Opinião

Alma Gêmea é melodrama elevado à enésima potência; por isso, irresistível

Novela reafirma sua força popular quase 20 anos depois, com extrema dramaticidade e questionamentos essenciais do ser humano


Priscila Fantin e Eduardo Moscovis como Serena e Rafael em Alma Gêmea
Serena (Priscila Fantin) e Rafael (Eduardo Moscovis) em Alma Gêmea: história de amor que supera a morte ainda encanta o público - Foto: Divulgação/Globo
Por Walter Felix

Publicado em 04/06/2024 às 05:27,
atualizado em 04/06/2024 às 13:17

Quem sintoniza a TV na Globo de segunda a sexta-feira por volta das 17h é rapidamente fisgado pelo que está no ar. O atual cartaz do Vale a Pena Ver de Novo é um dos sucessos de audiência da faixa das 18h da emissora: Alma Gêmea, exibida originalmente entre 2005 e 2006, e que comprova sua força popular quase 20 anos depois.

A novela de Walcyr Carrasco com direção de Jorge Fernando (1955-2019) é um melodrama em sua essência, assumido e exacerbado. Por isso, se comunica com o público tão facilmente. Quem assiste a um só capítulo, ou mesmo a um trecho da trama, já entende toda a história e é convidado a acompanhá-la até o fim.

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É difícil, quase impossível, ficar alheio a histórias que são universais. Uma narrativa compra facilmente o espectador quando vai fundo nos sentimentos humanos, explorando situações de extrema dramaticidade ou questionamentos essenciais, como a busca por um amor ou os mistérios que envolvem a vida e a morte.

A abordagem do espiritismo não afasta o telespectador que não crê em reencarnação. Ao contrário, a novela se baseia em dúvidas comuns a todos nós, e assim nos conquista, para sedimentar a história de amor entre Serena (Priscila Fantin) e Rafael (Eduardo Moscovis) e a luta de Cristina (Flávia Alessandra, ótima como vilã enlouquecida) para separá-los.

Tramas paralelas atenuam dramalhão principal

O dramalhão principal é atenuado com personagens adoráveis à volta. Um exemplo é a divertida Olívia (Drica Moraes, em mais um tipo carismático), que tem uma bonita jornada: não aceita as traições do marido, se separa, deixa de ser dondoca e vai à luta, enfrentando preconceito por sua condição de mulher separada.

Outras tramas paralelas são ligeiras esquetes de humor dentro da novela. Destaque para os núcleos da caipira Mirna (Fernanda Souza, grande talento que faz falta em novelas) com seu irmão Crispim (Emílio Orciollo Netto); e o da pensão, encabeçado por Divina (Neusa Maria Faro), Osvaldo (Fulvio Stefanini) e Ofélia (Nicette Bruno).

Alma Gêmea é melodrama elevado à enésima potência; por isso, irresistível

Carrasco é um dos autores que melhor se comunica com a audiência – não à toa, tem poucos títulos malsucedidos no currículo. Em criações como Alma Gêmea, ele mescla histórias fortes com uma estrutura pueril e quase simplória: uma mocinha muito boa e ingênua e uma vilã tão má que é capaz de firmar um pacto com o próprio diabo.

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O texto, por vezes, não deixa espaço para muita complexidade ou sutilezas. Tudo é expositivo, reiterado, colocado às claras, para a fácil assimilação do público. Poderia ser um grave defeito, mas é justamente isso, um folhetim em estado bruto, que o autor propõe. Basta aceitar esse estilo para rapidamente embarcar na história.

É com essa capacidade de comunicação que Alma Gêmea cativa seu público de ontem e hoje. Em sua nova reprise, a novela se consolida como um clássico da TV, mostrando ser capaz de atrair atenções, o que se reflete na grande audiência, além de despertar emoções em qualquer época.

Assista à abertura de Alma Gêmea:

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