a semana, somente na segunda-feira com o Programa Hebe o SBT não era páreo para a Globo com sua Tela Quente.
Numa entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Eduardo Lafon justificou a entrada do game na grade de forma fixa. "Como está fazendo muito sucesso, Silvio Santos resolveu manter a atração na programação. Até ele mudar de ideia", brincou.
O tempo mostrou que Lafon estava certo. A audiência do programa começou a cair de forma vertiginosa a partir do segundo semestre de 2001 e a não atingir mais o que Silvio prometia: 20 pontos.
Ainda assim, o game mantinha uma alta audiência para os padrões do SBT.
Para manter o Show do Milhão aceso, Silvio teve ideia de fazer especiais com políticos e artistas, o que deu uma certa sobrevida, mas as três exibições semanais começaram a pesar.
Arrisca tudo e patrocinadores
Sem a mesma força dos anos de 1999, 2000 e 2001, em 2002 o Show do Milhão ganhou o patrocínio da Nestlé.
Na época, a empresa comemorava 80 anos no Brasil e investiu cerca de R$ 60 milhão em publicidade no programa, tendo distribuído ainda 140 casas ao longo de quatro meses.
No final da ação, todos os participantes sorteados concorreram ao prêmio máximo do programa, de R$ 1 milhão.
Ao longo de sua história, somente duas pessoas foram capazes de responder a pergunta de arrisca tudo. O primeiro, o professor Jair, errou ao ser questionado quantas letras têm na bandeira do Brasil (Ordem e Progresso) em 2002, e no ano seguinte, o aposentado Sidney acertou em que dia nasceu e foi registrado o então presidente Lula.
A crise do Show do Milhão
De férias no final de 2002, o Show do Milhão tirou férias um pouco mais longas para voltar com tudo em 2003, já bastante desgastado.
A audiência despencou, as revistas ficavam encalhadas nas bancas e surgiu o patrocínio da Tim para tentar dar um novo fôlego ao game.
O último suspiro aconteceu entre o final de 2003 e início de 2004, com o patrocínio do banco Bradesco. A atração saiu do ar dando 6 pontos no Ibope.
A volta frustrante em 2009
Há 10 anos, Silvio Santos resolveu relançar o Show do Milhão para promover a Vende-se Um Véu de Noiva, adaptada pela mulher Íris Abravanel.
Em cada capítulo da novela adaptada por Íris Aravanel, aparecia uma letra. Elas deveriam ser anotadas e enviadas ao SBT, sendo sorteadas no Programa Silvio Santos.
Ao invés das 16 perguntas tradicionais, a versão de 2009 teve um aumento das questões. Eram 24 para faturar o milhão. Saiu do ar com índices em torno dos 6 pontos, ficando atrás até mesmo da Record e Band. Durou dois meses.
Em 2017, o Show do Milhão chegou a ter chamadas alardeando sua volta, só que com crianças e sob apresentação de Patrícia Abravanel. Não ocorreu.