Fred Nicácio opina sobre mudança de votação no BBB 24 e responde se toparia "nova chance"
Ex-BBB afirma que resultado da última edição, que teve maioria preta, é reflexo do Brasil: "País racista"
Publicado em 15/12/2023 às 05:47
No BBB 23, ninguém ficou indiferente a Fred Nicácio. O médico e influenciador digital conquistou fãs e haters na última edição do reality show da Globo. Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, ele opina sobre as mudanças no sistema de votação para o BBB 24 – possivelmente uma consequência dos rumos que desagradaram parte do público neste ano.
Para Fred Nicácio, que agora também atua como apresentador e repórter, o resultado do BBB 23 foi um reflexo do Brasil. “Porque é o Brasil que vota, e o Brasil é um país racista”, diz. Ele frisa que, em certa altura do jogo, pessoas pretas eram a maioria na casa. Desses, só Aline Wirley chegou à final. A vencedora foi Amanda Meirelles, que é branca.
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O resultado frustrou uma parcela da audiência, que questionou a pouca participação da campeã ao longo do jogo. No BBB 24, a votação será a média do “voto de torcida”, que pode ser repetido várias vezes, e o “voto único”, em que será preciso informar o CPF. “O BBB 23 chancelou essa possibilidade de readaptação de votos para poder torná-los mais realistas”, opina.
Para além das decisões do público, Nicácio enfrentou o preconceito dentro do confinamento. “O termo e o tema ‘racismo religioso’ nunca havia sido levantado na TV aberta antes”, destaca o ex-BBB, que denunciou na Justiça os comentários de que foi vítima. Ele cita ainda que, nesta semana, um caso em São Paulo teve a primeira condenação do referido crime.
“Eu não tenho pretensão nenhuma de ser unanimidade”, resume o único participante do BBB a ser eliminado três vezes – e “repescado” duas – na mesma edição. Se o doutor toparia entrar novamente na disputa? “‘Se rolasse o convite…?’, mas não rolou, não é?”, desconversa ele, antes de soltar a gargalhada que lhe é característica.
Leia a íntegra da entrevista com Fred Nicácio
NaTelinha: Agora que 2023 está chegando ao fim, que balanço você faz da experiência no BBB? Como sua participação no programa impactou sua vida?
Fred Nicácio: Pois é, o ano está chegando ao fim, e sempre rola aquela retrospectiva… O balanço é superpositivo. O Big Brother me trouxe a expansibilidade do meu trabalho, das minhas vertentes, das minhas facetas. Muitas pessoas não sabiam que eu também apresentava, que eu também fazia reportagens, para além das bandeiras que eu sempre levo comigo, porque são inerentes a mim. Tem tantas outras coisas que eu faço. O pós-Big Brother impactou a minha vida de uma maneira muito positiva, me permitindo alçar e alcançar muito mais pessoas com aquilo que eu sei e gosto de fazer.
NaTelinha: Você conquistou fãs, mas também alguns haters. O público não ficou indiferente à sua participação. Era o que você queria?
Fred Nicácio: Sim, muito fãs, as “fredelícias”, os “nicacers”, os “nicacetes” (risos). Vários! Mas todos se resumem mais no grupo de “fredelícias”, que era uma base de fãs que eu tinha desde antes do Big Brother, antes até do Queer Eye Brasil [reality show da Fox Life em que foi um dos profissionais que transformavam a vida dos participantes].
“Nós somos um povo democrático, então tudo bem as pessoas não gostarem do que eu fale e do que eu faça, não se sentirem representadas por mim. Tudo certo! Eu não tenho a pretensão nenhuma de ser unanimidade.”
Fred Nicácio
O que eu queria era conseguir alcançar, com a minha mensagem, as pessoas que iriam se identificar e trazer mesmo uma mudança no imaginário coletivo brasileiro, e eu acho que consegui, sim.
NaTelinha: No BBB 23, você jogou luz sobre temas sérios, como racismo religioso. Na sua opinião, o reality show pode ser um espaço para discutir questões tão importantes?
Fred Nicácio: Ninguém vai para um programa como o BBB pensando em ser agredido, ainda mais agressões tão sérias e estruturais como o racismo. O termo e o tema “racismo religioso” nunca havia sido levantado na TV aberta antes, ainda mais num programa como o Big Brother, que é o maior reality show do mundo. Que todo mundo vê, em que todos as bolhas são estouradas.
Foi muito importante trazer o tema, porque eu vivi racismo religioso lá dentro. Esta semana, foi deferido a primeira condenação por racismo religioso, em um caso que roda desde 2019. Foi uma agressão feita em Mongaguá, no litoral de São Paulo.
“A minha participação, ao trazer isso para a luz e ao conhecimento da massa, traz argumentação, traz reações, traz leis, traz justiça sendo aplicada. Acho que abri uma porta que não vai ser mais fechada mais.”
