Entrevista exclusiva

Atriz de Justiça 2 já pensou em fazer justiça com as próprias mãos: "Queria que sentisse o que eu estava sentindo"

Nascida na Bahia, Jéssica Marques sonha em contracenar com Lázaro Ramos e Wagner Moura


Jéssica Marques em foto posada
Jéssica Marques está em Justiça 2 - foto: Viny Soares

Uma das estreias de maior sucesso no Globoplay neste ano, Justiça 2 é também uma das séries mais assistidas na plataforma de streaming nesse primeiro semestre de 2024.

Escrita por Manuela Dias, a autora retorna com a sequência após hiato de 8 anos, com novas histórias e novos personagens, mas mantendo o mote sobre a verdade por trás do sistema carcerário no Brasil.

Paolla Oliveira revela que fez teste para Justiça 2 na Globo

Justiça 2: Papel de Júlia Lemmertz foi o mais difícil da sua carreira: "Muitas camadas"

Para esta segunda temporada, a trama se passa em Ceilândia, periferia de Brasília, e conta com 28 episódios, todos já disponíveis para os assinantes do streaming da Globo.

Em conversa exclusiva com o NaTelinha, Jéssica Marques, que na produção dá vida à Larissa, namorada do motoboy Balthazar, interpretado por Juan Paivaconfessou já ter perdido trabalhos por causa da cor de sua pele e que teve vontade de fazer "justiça com as próprias mãos" depois de perder a mãe, há três anos, por negligência médica.

Nascida na Bahia, A atriz de 24 anos falou, também, da vontade de contracenar com outros atores do estado brasileiro e qual papel da dramaturgia baiana ela gostaria de interpretar, entre outras coisas. 

Confira a entrevista exclusiva com Jéssica Marques, de Justiça 2

Atriz de Justiça 2 já pensou em fazer justiça com as próprias mãos: \"Queria que sentisse o que eu estava sentindo\"

NaTelinha - Justiça 2 já é a série mais vista do Globoplay. Qual o segredo para o sucesso da produção?

Jéssica Marques - A forma como a Manuela Dias coloca as histórias para se cruzarem e traz essa variedade de protagonismo nos atores, sem duvidas, auxilia muito nesse sucesso que é Justiça 2. Além de contar histórias do dia a dia, que representam uma comunidade como o caso do Balthazar, por exemplo. Tantos jovens pretos e periféricos que vivem aquela realidade da cena todos os dias. O sucesso é falar do povo para o povo, histórias que podem ser reais, que nos comove ou nos estressa [risos]. Mas são importantes!

NaTelinha - A série debate temas muito fortes e importantes. Das histórias abordadas nessa sequência qual a que mais te tocou e por quê?

Jéssica Marques - Seria muito clichê falar que é a história do Baltha? [risos]. Sem dúvidas, a história do Balthazar me sensibiliza porque eu tenho uma família toda preta, um irmão preto, um pai preto e sempre fiquei com receio quando eles saiam na rua à noite, por exemplo. Minha mãe ficava muito preocupada de eles receberem um enquadro, confundirem eles com algum bandido só por conta da sua cor de pele e, até hoje, eu me preocupo. Então, a história do Baltha é forte demais pra mim. E a da Geiza também, feita de forma feroz e lindamente pela Belize Pombal. Uma mãe leoa, que faz de tudo por seus filhos.

NaTelinha - Você já viveu ou conhece quem tenha passado por alguns dos dramas abordados?

Já conheci pessoas que foram vítimas de estupro pelos ente familiares igual a Carolina feita pela Alice Wegmann. E também foi de parentes próximos. É louco pensar que não podemos confiar na nossa própria família. Muitos casos de colegas que falavam que seus tios abusavam delas, ou primos. E não sabiam como reagir, achavam que a culpa era dela. E não conseguiam buscar ajuda. E a Alice Wegmann foi brilhante com as cenas. Foi tão doloroso assistir e imaginar que isso é a realidade de muitas meninas por aí.

Jéssica Marques

Nanda Costa revela o que seria capaz de aflorar o seu lado animal

NaTelinha - Qual a sua opinião sobre justiça com as próprias mãos?

