Nos anos 90, novelas da Globo quase colapsaram sistema telefônico de Cuba
Folhetins produzidos pela Globo fazem sucesso na ilha desde os anos 80
Publicado em 14/05/2022 às 11:39
Entretenimento favorito do brasileiro, as novelas da Globo também sempre fizeram sucesso no exterior. Dentre os países que conheciam as obras da emissora carioca estava Cuba, que depois do imenso sucesso que A Escrava Isaura (1976) fez no país nos anos 80, a ilha então comandada por Fidel Castro (1926-2016) queria mais, e importou outras dezenas de histórias posteriormente, o que quase ajudou a colapsar o sistema telefônico local.
Em 21 de dezembro de 1991, Cuba começava a viver sua maior crise econômica depois da dissolução da antiga União Soviética, que fornecia combustível para a ilha por um preço bastante camarada e ajudava na movimentação de caminhões e cortadeiras, responsáveis pela colheita de 85% da cana cubana. O consumo anual do país cairia de 13 milhões para 3 milhões de toneladas de petróleo. O açúcar, que era vendido para a URSS por um preço acima de mercado, também dançou.
Tudo isso fez com que rapidamente os cubanos sentissem na pele a crise que se instauraria. A primeira medida que o governo tomou para conter a hemorragia foi baixar um racionamento de eletricidade severo, que deixava a população 16 horas por dia sem energia.
Para evitar que todo o país passasse dois terços do dia sem luz, cada cidade foi divididas em zonas que eram submetidas a um rodízio: ao cortar a luz de uma região, a outra automaticamente era religada. Passada as primeiras semanas, as autoridades perceberam um fenômeno esquisito: todas as noites, o sistema telefônico do país ameaçava entrar em colapso em consequência de um inexplicável aumento de demanda.
Novelas da Globo paravam Cuba
Os quase colapsos à noite eram sempre no mesmo horário, e as chamadas vinham invariavelmente de zonas que a energia não estava cortada. Demorou, mas os técnicos descobriram a razão do problema: era justamente na hora que começavam a transmissão de novelas da Globo, como relata o livro A Ilha, do autor Fernando Morais, que fez periódicas visitas ao país socialista.
De acordo com ele, as pessoas que tinham luz em casa telefonavam para amigos ou parentes cujos bairros estivessem sob racionamento, ligavam o televisor e colocavam o bocal no telefone no alto-falante do aparelho, permitindo que os sem luz pudessem ao menos ouvir os diálogos do capítulo que estava no ar.
Cuba viu moda crescer após novela global
Além disso, anos depois, 1995, foi ao ar a novela Vale Tudo (1988) na ilha. Fernando Morais diz que bastou meia hora de caminhada pelas ruas da capital Havana para se deparar com muitos restaurantes particulares conhecidos como "paladares". O nome foi tirado do folhetim brasileiro, no qual a personagem Raquel, vivida por Regina Duarte, resolve ganhar a vida montando seu próprio negócio, vendendo sanduíches na praia e depois abre uma portinha para servir marmitas em domicílio e depois faz uma empresa especializada em fornecer refeições aéreas, batizadas na trama como Paladar.
Logo depois, dezenas de cubanos instalaram restaurantes na própria casa, sempre com o nome de 'paladar". Falando em Vale Tudo, aliás, a trama esteve cotada para substituir O Clone (2001-2002) no Vale a Pena Ver de Novo a partir da próxima segunda-feira (16), na Globo. No entanto, optou-se por A Favorita (2008), grande sucesso de Emanuel Carneiro que tem o protagonismo de Patrícia Pillar e Claudia Raia.