Fred Nicácio
NaTelinha: Para o BBB 24, foram anunciadas algumas mudanças no sistema de votação. Nas redes sociais, muitos atribuem isso ao fato de o resultado do BBB 23 ter desagradado boa parte do público. Acredita que a sua edição foi determinante para essa alteração?
Fred Nicácio: Não posso dizer por todo o público, mas, pelo que a gente ouve falar, pelas próprias mídias, é que muita gente não entendeu o resultado. Mas eu acho que o resultado é um reflexo do Brasil mesmo. Porque é o Brasil que vota, e o Brasil é um país racista.
Essa foi uma edição em que o BBB, pela primeira vez, teve metade de pessoas pretas, e em algum momento as pessoas pretas eram a maioria da casa. Como que, quando eu falei que queria um pódio todo preto, fomos sendo eliminados um a um? Todos os pretos da casa. Isso quer dizer alguma coisa.
Para além disso, existe um público muito específico. O público que quer ouvir sobre racismo religioso, cultura, periferia, educação, cotas, sobre mudar realmente a estrutura social do país, geralmente está no corre, está trabalhando, vai dormir meia-noite para acordar às seis. Eles não têm tempo hábil de ficar o dia inteiro no telefone votando, como a maioria das pessoas que são votantes têm, adolescentes, com outra realidade de vida.
“O BBB 23 chancelou também essa possibilidade de readaptação de votos para poder torná-los mais realistas.”
Fred Nicácio
NaTelinha: Com quais participantes do BBB 23 você ainda mantém contato?
Fred Nicácio: Com todos que andavam comigo lá dentro. A Domi [Domitila Barros] é minha irmã, amiga e parceira. A gente fala que combinou em outro plano de se encontrar aqui. Tanto que, recentemente, lançamos com a marca de biojoias dela uma coleção chamada Ubuntu, assinada por mim, que está lindíssima. Isso mostra como a gente é parceiro para além do reality. Fora a Sarinha [Sarah Aline], a Marvvila, a Tina [Calamba] e o Biel [Gabriel Santana], todos que sempre estiveram ali comigo.
NaTelinha: Um de seus colegas de BBB, Cezar Black está em A Fazenda e tem dividido opiniões. Está acompanhando? O que acha da participação dele no programa?
Fred Nicácio: Pois é, fiquei sabendo que ele entrou, mas não estou acompanhando. Nem sabia que ele estava dividindo opiniões… Realmente, é um reality que eu não acompanho. Na verdade, eu não acompanhava nem o Big Brother Brasil (risos). Eu sempre comentava sobre os acontecimentos que tangiam às pautas raciais ou LGBTs, recortes do programa. Não sou de acompanhar muito, não, mas espero que ele esteja bem.
NaTelinha: Qual dica você daria para os participantes do BBB 24?
Fred Nicácio: Façam terapia! Pré, durante e pós. Durante o programa, tem disponível a psicóloga em alguns momentos específicos, que a produção vai pontuando. Acho que o melhor conselho que eu poderia dar é: fazer a terapia pré-programa e se preparar para qualquer tipo de situação que possa vir da exposição. E, quando sair do programa, continuar.
NaTelinha: E se rolasse um convite para estar na próxima edição, você aceitaria?
Fred Nicácio: “Se rolasse o convite…”? Mas não rolou, não é? (risos)
NaTelinha: Sua vida íntima foi bastante exposta, e o relacionamento aberto virou assunto durante sua participação.
Fred Nicácio: Sim, a minha vida foi bastante exposta, mas isso foi uma escolha nossa. Nós estamos juntos há nove e temos uma relação aberta há cinco. Isso não foi um problema para a gente, mas para as pessoas que se chocaram um pouco. Como somos muito reais, pé no chão e verdadeiros, sabíamos que isso ia gerar polêmica, mas preferimos viver da maneira como escolhemos viver, sem ser pautados pelas expectativas dos outros.
NaTelinha: E como está o casamento hoje?
Fred Nicácio: Ma-ra-vi-lho-so! (risos) Eu sou apaixonado, eu amo o Fábio [Gelonese], e ele me ama muito, e isso basta! É muito bom ter um amor recíproco, que te acolhe, te entende. A gente fala muito isso um para o outro. Quando estamos juntos, parece que estamos sozinhos, mas em boa companhia. Esse amor recíproco é uma raridade. A gente entende o valor do que a gente tem. É muito bom ser casado com ele.
NaTelinha: Conte sobre os trabalhos em que você está envolvido atualmente e os planos para 2024.
Fred Nicácio: Além de cheio de esperança e de novos projetos, para a TV e para o meu canal no Instagram, tenho projetos antigos que vão continuar, como o Fala Comigo, Doutor, que é um dos quadros mais acessados, em que eu comunico medicina sem “mediquês”. Vou focar também nas minhas vertentes como apresentador, comunicador virtual e palestrante de diversidade e inclusão para empresas. O plano para 2024 é expandir, aumentar e explorar novas áreas que ainda precisam ser exploradas.
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