Jéssica Marques - Minha mãe faleceu vai fazer 3 anos. Ela morreu, principalmente, por negligência médica. Uma médica da UPA, internou minha mãe e liberou no outro dia. Minha mãe estava com 35 kg, ela só piorava e a médica tirou ela do internamento que era necessário pra gente descobrir o que ela tinha e buscar um tratamento. Houve um tempo que eu quis fazer justiça pela morte da minha mãe. Eu queria encontrar essa médica, eu queria falar com ela, gritar, berrar, eu queria que ela sentisse o que eu tava sentindo, toda a dor, toda angústia.

Mas percebi que não valeria a pena, não era isso que minha mãe gostaria pra mim. Então, fazer justiça com as próprias mãos nos leva para um lugar de vingança e sempre acaba mal. Apesar da justiça das leis serem fracas e ineficazes em muitos processos, fazer justiça com as próprias mãos só vai deixar cicatrizes incuráveis em quem cometeu o ato, pois o outro já vai tá morto (a).

Atriz de Justiça 2 já pensou em fazer justiça com as próprias mãos: \"Queria que sentisse o que eu estava sentindo\"

NaTelinha -  Como surgiu o convite para interpretar a Larissa? E como foi a parceria com o Juan Paiva?

Jéssica Marques - Fiz testes a convite da Marcela Bergamo e Ingrid Amaral, produtoras incríveis de elenco que me ajudaram muito. Sou eternamente grata! Fiz um selftape em Salvador, primeiro para a personagem Sandra feita pela Gi Fernandes. Depois, eu fiz outro selftape para a Larissa e no final um teste presencial nos Estúdios Globo pra testar a química com o Juan Paiva e com o Breno da Matta. No dia do teste presencial eu tava muito nervosa, mas o Juan [Paiva] foi super parceiro e me ajudou, me deixou confortável em todo momento. No teste, no set, sempre foi um parceiro incrível.

NaTelinha - Você disse que o protagonismo negro no audiovisual ainda tem muito o que evoluir. Como tem sido na sua carreira? Já passou por alguma experiência desagradável, não conseguiu um papel, por ser uma atriz negra?

Ainda tem que evoluir, pois precisamos de uma equidade em relação a atores brancos e atores negros/pardos/indígenas/orientais etc., ainda, não temos essa equidade nos papéis, estamos caminhando pra isso. Já passei por isso, principalmente na área da publicidade. Em muitos castings, eles especificam que querem atrizes negras, e é até normal essa mudança repentina porque tudo pode acontecer, mas o que gera esse desconforto maior é quando te editam e te aprovam e, depois, do nada, somem o contato. E quando você vê o produto final eles optaram por atrizes brancas ou de pele clara para aquele papel.

Jéssica Marques

NaTelinha -  A Bahia é um dos estados brasileiros com grandes artistas e escritores. Tem algum ator, ou atores, com quem você sonha contracenar?

Jéssica Marques - A Bahia é o berço de cultura, da arte. Eu amo ser baiana, amo minha terra, queria realmente ter oportunidade de crescimento na carreira por lá, mas, infelizmente, o campo é muito fechado. Meu sonho é contracenar com Lázaro Ramos, Wagner Moura, Valdineia Soriano, Edna Carvalho, pessoas incríveis e super talentosas que eu admirava desde pequena, assistindo “O Pai Ó” com minha mãe e meu irmão. Eu amava, na época era DVD, tudo que saía de “Ó Pai ó" minha mãe comprava o DVD e a gente assistia mil vezes. [Risos]

NaTelinha - E existe algum papel da literatura baiana que você gostaria de interpretar no teatro, na TV ou no cinema?

Jéssica Marques - Acho que, com certeza, queria fazer a Gabriela, do Jorge Amado. Penso por se tratar de uma obra com ambiência em território baiano seria importante e significativo uma versão da Gabriela pretinha assim como eu.

Mais Notícias

Enviar notícia por e-mail


Compartilhe com um amigo


Reportar erro


Descreva o problema encontrado