Falta de dinheiro, prioridades e acusações: Os detalhes da briga entre os Saad na Band
Publicado em 07/02/2019 às 14:00
Chegando à tona do grande público nesta semana, a briga entre os irmãos Saad está no seu auge, mas ela vem de alguns anos atrás, principalmente desde 2015, quando o Grupo Bandeirantes começou a ter prejuízos e fechar de forma assustadoramente no vermelho.
Segundo apurou a reportagem do NaTelinha nos últimos dias, em 2016 e 2017, a Band teve aproximadamente uma queda de 28% em seu faturamento. Houve também um déficit recorde nos últimos 15 anos. A emissora, no entanto, não divulga balanço há três.
Johnny Saad tem dito que houve uma queda nas receitas vindas de órgãos públicos, como governos estaduais e federais, que tiveram que enxugar seus gastos com publicidade por causa da crise econômica que assolou o Brasil nos últimos anos.
No Rio de Janeiro, por exemplo, o governo carioca reduziu em quase 50%, segundo informações, verbas destinadas à Band em 2017, em comparação aos anos anteriores, o que prejudicou muito no fechamento das contas na filial local e um ganho importante na cabeça de rede.
O resultado na época, ao chegar aos conselheiros, assustou principalmente Márcia de Barros Saad e Maria Leonor Saad, além de seu filho, José Saad Duailibi, ex-diretor geral da Band em Minas Gerais, e considerado o mais entendido de negócios entre o clã.
José é o maior crítico da política de programação e negócios que se tornou a Band. Segundo pessoas próximas ouvidas pela reportagem, ele criticou as decisões da emissora para a programação de 2018, que privilegiou o entretenimento feminino, em detrimento a bandeiras da marca, como jornalismo e esportes.
Um exemplo recente usado foi a saída de Paloma Tocci, jornalista que se criou na casa e apresentou o "Jornal da Band" até a semana passada. A Band propôs reduzir seus vencimentos de forma extremamente drástica. Paloma até aceitara ganhar menos, mas não de forma tão grande. Ela também queria fazer reportagens e ajudar na linha editorial, o que a emissora negou. Acabou saindo.
Até mesmo a saída do "Pânico", findado em 2017, é alvo de críticas até hoje. A atração era a principal audiência nacional da Band e o segundo maior faturamento, mesmo sendo caro de produzir - perdia apenas para o "Jornal da Band", eterno campeão de vendas. Sua saída matou de vez os domingos da emissora: se antes o "Pânico" marcava entre 4 e 5 pontos, bons números para os seus padrões, agora a faixa pena para dar 1,5 ponto - além de perder de goleada para o "Encrenca", da RedeTV!.
Mas o principal alvo de críticas era a falta de investimentos em conteúdo multimídia. Nos bastidores, as críticas são de que o grupo está parado 20 anos no tempo, sendo ineficiente como produtor e mais ainda como vendedor de publicidade, já que não tem produtos à altura da tradição de outrora.
Uma prova da insatisfação dos resultados comerciais foi a saída de Nilson Moyses, diretor comercial nacional até o fim do ano passado. Nilson deixou a emissora para assumir um cargo em uma empresa de mídia, porque não conseguia entregar resultados satisfatórios para seus superiores. Ao receber a proposta, aceitou de pronto.
Foi neste cenário quase caótico que o processo judicial ocorreu. Mas Márcia e Leonor, acionistas junto com o irmão, esqueceram que assinaram um documento em 2014 dando poderes a Johnny e o comando do Grupo Bandeirantes até 2026. É nele que o executivo se baseia para continuar comandando legalmente a Band. Outros diretores do canal dizem que a posição é muito favorável e que é bem difícil que ele seja afastado.
Nesta quinta-feira (7), haverá uma reunião entre a família na Rua Radiantes, no bairro do Morumbi, onde fica a sede da cabeça de rede. O lado opositor fez sua lista de exigência: quer a demissão em massa de executivos que ganham acima de R$ 100 mil e não dão retorno mínimo para o caixa da emissora em seus setores. O primeiro da lista é André Aguera, vice-presidente executivo, considerado o principal culpado pelo péssimo desempenho da emissora em 2018, conforme também relatado pelo jornalista Flávio Ricco, do UOL.
No entanto, as chances de acordo no momento são pequenas, visto que Johnny Saad transferiu para um setor privado, a Câmara do Comércio Brasil-Canadá, o processo que foi movido por Márcia de Barros Saad e Maria Leonor Saad, para retirá-lo do comando do Grupo. Três conselheiros da Câmara é que irão julgar a questão.
O processo no Tribunal de Justiça de São Paulo praticamente está encerrado com a decisão tomada na última segunda (4). A Justiça paulista negou o afastamento pedido pelas irmãs, como noticiou o NaTelinha com exclusividade.
O processo arbitral privado já havia sido determinado pela TJ-SP na decisão da segunda, e ele foi protocolado a pedido de Johnny Saad. Agora, devem ser colhidas provas e a nova audiência será marcada, ainda sem previsão de data. Com isso, a briga entre eles na Justiça deixa de ser pública, já que o processo no TJ-SP não estava em segredo de Justiça. Até o julgamento, o clima será absolutamente tenso na emissora e as chances de acordo entra as partes são mínimas.
Para pessoas ouvidas pela reportagem, esta é a mais grave crise já sofrida pelo Grupo Bandeirantes em seus mais de 80 anos de história. O fato é que a caixa preta da Band está sendo divulgada como jamais antes, e ainda tem muitas coisas para se tornarem públicas.
Procurada para comentar as questões, a assessoria da Band afirma que não fala sobre o movimento que ocorre entre seus acionistas.